Cerca de duas mil pessoas participaram no dia 22 de março de 2014, do primeiro ato de rua chamado abertamente contra o golpe de Estado no Brasil.
Denominada de “Marcha Antifascista”, a mobilização teve concentração na Praça da Sé, de onde os manifestantes se dirigiram ao Largo General Osório, 66, próximo à Estação da Luz, onde fica o Memorial da Resistência.
A marcha foi realizada no mesmo dia em que grupos de direita fascistas convocaram uma marcha para comemorar os 50 anos da “Marcha da Família Com Deus pela Liberdade”, manifestação anticomunista que ocorreu em 19 de março de 1964 que reuniu milhares pessoas em apoio ao golpe militar que se concretizaria poucos dias depois.
Uma combativa ação contra a direita que se reoganizava
A própria imprensa golpista não pode ocultar a importância do evento. O Portal da Globo, G1, por exemplo divulgou a versão da PM fascista que apoiava a outra manifestação sobre o a Marcha, assinalando que “o coronel da PM Fernando Barta Cevius, disse que o “ato antifascista” chegou a ter um pico de mil pessoas e transcorreu sem incidentes“.
O evento foi convocado pelo Partido da Causa Operária junto com setores anarquistas e antifascistas, que se unificaram diante da necessidade sentida de reagir à ofensiva da direita expressa desde 2013, quando esta – apoiada por uma forte campanha da venal imprensa golpista – tomou conta das manifestações que se levantaram em todo o País contra a repressão desfechada pelos governos direitistas contra as mobilizações que explodiram após a represão do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) diante das manifestações contra os aumentos das passagens de ônibus, em junho de 2013.
Ao contrário de setores da esquerda pequeno burguesa, que viram nos atos de 2013, uma inexistente “revolução” popular, o PCO denunciou a politica direitista que tomou conta das manifestações a partir da manipulação e infiltração policial, expressas – entre outros – na defesa do apartidarismo (“sem partido”) e na defesa de um programa que representava os interesses da burguesia golpista como o reforçamentto do judiciário e do Ministério Público, que viriam a servir de base fundamental à criminosa e golpista operação Lava Jato, usada para perseguir a esquerda, derrubar a presidenta Dilma Rousseff e condenar e prender, ilegalmente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Fascistas, golpistas, não passarão!”
Naquele momento, tratava-se de pisar na cabeça da cobra antes que ela crescesse e atacasse a população e seus direitos democráticos.
A Marcha Antifascista foi uma mobilização muito combativa, reunindo além de dirigentes e militantes e simpatizantes do PCO, anarquistas e independente, ativistas de base de partidos de esquerda que, mesmo sem a decisão de suas direções, resolveram aderir à mobilização. A ampla campanha realizada na sua convocação diante da necessidade de responder à iniciativa da direita, levou a que comparecessem ao evento alguns importantes ativistas que se reivindicam da luta pelos direitos democráticos do povo, como o então senador, Eduardo Suplicy (PT) (que cantou. no ato), dentre outros.
A manifestação foi dominada por palavras-de-ordem contra o golpe de Estado, como “fascistas, golpistas, não passarão!” e contra os órgãos de repressão como a PM: “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar!”, gritavam os manifestantes, em sua maioria jovens.
O destino final da manifestação contrária à “Marcha da Família”, na Estação da Luz, em frente à antiga sede da Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP) – de 1940 a 1983 – mostrou a consciência de que estava em curso a preparação de um golpe que visa reeditar a repressão e a tortura dos períodos mais nefastos da historia do País. No Depois milhares de trabalhadores e jovens foram barbaramente torturados e muitos levados a morte.
A direita atacou a manifestação organizada pelo PCO. No site da Revista Militar, por exemplo, procuravam desmoralizar a iniciativa do Partido, publicando imagens do site desse Diário e afirmando u
“Grandes partidos permanecem em silêncio, oposição no aniversário da intervenção de 1964, como no ano passado, fica a cargo de pequenos coletivos, micro-partidos comunistas e a militância de menor valor, recrutada a soldo ou promessas. Eles lutam desesperadamente para arregimentar manifestantes para o que chamam de “marchas anti-golpe”
Os partidos da esquerda burguesa e pequeno burguesa se omitiram, adotando a política que levaria a uma derrota fundamental nos anos seguintes, de trata o movimento ainda minoritário da direita como algo que não deveria ser combatido, como se já não tivesse – naquele momento – um poio importante de setores da burguesia que viriam a comandar o golpe. Essa esquerda e todo o povo brasileiro pagaram caro por essa cegueira.
O ato da esquerda, liderado pelo PCO, reuniu naquele dia o dobro do numero de manifestantes do ato da direita, evidenciando que era possível desenvolver uma ampla mobilização contra a ofensiva da direita que avançava, o que não foi feito pelos profundos limites da política de colaboração de classe com a burguesia por parte de alguns setores (como PT e o PCdoB que compunham o governo com MDB, PTB, PP etc.) e pela politica sectária, descolada da realidade da luta de classes, de outros setores, muitos dos quais – depois – viriam a apoiar abertamente o golpe, como o PSTU (“Fora Dilma, Fora Todos!”) e o PSOL, ardoroso defensor da Lava Jato.
Veja neste link um trecho da passeata.
Assista aqui o video do canal Causa Operária TV com os melhores momentos do ato.