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Frente ampla

Por que a esquerda que se finge de revolucionária apoia Boulos?

Intelectuais e agrupamentos pequeno-burgueses estão atendendo ao chamado da Folha de S.Paulo em torno da candidatura do PSOL em São Paulo

Nesta semana, o recém-registrado Unidade Popular (UP), derivado do Partido Comunista Revolucionário (PCR), tornou-se mais um agrupamento a ingressar na frente ampla pela candidatura de Guilherme Boulos e Luiza Erundina.  Junto com a UP, somam-se o Partido Comunista Brasileiro (PCB), O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e intelectuais da classe média, como Caetano Veloso, que vem sendo apresentado pela imprensa burguesa como uma espécie de nova referência stalinista.

O apoio da UP a Boulos não é novidade, pois o partido já havia apoiado o coordenador do MTST em 2018. O que chama a atenção é que, ao mesmo tempo em que Boulos vai revelando-se um representante da política reacionária da “frente ampla”, a UP segue apresentando o candidato do PSOL como um atalho para a revolução.

Analisemos alguns pontos da resolução da convenção eleitoral da UP em São Paulo, que referendou o apoio a Boulos:

“É preciso vencer o medo, a intimidação e a máquina de propagação de mentiras montada com o único objetivo de enriquecer uma minoria à custa da vida e da exploração de milhões de brasileiros. Frente a esse cenário, a Unidade Popular assume seu papel de ocupar as ruas e organizar a indignação e a luta popular, enfrentando todas as dificuldades impostas, com fé e esperança no futuro da nossa gente”.

Se o objetivo da UP é mobilizar os trabalhadores frente ao governo Bolsonaro, a candidatura de Guilherme Boulos contraria seus interesses. Guilherme Boulos, destacadamente apoiado pela Folha de S.Paulo, liquidou o movimento de torcedores pelo Fora Bolsonaro por meio da política da “frente ampla”. O uso do azul e amarelo nas manifestações — cores do PSDB —, os acordos com a polícia e João Doria e a falta de uma política séria voltada para a mobilização foram fundamentais para causar uma dispersão no movimento em São Paulo, repercutindo em todo o Brasil.

“Trata-se de enfrentar e derrotar um governo fascista, formado por banqueiros e generais burocratas, submisso ao capital financeiro e contrário a todo o interesse nacional. É uma luta que se trava no terreno eleitoral, mas também, e principalmente, no novo período de luta social que se abre e tende a se agravar no futuro próximo”.

A análise de que, para derrotar a ofensiva fascista, é preciso travar uma contra a burguesia de conjunto é correta. O que deve ser questionado, no entanto, é: o que apoiar a candidatura de Guilherme Boulos irá contribuir no sentido de enfrentar a burguesia? Já vimos que a candidatura de Boulos não visa a mobilização, mas sim a um acordo com o regime político golpista. Junto a isso, podemos acrescentar que, na medida em que Boulos vai acreditando que sua candidatura é viável, vai procurando aproximar-se cada vez mais da direita. Sua participação em eventos e manifestos com vigaristas como Fernando Henrique Cardoso, os elogios da Folha de S.Paulo e da Revista Veja, a reunião entre o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e Ciro Gomes, são demonstrações de que Boulos não quer romper com o regime, mas sim, integrar-se a ele.

A propaganda em torno de uma “revolução solidária” é outra demonstração de que a chapa Boulos-Erundina está ancorada na demagogia barata com os setores mais despolitizados da esquerda. Boulos não defende qualquer revolução, mas sim vender a ideia de uma revolução como meio de ser eleito para um cargo público. Revolução sem a mobilização dos trabalhadores e por meio do prestígio junto a setores golpistas não existe.

Se a defesa de Guilherme Boulos já revela uma total falta de sintonia com a realidade, a análise da UP sobre Luiza Erundina é um verdadeiro delírio:

“Erundina reafirma a tradição dos que enfrentaram os representantes da ditadura militar no início da década de 1980, construindo uma administração municipal que combateu os principais inimigos do povo paulistano”.

A contribuição de Luiz Erundina para a administração pública foi um desastre total. Enquanto prefeita, Erundina, entre tantos outros “feitos”, reprimiu duramente a mobilização grevista dos trabalhadores da CMTC e permitiu a privatização da empresa. Não bastasse isso, Erundina rompeu com o PT para apoiar Itamar Franco e foi parar no PSB, um partido burguês que não tem absolutamente nada de esquerda. No PSB, Erundina chegou a encabeçar uma chapa tendo Michel Temer como vice. Trata-se, portanto, de uma figura bastante direitista, bem mais à direita que setores do PT, como no caso da ala lulista.

A questão do PT, inclusive, aparece de maneira bastante curiosa na resolução da UP. Por um lado, o partido critica a política reformista e de colaboração de classes do PT. Por outro, afirma a necessidade de formar uma “frente fascista”:

“Os treze anos de governo do PT deixaram claros todos os limites da propostas de conciliação com os especuladores e monopólios, sejam elas socialdemocratas ou nacional-desenvolvimentistas. É necessário atacar de maneira profunda aqueles que se beneficiam da riqueza nacional, tornando o Brasil um do países mais desiguais do mundo. (…) Acreditamos também que a formação dessa frente é uma passo necessário para uma maior unidade contra a ascensão das ideias e práticas fascistas, racistas, xenófobas e machistas que está em curso em nosso país. (…) É preciso responder a isso com uma frente antifascista”.

Que características teria essa frente antifascista da UP? Seria uma frente de luta, que tem como objetivo reunir todas as organizações da esquerda para a ação, ou seria apenas um mote para eleger alguma figura? Basta analisar a política da UP para as eleições municipais para termos a resposta.

Em São Paulo, a UP não vai lançar candidato próprio para apoiar o reformista e demagogo Guilherme Boulos. O pretexto seria de que Boulos teria mais chance de ganhar as eleições, que é um pretexto absurdo, pois ele não tem popularidade alguma. Ao mesmo tempo, em Recife, a UP não irá apoiar a candidata da esquerda que tem melhores condições de vencer o pleito, e que nem mesmo a imprensa burguesa consegue ocultar: Marília Arraes. A que se deve essa diferença?

Para a UP, o PCB e demais agrupamentos pequeno-burgueses, a “unidade” em torno de candidaturas da esquerda não se dá com base em um programa de luta, uma vez que tanto as candidaturas de Boulos como as candidaturas do PT têm um conteúdo reformista. A diferença entre essas duas candidaturas é que, como o PT é o único desses partidos que têm uma base social, é, portanto, o único que tem chances reais de conseguir algum êxito. E é, portanto, o partido mais indigesto para a burguesia.

O apoio a Boulos não representa uma radicalização em relação ao PT, mas apenas uma tentativa dos setores mais centristas e sectários da esquerda pequeno-burguesa em fugir da pressão da burguesia em meio à luta política, ao mesmo tempo que buscam algum tipo de ascensão social e prestígio para seus dirigentes.

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