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Coronavírus

Meio milhão de demitidos: a arte e a cultura depois da pandemia

O ataque à classe artística toma proporções desastrosas em meio à paralisação de eventos. Mais de 500 mil desempregados previstos!

O cenário pandêmico, agravado pela inércia estatal generalizada e pelo atual projeto de amordaçamento da classe artística, já tomou diretamente a vida de inigualáveis artistas de diversas expressões da arte brasileira. Mesmo que possa parecer exaustivo e sem propósito ingressar no tema da empregabilidade dos artistas apresentando tal lista, talvez devamos começar pelo tom daquilo que já se tornou irreparável, trazendo à memória recente alguns dos mais conhecidos e importantes nomes que tiveram as vidas ceifadas pelo COVID-19 antes de que seus empregos assim o fossem. O leitor, já informado sobre as mais noticiadas mortes dentre os artistas e não sentindo necessidade de retomá-las dolorosamente na memória, tem total licença para seguir para o parágrafo que vem em seguida. O convite, contudo, é reiterado:

Naomi Munakata – maestrina japonesa erradicada no Brasil, regente do Coro da Osesp e titular do Coral Paulistano Mário de Andrade. (falecida em 26/03)

Martinho Lutero Galati – maestro mineiro, criador e diretor da Rede Cultural Luther King e de associações culturais em outros países, como Itália e Moçambique. (falecido em 26/03)

Daniel Azulay – artista plástico, desenhista e educador, conhecido pelo seu trabalho A Turma do Lambe-Lambe e por diversas participações em revistas, jornais e na TV, como o jornal Correio da Manhã, Última Hora, O Cruzeiro e a TV Rá-Tim-Bum; (falecido em 27/03)

MC Dumel – artista baiano do funk (nascido no Rio, mas criado na Bahia), galgava seu caminho para ser conhecido nacionalmente, contando com mais de 100 mil seguidores em sua página online. Infectou-se durante turnê no Rio de Janeiro, aos 28 anos e no início de sua carreira. (falecido em 16/04)

Aldir Blanc – muito lembrado pela popular O Bêbado e a Equilibrista, dentre outras, o artista é ícone da composição brasileira, além de notável escritor. (falecido em 04/05)

Ciro Pessoa – co-fundador das bandas Titãs e Cabine C, além de compositor, jornalista, escritor, roteirista e poeta. (falecido em 05/05)

Daisy Lúcidi – atriz e radialista desde a década de 60, teve sua última participação televisiva em 2014, na novela “Geração Brasil”. (falecida em 07/05)

Jesus Chediak – conhecido ator, jornalista, diretor, produtor de cinema, teatrólogo, tendo sido também secretário de cultura de Duque de Caxias e curador da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. (falecido em 08/05)

Carlos José – Cantor paulistano, começou a carreira e fez sucesso aos início da década de 50. Conhecido por suas canções românticas, era carinhosamente chamado de “o último seresteiro”. Em 2014, havia retornado às gravações de discos. (faleceu em 09/05)

Abraham Palatnik – Artista plástico brasileiro pioneiro da arte cinética, tendo integrado importantes movimentos artísticos ao longo de sua carreira, trabalhado em projetos e grupos artísticos com personalidades como Ferreira Gullar e Nise Silveira. (falecido em 09/05)

Sérgio Sant’Anna – escritor, advogado e professor universitário carioca, tem suas obras literárias, desde poesia a contos, reconhecidas desde os anos 70, sendo inclusive adaptadas para o cinema. (falecido em 10/05)

David Corrêa – conhecido sambista, era criador de inúmeros samba-enredos para a Portela desde 1972, já tendo sido vencedor de dois Estandartes de Ouro. (falecido em 10/05)

Note que, dentre estas mortes, que são um quadro apenas daqueles cuja carreira e sucesso atingiu alguma notoriedade que os permitissem ser enlutados pelos meios midiáticos e fãs (não estamos aqui falando dos artistas que foram levados e cujos nomes os noticiários não têm interesse em divulgar, já que estes farão falta apenas aos familiares, amigos e a nichos muito menores de convivência e trabalho), mais da metade é de artistas que se foram nos últimos 10 dias. A epidemia varre o país e nada poupa. Uma semelhança terrível com as mortes dos artistas que ocorreram durante a Gripe Espanhola, há quase exatos 100 anos atrás.

Contudo, ela não mata apenas de forma direta, como a estes listados e a muitos foras das listas, que nos serão apresentados apenas enquanto estatísticas. Lembremo-nos de Flávio Migliaccio, inesquecível ator de Terra em Transe (Glauber Rocha) e tantos outros importantes momentos do cinema e do teatro brasileiro, que foi levado de forma menos direta. A visão da calamidade, do descaso e do fascismo levou esse artista ao suicídio, nos deixando como um alerta sua carta. Mas ainda assim, Flávio não foi levado pelo vírus em si, ou antes de que lhe tomassem seu emprego.

Finalmente, chegamos, com necessária melancolia e revolta, ao tema da matéria. A previsão atual da Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos) é a de que 580 mil pessoas possam perder seus empregos no setor. A previsão é a de que shows, espetáculos e eventos só voltem a acontecer normalmente a partir de 2021. Os trabalhadores do setor cultural, que são em maioria aqueles cujos óbitos (por doença, suicídio ou pobreza) jamais sairão nos jornais, são atualmente uma das categorias mais afetadas pela crise. Essa vulnerabilidade não é causada pelo COVID-19, ela se agrava com ele, para a perversa alegria do Estado fascista, seus apoiadores e o próprio facínora Bolsonaro (sequer é necessário mencionar aqui Regina Duarte…). Não nos esqueçamos que o atual governo já vem atacando a classe artística desde seu início, com constantes cortes de verbas e até mesmo evidentes atos de censura. Em 2019, por exemplo, foi repassado apenas R$995 mil reais a 7 projetos por meio do Fundo Nacional de Cultura. O repasse de verbas para projetos públicos da cultura não chegou a um milhão de reais. Para entender a gravidade, é necessário lembrar que em 2010 o repasse havia sido de R$344 milhões de reais para cerca de 461 projetos. O congelamento das atividades artísticas atingiu como uma onda avassaladora uma classe que já havia sido atirada para fora do convés.

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