No atual debate e polêmica sobre a defesa do futebol brasileiro, o Diário Causa Operária e o PCO vem se destacando como a imprensa e o Partido de Esquerda mais boleiro do Brasil. Na defesa do futebol brasileiro contra a política do futebol moderno, leia-se, destruição do futebol arte e privatização do futebol brasileiro assim como a ampliação dos lucros nas mãos dos capitalistas nacionais e internacionais, as custas da destruição de um dos principais patrimônios da cultura brasileira, o futebol.
Milhões de trabalhadores com a evolução do chamado futebol moderno já não tem mais assento na enorme maioria dos estádios de futebol do País, principalmente dos grandes clubes, resultado de uma intensa perseguição contra as torcidas populares do Brasil. Há 30 anos acabaram com as principais gerais dos grandes estádios brasileiros (espaços onde os torcedores mais pobres, com pouco poder aquisitivo podiam assistir aos jogos de seus times do coração, pagando baixíssimos valores, hoje seria como assistir a uma partida e pagar de 5 a 10 reais). Ao acabar com as gerais, importante setor da classe operária brasileira já se viu impedida de assistir regularmente a um jogo de futebol. Sobrava a arquibancada, setor popular, mas com preços mais elevados que a geral.
Após isso veio a repressão às torcidas organizadas. Com a desculpa da violência, começaram a cercear as maravilhosas festas das torcidas nos estádios, começando por proibir a entrada de bandeiras e por aí a repressão da Polícia Militar só aumentou, dentro e fora dos estádios. A repressão ia se dando com a Polícia e os órgãos da justiça como o Ministério Público.
Na etapa atual chegamos a construção das grandes Arenas no país e com elas a exclusão quase final das torcidas populares nos principais e maiores Estádios do país, em virtude do altíssimo preço dos ingressos.
Com toda essa política os grandes capitalistas do esporte passaram a ganhar milhões e com a ganância de querer mais e expandir seus inúmeros negócios, assim como já fizeram na Europa, ao expulsar os operários há décadas dos principais cenários esportivos de lá (como por exemplo na Inglaterra, onde se tornou comum assistir aos jogos de TV paga nos pubs(bares)), aqui passaram a outros ataques para fazer o futebol no Brasil gerar mais riqueza para seus cofres ao preço de destruir a essência da maior festa popular do Brasil.
Na atual etapa deste ataque está a enorme propaganda a favor do futebol europeu, seus técnicos, seus métodos, a privatização dos clubes brasileiros e até mesmo uma suposta superioridade “ética” do futebol europeu (nada mais falso).
Dentro da investida capitalista por propagandear a superioridade e competência dos técnicos europeus e estrangeiros sobre os brasileiros, o estrangeiro da vez, após o português Jorge Jesus no Flamengo, é Abel Ferreira, atual treinador do Palmeiras.
Aqui, não se trata de colocar dúvidas sobre a capacidade técnica, profissional e sobre a pessoa do atual treinador palmeirense, mas de refletir sobre a política e a ideologia capitalista que vem há tempos atacando os treinadores brasileiros (um fato é o grande ataque e perseguição que vários treinadores negros sofrem no Brasil) de maneira geral e enaltecendo estrangeiros como sendo eles os melhores do mundo.
Mas vamos ao caso da época, Abel Ferreira. O português de 41 anos, chegou em substituição ao demitido Vanderlei Luxemburgo (que havia ganho a pouco tempo o título de campeão paulista de Futebol comandando o alvi-verde), com pouquíssimas credenciais e uma breve carreira como treinador, iniciando seu trabalho com as equipes “B” do Sporting de Lisboa (2013-2014) e do Braga (2015-2017). Tendo comandado apenas duas equipes principais de seus respectivos clubes: o Braga, de Portugal, de 2017 a 2019, e o PAOK, da Grécia, em 2019 e 2020. Em sua breve trajetória até agora não ganhou nenhum campeonato e sequer havia dirigido grandes clubes em qualquer país europeu. É mais adequado verificar o aproveitamento de vitórias, que pode ser visto como bom: 61% no Braga de Portugal e 55% no PAOK.
A chegada de Abel ao Palmeiras se deu após uma fase irregular do Palmeiras sob o comando de Luxemburgo, que apesar de campeão paulista, lançando à equipe de cima vários garotos, uma sequência de três derrotas derrubou Luxa. Antes de Abel o interino Cebola (Andrey) comandou o Palmeiras e após o primeiro jogo com mais uma derrota a equipe começou a engatar uma importante arrancada. Aproveitando essa arrancada Abel assumiu e registra dez jogos, com sete vitórias, dois empate e uma derrota, o que configura um aproveitamento de 77%, tendo marcado 22 gols e sofrido apenas seis.
De fato, um extraordinário início. Mas perguntas podem ser feitas, se os brasileiros Luxemburgo ou mesmo Cebola tivessem sido mantidos no comando será que não teriam engatado a mesma série e o mesmo futebol mais vistoso?
