As eleições de 2020 serão utilizadas pela burguesia para pressionar ainda mais a esquerda para atender aos seus interesses. Em vários aspectos, a disputa municipal será mais antidemocrática do que as eleições da ditadura militar. Nesse sentido, é preciso ter muito clara a política que a esquerda deverá defender em nome de sua própria sobrevivência.
Esse será a terceira eleição após o golpe de Estado — ou a quarta considerando o início da ofensiva golpista. Já nas eleições de 2014, era possível perceber uma série de mudanças na forma como a burguesia abordava a disputa, investindo pesadamente em investigações contra a corrupção, campanhas contra a Copa do Mundo e na cartelização da imprensa. Em 2016, o tempo de campanha sofreu uma redução drástica. Além disso, quase todo tipo de campanha de rua foi colocado na ilegalidade. Em 2018, uma quantidade extraordinária de candidaturas foi cassada, incluindo a do maior líder popular do País. As intimidações e agressões da extrema-direita também se tornaram parte das eleições. Por fim, para 2020, podemos esperar que a burguesia estabeleça uma ditadura total na internet e que utilize a pandemia como pretexto para coibir todo tipo de atividade de rua.
As tendências cada vez mais antidemocráticas das eleições são apenas reflexos de um processo muito mais poderoso em curso: o aprofundamento do golpe. Nos últimos quatro anos, a direita tem disparado todo tipo de ataque contra os trabalhadores e, mesmo assim, não tem conseguido estabilizar minimamente a economia do País. Cada vez mais, o regime sente a necessidade de evoluir na direção da extrema-direita.
Entre os inúmeros ataques, podemos citar o número cada vez maior de desempregados no Brasil, as mortes causadas pela pandemia, as privatizações, o fortalecimento do aparato de repressão do Estado, a destruição das universidades etc. Não há freio algum para a ofensiva golpista, pois a própria crise capitalista só terá fim com a derrocada do próprio capitalismo. Se a burguesia não for enfrentada de maneira decidida pelos trabalhadores, irá cada vez mais fundo em sua política de pilhagem em todo o planeta.
Por isso, é preciso que os trabalhadores, suas organizações e a esquerda em geral se voltem para a formação de uma frente de luta, que tenha como fim o choque contra os golpistas. Isto é, uma frente voltada para a mobilização de todos os explorados pela derrubada imediata do governo Bolsonaro e contra todo o regime político golpista — a Polícia Militar, o Judiciário, os partidos burgueses, a imprensa capitalista etc. Essa frente de luta só pode ser desenvolvida em um terreno prático e em condições concretas: é preciso criar comitês de luta de todo o povo trabalhador para pôr nas ruas uma verdadeira campanha de denúncia do regime golpista.
Essa política contrasta fortemente com a política da “frente ampla”. Isto é, a política de alianças entre setores da esquerda nacional e a burguesia. Agregar partidos golpistas, que temem a mobilização popular e capitulam a toda e qualquer pressão da burguesia, sob o pretexto de formar uma aliança do “campo progressista” é o mesmo que submeter uma situação concreta a ideias genéricas e abstratas. A política se desenvolve no terreno da luta de classes, e se é uma classe social que está atacando os trabalhadores, é preciso que os trabalhadores e suas organizações declarem guerra aos capitalistas.
Assim, as eleições não devem ser um espaço para consolidar a política reacionária da “frente ampla”. Afinal de contas, não foram as eleições que definiram o regime político. As eleições municipais devem servir apenas como uma tribuna dessa campanha geral da luta contra o golpe, um instrumento para mobilizar o povo pelo Fora Bolsonaro e por Eleições Gerais.
Ao lado desse programa, é preciso acrescentar mais um ponto fundamental. É preciso que a esquerda defenda, de maneira intransigente, a restituição dos direitos políticos do ex-presidente Lula e a sua candidatura à presidência da República. Muito mais do que acordos com a direita golpista, a candidatura de Lula é um fator importante na luta contra o golpe: na medida em que é um fator de desestabilização do regime, Lula candidato é um pesadelo para os golpistas. Não há como continuar atacando o povo sem ter, como consequência, um aumento da popularidade de Lula. Lula como uma alternativa ao governo Bolsonaro coloca uma perspectiva para a classe operária lutar pelos seus interesses.