Dois policiais militares e um fazendeiro foram presos na manhã do dia 11/7 acusados de terem assassinado um trabalhador rural sem-terra. Carlos Augusto Gomes, de 58 anos, cultivava um pequeno espaço de terra no acampamento Emiliano Zapata em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos do Rio.
O crime ocorreu dia 8 de julho neste acampamento que fica próximo do assentamento Adhemar Moreira, na região de São Matheus. As áreas são parte do que um dia foi a totalidade da Fazenda Negreiros, um latifúndio em processo de desapropriação. Na segunda-feira (4), das seis casas na área de conflito uma delas foi queimada.
De acordo com a Polícia Civil, o fazendeiro seria o mandante do crime e os policiais os executores. Os pistoleiros contratados pelo latifundiário foram intimidar a comunidade e acabaram provocando um confronto entre os policiais, que estavam de folga no dia do crime, e os trabalhadores rurais que vivem na localidade.
Os policiais militares foram baleados no confronto e estão hospitalizados. Eles já foram comunicados da prisão. O fazendeiro foi preso quando estava em um apartamento no Centro de São Pedro da Aldeia. Segundo a polícia, ele tentou jogar armas pela janela quando os agentes chegaram. Com ele, a polícia apreendeu uma pistola, um revólver, uma espingarda, touca ninja, facas, colete e até um adesivo da Polícia Federal.
“Tomamos a ciência do caso na quarta-feira, quando ocorreu o confronto armado na fazenda. Os dois policiais se feriram e o sem-terra morreu. O corpo dele só foi encontrado no outro dia, quinta-feira. O laudo da vítima ainda não está pronto, mas visualmente, foi constato pelo menos dois ferimentos feitos por arma de fogo, um na cabeça e outro no tórax. Ferimentos que podem ter sido a causa da morte do homem”, acrescenta o delegado.
Já faz 15 anos que a Fazenda Negreiros foi parcialmente desapropriada em ação movida pelo Incra e, no local, foram assentadas 40 famílias de trabalhadores rurais. Outros 900 hectares ainda não desapropriados foram ocupados por outros trabalhadores rurais, o que teria gerado o conflito. Uma ação judicial está em curso para a desapropriação do restante da área.
O Comando da Polícia Militar apenas informou que os dois policiais militares estavam de folga e que vai instaurar um “procedimento interno” para apurar os fatos.
O Movimento Sem Terra limitou-se a emitir uma nota informando que “se solidariza com as famílias e repudia esse tipo de confronto”. O MST disse, ainda, que exige uma “apuração mais rigorosa do fato”. Nenhuma resolução política do ocorrido.
Enquanto isso o advogado de defesa do latifundiário alega que o seu cliente agiu em “legítima defesa”, sendo que quem iniciou as provocações foram seus capangas militares. Os sem terra apenas se defenderam e revidaram o que resultou nos dois policiais feridos, deixando claro a participação da Polícia Militar como pistoleiros contratados do latifúndio.
Esse episódio, que marca mais um assassinato no campo pelo aparato de repressão do Estado, deixa claro a necessidade da formação de Comitês de Autodefesa. Afinal, ninguém é obrigado a morrer pacificamente e sem resistir à altura.