No dia 2 de fevereiro, domingo, mais um jovem negro foi alvo de agressão da polícia militar no bairro de Paripe, no subúrbio ferroviário de Salvador. A ação foi filmada e posta em circulação nas redes sociais. O rapaz agredido permaneceu em silêncio e não tentou reagir. Apesar disso, recebeu socos nas costelas, tapa no rosto e um chute. O policial gritava: “Você para mim é ladrão, você é vagabundo. Olha essa desgraça desse cabelo aqui. Tire aí, vá, essa desgraça desse cabelo aqui. Você é o quê? Você é trabalhador, viado? É?”.
Em seguida o policial militar entra na viatura e vai embora. É evidente que, para esse verdadeiro capitão do mato, são pretextos suficientes para um ataque a pele negra do rapaz; o seu cabelo crespo, volumoso e descolorido; a sua presença num bairro operário. Como a PM nunca ataca a burguesia, pode-se deduzir que outra motivação relevante para o ataque foi o pertencimento do jovem agredido à classe operária.
O governador da Bahia, Rui Costa, pronunciou-se sobre o caso no Twitter. Em defesa da Polícia Militar, ele alegou que a agressão policial de domingo foi uma ocorrência isolada, contrária ao “comportamento e ideais da instituição”. Anunciou que ia exigir da Corregedoria da PM a apuração do caso e a punição dos responsáveis. A PM divulgou uma nota afirmando que ia encaminhar o vídeo para a Corregedoria da PM e que “não preconiza com a violência e rechaça todo e qualquer tipo de conduta violenta”.
Trata-se de afirmações absolutamente contrárias à realidade. Segundo pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência, da USP, no primeiro semestre de 2019 a Bahia foi o terceiro estado com maior número de assassinatos cometidos pela polícia. A violência contra pobres, negros e pessoas da classe trabalhadora é a regra para as polícias, sobretudo para a polícia militar.
Além disso, é óbvio que uma instituição não pode ser responsável por apurar os crimes que ela mesma promove. Entregar a apuração nas mãos da Corregedoria da PM nada mais é do que abafar o caso. Isso não surpreende se levamos em conta que Rui Costa, do PT, apoia o Pacote Anticrime de Sérgio Moro, recomendou uma PM como candidata à prefeitura de Salvador e forçou de forma truculenta a aprovação-relâmpago da “reforma” da previdência em seu estado.
O policial militar flagrado no vídeo já recebeu elogios do Comandante da 19ª Companhia Independente. Na ocasião, o policial havia entrado no mar para prender supostos assaltantes. O elogio sugere que o seu comportamento estava de acordo com as expectativas dos comandantes. Tudo indica que a agressão contra o jovem negro no último domingo é parte da rotina e, se não tivesse sido flagrada, seria aprovada pelos altos escalões da polícia.
A esquerda deve abandonar as ilusões quanto ao sistema de repressão do estado. A função principal da polícia é defender os interesses da burguesia, a classe dominante. É um erro gravíssimo buscar uma conciliação com PM, setor que é uma das principais armas da burguesia contra a população pobre. A posição política correta é a luta pelo fim da Polícia Militar.
![](https://causaoperaria.org.br/wp-content/uploads/2025/01/still0608_00004_1-500x375.webp)