Em uma matéria recente, no jornal direitista El País (que a esquerda brasileira encara como sendo um jornal progressista), foi levantada a discussão sobre o número de mortes de policiais militares negros em relação ao número de policiais brancos. Segundo o jornal, cerca de 51,7% dos policiais mortos são negros, enquanto 48% são brancos, sendo que apenas 37% dos policiais são negros.
Em entrevista ao jornal, o líder do Movimento Policiais Antifascismo declarou que a esquerda trata os policiais como cães de guarda da burguesia, e que, apesar de realmente o serem, que ao pedir o fim da Policia Militar no Brasil, a esquerda acaba por afastar os membros da corporação de sua luta, pois os policiais sentem medo de perderem seus empregos. O policial completa que a luta deveria se dar pela desmilitarização da PM.
Realmente, caso os dados do El País estejam corretos, o número desigual de mortes entre os policiais brancos e negros tende a desfavorecer os negros, da mesma forma que em toda a sociedade brasileira. No entanto, o problema da Polícia Militar não é tão simples e passa pelo próprio caráter da corporação.
A Polícia Militar é uma entidade que tem como fim a repressão da população pobre brasileira, em especial os negros, em prol da burguesia. O que a matéria do El País tenta fazer é mascarar a questão apontando que uma parte da corporação também é negra, e portanto, que o racismo acontece em via de mão dupla, o que não é a realidade, pois, um policial negro acaba por ser um agente do estado para reprimir a população pobre e negra, tanto quanto um policial branco.
Não é à toa que para um único agrupamento antifascista da polícia militar de todo o Brasil, existem inúmeros grupos fascistas dentro da própria PM. Não só o fim da polícia é o de reprimir a população, coisa que todo brasileiro sabe, mas também o próprio treinamento da polícia acaba por fazer com que todos os policiais saibam o que se deve fazer nas ruas, que é perseguir a população pobre e negra. Prova disso é o do recente caso do policial militar negro do Rio de Janeiro, o membro do MBL Gabriel Monteiro, que invadiu o enterro da menina Ágatha Felix para tentar amedrontar quem chorava a morte de uma criança pelas mãos da polícia.
Quanto às declarações do líder do Movimento Policiais Antifascismo, a esquerda não deve deixar de lutar contra o fim da PM para que os policiais se aproximem dela. A própria polícia em si é um órgão antidemocrático que tem como fim a opressão da população, como o próprio membro do grupo relatou ao dizer que a polícia acaba mesmo sendo o cão de guarda da burguesia. Nesse sentido, não há como manter a corporação e ser democrático ao mesmo tempo, pois as duas coisas estão em contradição.
A única solução para a segurança pública é a autodefesa da própria população organizada e o fim da Polícia Militar. A desmilitarização é somente uma fórmula importada de outros países que não diz respeito às especificidades do Brasil.