Exemplo disso é o arquirrival da equipe paulista, o São Paulo Futebol Clube, que depois de uma enorme pressão contra o técnico Fernando Diniz, com manifestações de torcida organizada pedindo sua saída, o mesmo só foi mantido pelo pulso firme de Raí, e os resultados começaram a aparecer, levando o tricolor paulista ao 1° lugar do campeonato brasileiro no momento.
A história do Palmeiras é uma história onde técnicos estrangeiros tiveram participação importante, mas há que se olhar o contexto. Vejamos:
O Português Abel Ferreira se tornou o 21º treinador estrangeiro a assumir o comando do time de Palestra Itália.
Entre os nomes estrangeiros estão técnicos com grande importância para a torcida palmeirense, tendo conquistado grandes títulos, como: Humberto Cabelli (uruguaio), Ventura Cambon (uruguaio), Caetano de Domenico (italiano) e Filpo Nuñez (argentino), este último entrou também para a história da seleção brasileira ao ser o único estrangeiro a comandar a Seleção Brasileira, na partida inaugural do Estádio Mineirão, quando em 7 de setembro de 1965, o Brasil foi inteiramente representado pelo Palmeiras e venceu a Seleção Uruguai por 3×0 (gols de Rinaldo, Tupãzinho e Germano).
Além destes treinadores citados acima, o Palmeiras também teve outros seis uruguaios (Carlos Viola, Conrado Ross, Félix Magno, Ondino Vieira, Ramón Platero e Segundo Villadoniga), cinco argentinos (Abel Picabéa, Alfredo González, Armando Renganeschi, Jim López e Ricardo Gareca), dois italianos (Attilio Fresia e Renzo Mangiante), dois húngaros (Eugênio Medagyensy e Emeric Hirchel) e um paraguaio (Fleitas Solich).
No entanto, faz-se necessária uma contextualização e para isso levantamos a partir de uma cronologia de todos os técnicos do Palestra Itália e depois Palmeiras que estiveram a frente do clube. Os números a seguir se referem a quantidade de temporadas em que determinados técnicos dirigiram a equipe, alguns deles, como os mais importantes estrangeiros que citamos acima, dirigiram o clube em mais de uma temporada.
Para essa contextualização pegamos como parâmetro o ano de 1958, ano do primeiro campeonato mundial da seleção Brasileira.
Até 1958, o Palmeiras (lembrando que em 1942, durante o governo de Getúlio Vargas e a segunda guerra mundial, todas os clubes brasileiros com relação com os países do eixo, inimigos na guerra dos aliados, aos quais o Brasil se juntava, como Itália, Alemanha, Japão, Espanha foram obrigados a mudar de nome. O Palestra Itália de São Paulo, se transformou em Palmeiras) havia tido 55 técnicos nas diferentes temporadas, sendo uma maioria de estrangeiros, 29 ao todo, enquanto no mesmo período teve 26 técnicos brasileiros.
Até 1958, o Brasil apesar de boas participações em Copas do Mundo, tendo sido vice em 1950, não havia sido campeão do mundo, então nada mais natural que as equipes da época como o Palmeiras fossem buscar seus técnicos nos países campeões do mundo de futebol até aquela data, Uruguai e Itália. Fato este que é muito nítido no Palmeiras, com técnicos do Uruguai (Bi campeão do Mundo 30 e 50), da Itália ( Bi Campeã do Mundo em 34 e 38) e da Argentina (Estes se bem não tivessem títulos mundiais, tinham reconhecidos os famosos Boca Júnior e River Plate como grandes clubes) de 1914 a 1958.
Após o título mundial do Brasil em 1958, o número de técnicos estrangeiros caiu radicalmente no Palmeiras. E de 1958 até 2021, os números são os seguintes: em distintas 128 temporadas (lembrando que a contagem aqui é a temporada que diferentes técnicos assumiram, sendo que alguns técnicos dirigiram a equipe mais de uma vez em temporadas diferentes). Destes, em 120 temporadas a equipe foi dirigida por treinadores brasileiros e apenas em 8 oportunidades o Palmeiras foi dirigido por estrangeiros. E ainda, no período de 36 anos, de 1978 a 2014, o Palmeiras não teve nenhum técnico estrangeiro.
Tal situação se deve aos diferentes contextos históricos do futebol no país, antes e após nos tornarmos campeões mundiais de futebol.
Hoje somos penta campeões mundiais de futebol, poderíamos ser hexa, hepta, muito mais, não fosse a enorme perseguição que o futebol brasileiro já sofreu.
E se somos o único país pobre que desbancou as “potências” europeias por cinco vezes na principal competição do mundo, porque temos que ser obrigados a aceitar que são os técnicos europeus, os jogadores europeus, os métodos europeus os melhores do mundo, não!
O que se dá no Brasil no momento é todo um trabalho golpista dos capitalistas do esporte para imporem seus métodos, não para um futebol mais belo, isso eles nunca farão, mas para abarrotarem seus cofres as custas da tentativa de destruição do melhor futebol do mundo.