No estado do Rio de Janeiro, vem crescendo o abandono pelos pacientes de câncer, que não estão conseguindo fazer tratamento, nem mesmo serem diagnosticadas. É um total abandono do Estado em um quadro onde o tempo é primordial para a garantia da vida. E o ano de 2020 segue com os mesmos agravantes em recorrente crescimento.
No dia 14 de novembro deste ano, a paciente Aisha Correia Rodrigues, de 17 anos, deu entrada em uma UPA da cidade de Caxias para infecção urinária, entretanto, após alguns exames, os médicos suspeitaram que o quadro da doença poderia, na verdade, ser câncer nos ossos. Para confirmar tal suspeita, a moça precisaria fazer uma biopsia, que não é realizada neste hospital. Aisha então entrou com um pedido de transferência para um hospital habilitado, que pudesse confirmar o seu caso e seguir com o tratamento adequado, caso fosse confirmado. No entanto, não conseguiu transferência por um bom tempo. Apenas quando seu caso repercutiu, a Secretaria Estadual de Saúde conseguiu sua transferência para um hospital em Andaraí.
Outro caso que foi resolvido transferência através de uma certa mobilização foi o caso da paciente Sandra Helena Lopes, de 51 anos, que foi diagnosticada com câncer e estava recebendo quimioterapia, mas com seu caso agravando, precisou de transferência para um hospital mais habilitado para o seu caso. Em entrevista, o filho de Sandra deu um depoimento: “Eles estão esperando só ela morrer pra poder falar “consegui uma vaga”. O médico falou que se ela não sair dali no momento… se ela não sair dali no momento pra ontem, se ela não sair, ela vai morrer. Ela vem a óbito.”.
Já o caso de Sandra Bernardo de 33 anos, diagnosticada com a doença, precisou de cirurgia e fez o pedido em Agosto deste ano, sem conseguir uma vaga até este momento. Em entrevista com Bom dia Rio, Sandra Bernardo expôs sua aflição: “A gente fica aflita, a gente fica nervosa, mas tenta manter a calma pra não ficar pior, não se entregar mesmo, porque é um sistema que a gente fica aguardando, é um sistema público pra gente reviver um problema que é sério e nada se resolve.”.
Pedro Rafael de Marchi, Oncologista, reitera o agravante que é a espera por um tratamento de câncer e não ter as condições em mãos: “Quando a gente leva muito tempo para fazer esses exames, o grande risco é a doença aumentar. E uma doença que potencialmente seria curável se fossem feitos os exames e as detecções precocemente, passa a ser uma doença avançada e incurável, a gente tenta não atrasar, principalmente essa fase inicial das avaliações e principalmente o paciente que precisa de cirurgia, porque quando ele faz cirurgia pra câncer, grande parte desses pacientes estão sendo operados para ficarem curados da doença. E você atrasar essa cirurgia, não fazer essa cirurgia, pode obviamente prejudicar o resultado desse tratamento e o paciente que seria curado passa a ser infelizmente um paciente em cuidados paliativos.”
É um absurdo sem dimensões toda a população não receber o tratamento necessário para sobreviver. O Estado que demora com as transferências, que não cumpre as demandas necessárias para garantir a saúde de sua população, é um Estado que mata seu povo, são assassinos, pois seu dever é assegurar que seu povo tenha o que é preciso para viver. Apenas com a mobilização popular e a denuncia da imprensa do povo é que poderá haver mudanças e melhoras no sistema hospitalar.