Em sua intervenção nesta terça-feira (22) durante o Debate Geral do 75º Período Ordinário de Sessões da Assembleia Geral das Nações Unidas realizada pela primeira vez de forma virtual, o presidente de Cuba Miguel Díaz-Canel utilizou o espaço para denunciar os ataques do imperialismo norte-americano contra os povos oprimidos do mundo.
Canal também cobrou uma maior democratização da Organização das Nações Unidas e que esta se posicione condenando firmemente os ataques sistemáticos à soberania nacional de Cuba e dos demais países não alinhados.
[…] Tanto quanto a solução para a pandemia, já urge a democratização desta indispensável Organização, para que responda de maneira efetiva às necessidades e aspirações de todos os povos.
O ansiado direito da humanidade a viver em paz e segurança, com justiça e liberdade, base da união das nações, é constantemente ameaçado.
Mais de 1,9 biliões de dólares são malbaratados hoje, em uma insensata corrida armamentista, sustentada na política agressiva e belicista do imperialismo, cujo máximo expoente é o atual governo dos Estados Unidos, responsável por 38% do gasto militar global.
Falamos de um regime notavelmente agressivo e moralmente corrupto, que despreza e ataca o multilateralismo, emprega a chantagem financeira na sua relação com as agências do sistema das Nações Unidas e, com uma prepotência nunca antes vista, retira-se da Organização Mundial da Saúde, da Unesco e do Conselho de Direitos Humanos.
Paradoxalmente, o país que aloja a sede da ONU também se afasta de tratados internacionais fundamentais, como o Acordo de Paris sobre mudança climática; repudia o consensual acordo nuclear com o Irão; impulsiona guerras comerciais; põe fim ao seu compromisso com instrumentos internacionais de controle, na esfera do desarmamento; militariza o ciberespaço; multiplica a coerção e as sanções unilaterais contra os que não se submetem aos seus desígnios; e patrocina a derrubada pela força de governos soberanos, com métodos de guerra não convencional.
Nessa linha de comportamento, divorciada dos antigos princípios da coexistência pacífica e do respeito ao direito alheio à autodeterminação como garante da paz, o governo presidido por Donald Trump, além disso, manipula com fins subversivos a cooperação no âmbito da democracia e dos direitos humanos, enquanto no seu próprio território proliferam, praticamente sem controle, as expressões de ódio, racismo, brutalidade policial e as irregularidades do sistema eleitoral e do direito dos cidadãos ao voto.
Urge reformar as Nações Unidas. Esta poderosa organização, que emergiu do milionário custo em vidas de duas guerras mundiais e como resultado da compreensão universal da importância do diálogo, da negociação, da cooperação e da legalidade internacional, não pode atrasar mais a sua atualização e democratização
Algo muito essencial e profundo falhou, quando se assiste, de modo quotidiano e permanente, à violação dos princípios da Carta da ONU, e quando é cada vez mais frequente o uso da força ou a sua ameaça, nas relações internacionais.
Não é possível sustentar por mais tempo, como algo natural e imutável, uma ordem internacional desigual, injusta e antidemocrática, que antepõe o egoísmo à solidariedade, e os interesses mesquinhos de uma minoria poderosa às legítimas aspirações de milhões de pessoas.
Apesar das insatisfações e demandas de transformação que, junto com outros Estados e com milhões de cidadãos do mundo, pedimos às Nações Unidas, a Revolução cubana defenderá sempre a existência do organismo a que devemos o pouco, mas imprescindível, multilateralismo que sobrevive à prepotência imperial.
Mais de uma vez, ante este mesmo foro, Cuba reiterou a sua vontade de cooperar com a democratização da ONU e com a defesa da cooperação internacional, que somente ela pode salvar. Como disse o Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba, General de Exército Raúl Castro Ruz, e cito: “Poderá contar sempre, a comunidade internacional, com a sincera voz de Cuba, ante a injustiça, a desigualdade, o subdesenvolvimento, a discriminação e a manipulação; e pelo estabelecimento de uma ordem internacional mais justa e equitativa, em cujo centro realmente se coloque o ser humano, a sua dignidade e bem-estar […]”.
O presidente cubano também aproveitou para exaltar o trabalho humanitário das brigadas de saúde cubana diante do desafio imposto pela pandemia global do coronavírus.
