Sob a figura de políticos como Flávio Dino (PCdoB), a política da frente ampla vem sendo apresentada a todo o país como a fórmula mágica para que a esquerda retome sua participação no regime político. Contudo, nessa semana, a frente ampla, que não passa de uma política verdadeiramente concebida e estimulada pela burguesia, foi ardentemente defendida por um elemento que não tem nada a ver com a esquerda: o presidente da Câmara dos Deputados, o golpista Rodrigo Maia.
Em entrevista concebida por Maia à Globo News na última quarta-feira (5), o presidente da Câmara demonstrou seu interesse em compor um bloco de oposição ao governo Bolsonaro:
Eu acho melhor nome do centro é a unificação do centro. Esse é o melhor nome. Se ninguém tiver capacidade de unificar o centro, significa que o centro estará fora do segundo turno. Isso serve pro Doria, pro Luciano Huck, pro Ciro Gomes, serve para todos que estão nesse campo aqui de centro-esquerda até centro-direita, no meu ponto de vista. Se não unificar isso aqui, vai dar certamente Bolsonaro de um lado e o candidato do Lula do outro.
Pela fala de Maia, fica claro que a frente ampla não é uma frente encabeçada pelos setores democráticos da sociedade, que querem reunir forças para enfrentar a extrema-direita. É, na verdade, uma frente organizada por setores desmoralizados da burguesia que, em meio à falência da política neoliberal, foram substituídos pela extrema-direita e que estão dispostos a voltar ao poder para aplicar a mesma política econômica do governo Bolsonaro. João Doria, Luciano Huck, Ciro Gomes, nem nenhum outro político burguês tem condições, no entanto, de reassumir sua posição no regime político por meio de seu próprio esforço — a população já teve experiência suficiente com seus governos desastrosos. Por isso, a política desses setores é justamente a de se aliar às organizações que possuem influência no movimento de massas.
Derrotar o governo Bolsonaro para trazer de volta um governo aos moldes do governo Temer ou do governo Fernando Henrique Cardoso não é nenhum avanço para os trabalhadores, mas sim garantir a sustentação de um regime de exploração por parte da burguesia golpista brasileira e pró-imperialista. Nesse sentido, a luta contra o governo Bolsonaro — que é a luta não só contra o terror fascista, mas contra a política neoliberal — deve passar, obrigatoriamente, por um enfrentamento com toda a burguesia. E é justamente por isso que Rodrigo Maia teme uma candidatura centrada em torno da figura do ex-presidente Lula: derrubar o governo Bolsonaro por meio de um movimento liderado pelos trabalhadores poderá levar a um choque decisivo entre a população e os vigaristas que vêm saqueando o país ao longo dos últimos séculos.
Se Rodrigo Maia, membro do partido da ditadura militar de 1964-1985, presidente da Câmara do regime golpista e articulador da reforma da Previdência, considera que o melhor caminho é uma candidatura de centro, que evite a polarização política, é necessário seguir a orientação exatamente oposta: é preciso organizar um movimento independente da burguesia, que mobilize os trabalhadores para pôr o regime político abaixo. Fora Bolsonaro e todos os golpistas!