Em uma onda de declarações recentes, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, se manifestou contrário a qualquer mudança no calendário acadêmico que implique na perda de uma geração de novos médicos, engenheiros e outras áreas do ensino superior que não teriam novos formandos em 2025. Obviamente, trata-se de pura demagogia (afinal, é de Weintraub que estamos falando) mas a quem possa ficar confuso quanto a preocupação do “imprecionante” com a formação de profissionais da área de saúde em especial, faremos a discussão sobre a questão levantada e sobre um programa socialista capaz de satisfazer as necessidades da população nesse terreno, tradicionalmente enormes e dramáticas mas particularmente urgentes com a emergência da crise sanitária imposta pela pandemia do coronavírus.
A primeira questão é básica: se o regime golpista está tão interessado na formação de médicos, por que em 2017 congelou a autorização para novos cursos de Medicina? Os governos de direita não apenas destroem as universidades públicas, como restringem a formação superior a pedido das corporações de médicos. Bem verdade que o presidente na ocasião era Michel Temer, mas lá se vão dois anos de mandato bolsonarista e a única mudança no programa Mais Médicos (em que a medida estava inserida) foi a sucessão de ataques contra os médicos cubanos que os levou a se retirarem do país – logo eles que prestavam atendimento às comunidades pobres das grandes cidades e nos rincões do país, tradicionalmente ignorados pelo conjunto da classe médica brasileira.
A segunda questão, e em grande medida a mais importante, é que: Estará o MEC efetivamente agindo para que a geração de novos médicos e demais profissionais estejam prontos para atender as necessidades da população? A resposta é óbvia e segue o padrão de tudo o que o regime bolsonarista vem fazendo para atender a população como um todo: nada. Não poderia ser diferente. Bolsonaro e o conjunto da burocracia (eleita e não eleita) existem para gerir os negócios da burguesia, especialmente a burguesia imperialista e seus capachos diretos no Brasil. Num contexto de crise tão grande quanto o atual, os antagonismos políticos, longe de diminuírem como diz o infeliz governador baiano Rui Costa (PT), explodem.
Um regime político verdadeiramente dedicado a prover à população uma quantidade de profissionais de saúde capazes de satisfazer as necessidades do povo não iria suspender o ENEM mas cancelá-lo e abrir os portões emperrados da universidade a todos, sem nenhum gênero de distinção, como deveria ser com todos os direitos democráticos. Um dos países mais pobres do mundo, Cuba, adotou exatamente essa política para se tornar uma das principais referências em saúde pública no planeta, com profissionais destacados cumprindo o papel de linha de frente em todas as emergências de caráter sanitário nas últimas décadas.
Desmistificando os argumentos cínicos da direita de que haverá queda na qualidade caso tal modelo seja adotado no Brasil, os médicos e enfermeiros cubanos demonstraram excepcional destreza no combate à pandemia do coronavírus nos principais países imperialistas do mundo. Poderiam estar emprestando toda a sua enorme experiência em salvar vidas para o Brasil, caso não tivessem sido ameaçados pelo bolsonarismo, o que demonstra de maneira muito clara a urgência de uma mobilização de massas em torno do “Fora Bolsonaro”, para que os médicos e enfermeiros cubanos voltem ao Brasil neste momento delicado, em que a fragilidade imposta pelo neoliberalismo nos deixou particularmente vulneráveis. E, também, para que o acesso à universidade deixe de ser um privilégio e passe a ser o que deveria ser de fato: um direito.