“Reclamamos que cessem a hostilidade e a campanha difamatória contra o trabalho altruísta da cooperação médica internacional de Cuba, que, com alto prestígio e resultados verificáveis, contribuiu para salvar centenas de vidas e reduzir o impacto da doença em diversas regiões. Personalidades internacionais e organizações sociais de notável prestígio reconheceram a tarefa humanista realizada pela Brigada Internacional Médica Especializada em Situações de Desastre e Graves Epidemias “Henry Reeve”, advogando que lhe seja concedido o Prémio Nobel da Paz.
Enquanto o governo dos Estados Unidos ignora o chamado a somar esforços no combate à pandemia e se retira da OMS; Cuba, em resposta a solicitações recebidas, e guiada pela profunda vocação solidária e humanista do seu povo, reforça a sua cooperação, enviando mais de 3.700 colaboradores, organizados em 46 brigadas médicas, a 39 países e territórios afetados pela Covid-19”, declarou.
O ponto alto da fala de Canel foi realmente quando este condena os ataques do imperialismo:
[…] Senhor Presidente: As pretensões de impor a dominação neocolonial à Nossa América, declarando publicamente a vigência da Doutrina Monroe, contrariam a Proclamação da América Latina e das Caraíbas como Zona de Paz.
Queremos ratificar publicamente, neste cenário virtual, que a República Bolivariana da Venezuela contará sempre com a solidariedade de Cuba, frente às tentativas de desestabilizar e subverter a ordem constitucional e a união cívico-militar, e de destruir a obra iniciada pelo Comandante Hugo Chávez Frías e continuada pelo presidente Nicolás Maduro Moros a favor do povo venezuelano.
Repudiamos também as acções dos Estados Unidos dirigidas a desestabilizar a República da Nicarágua, e corroboramos a invariável solidariedade com o seupovo e governo, liderados pelo Comandante Daniel Ortega.
Solidarizamo-nos com as nações das Caraíbas que exigem justas reparações pelos horrores da escravidão e do tráfico de escravos, em um mundo em que crescem a discriminação racial e a repressão às comunidades afrodescendentes.
Reafirmamos o nosso compromisso histórico com a livre determinação e a independência do povo irmão de Porto Rico.
Apoiamos a legítima reivindicação da Argentina, de soberania sobre as ilhas Malvinas, Sandwich do Sul e Geórgia do Sul.
Reiteramos o compromisso com a paz na Colômbia e a convicção de que o diálogo entre as partes é a via para alcançar uma paz estável e duradoura nesse país.
Apoiamos a busca de uma solução pacífica e negociada para a situação imposta à Síria, sem ingerência externa e com pleno respeito à sua soberania e integridade territorial.
Demandamos uma solução justa para o conflito do Oriente Médio, que passa pelo exercício real do direito inalienável do povo palestino a construir o seu próprio Estado, dentro das fronteiras anteriores a 1967 e com a sua capital em Jerusalém oriental. Repudiamos as tentativas de Israel de anexar novos territórios da Cisjordânia.
Expressamos a nossa solidariedade com a República Islâmica do Irão, ante a escalada agressiva dos Estados Unidos.
Reafirmamos nossa permanente solidariedade com o povo saaraui.
Condenamos energicamente as sanções unilaterais e injustas contra a República Popular Democrática da Coreia.
Ratificamos o nosso repúdio à intenção de estender a presença da OTAN até as fronteiras da Rússia e à imposição de sanções unilaterais e injustas contra essa nação.
Repudiamos a intromissão estrangeira nos assuntos internos da República da Bielorrússia e reiteramos a nossa solidariedade ao legítimo presidente desse país, Aleksandr Lukashenko, e ao povo irmão bielorrusso.
Condenamos a ingerência nos assuntos internos da República Popular da China e nos opomos a qualquer tentativa de ferir a sua integridade territorial e soberania.
“Médicos, e não bombas”, anunciou um dia o líder histórico da Revolução Cubana e principal promotor do desenvolvimento das Ciências em Cuba, Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz. Essa é a nossa divisa. Salvar vidas e compartilhar o que somos e temos, ao preço de qualquer sacrifício, é o que oferecemos ao mundo desde as Nações Unidas, à qual só pedimos uma mudança, em sintonia com a gravidade do momento.
Somos Cuba. Lutemos juntos pela promoção da paz, da solidariedade e do desenvolvimento”, concluiu.