O ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta (DEM-MS) voltou às páginas da imprensa capitalista e à golpista Rede Globo, sob o pretexto de divulgar o livro “Um paciente chamado Brasil – os bastidores da luta contra o coronavírus”, revelado os bastidores da crise do coronavírus no governo federal, os choques com o ministro da Economia, Paulo Guedes (“afeito aos números, mas que não conhece povo”, segundo Mandetta) e com o próprio presidente ilegítimo, Jair Bolsonaro.
Ao Estado de Minas, Mandetta declarou-se impressionado com a reação de Bolsonaro ao deparar-se com o problema da pandemia, considerando “que ele era parte da doença, que ele era parte do quadro de vírus”, acrescentando ainda que a posição do presidente golpista seria “que esse povo vá trabalhar, que a gente ultrapasse isso logo”. Já no “Conversa com Bial”, da Globo, o político do DEM disse “nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele [Bolsonaro] eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber da responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar”.
A recente publicidade da burguesia ao ex-ministro de Bolsonaro revela um ensaio com perspectiva em 2022. Mandetta, não custa lembrar, não se notabilizou por defender interesses da classe trabalhadora em sua gestão no Ministério da Saúde mas pela defesa da burguesia, particularmente os setores mais ligados ao imperialismo, que normalmente se agrupam na direita tradicional, onde está o seu próprio partido, DEM. Conforme o tempo demonstrou, a divergência dos dois setores no campo da direita era muito pequena.
Nesse sentido, a crítica à condução política de Bolsonaro para a crise da pandemia é no mínimo curiosa. Considerando que o programa na Globo foi ao ar na madrugada da última sexta-feira (25), sequer passou-se uma semana desde que o golpista Grupo Globo colocou na boca de uma criança, a pretexto de defender o retorno às aulas presenciais, que voltar à escola teria sido o “dia mais feliz da minha vida”, dando ampla publicidade à cômica declaração.
O caso da Globo não é um ato isolado. A burguesia já fechou questão em torno de abandonar qualquer aparência e forçar o retorno a uma normalidade inexistente, dado a situação descontrolada da pandemia, não apenas no Brasil mas no mundo inteiro. Contudo, o amplo conjunto da classe deseja ter opções mais palatáveis a apresentar do que Bolsonaro. E aqui a figura de um apoiador do golpe de 16, reacionário “científico”, vestindo colete do SUS, com fala mansa e aparentando ser mais normal ganha destaque.
A propaganda em torno de Mandetta deve lembrar à esquerda que a burguesia está em campanha para as próximas eleições gerais. O campo ligado aos interesses dos trabalhadores, dos movimentos sociais e das lutas populares devem fazer o mesmo, de modo a impulsionar a única liderança política da esquerda capaz de unificar a esquerda e criar uma grande mobilização popular com capacidade de derrotar eleitoralmente Bolsonaro e provocar uma crise no regime político: o ex-presidente Lula.