O senador petista Jacques Wagner declarou em entrevista à Radio Metrópole que discorda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assinalou que o Partido dos Trabalhadores deve construir sua intervenção política sem esperar os apoios de Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Para o ex- governador da Bahia, é preciso fomentar um “diálogo” com as forças políticas que constituem o “campo progressista”. Isso mesmo reconhecendo que tanto Marina Silva como Ciro Gomes atacam o PT reiteradas vezes.
“De uma certa forma, Marina disse que quem inventou fake news foi o PT. Ciro bate toda hora. Até entendo, não concordo com a fala. Primeiro que você nunca diz que não quer, deixa o outro dizer. Se o outro não quiser se juntar, não sou eu que vou chutar o cara” (https://www.metro1.com.br/noticias/politica/92316,wagner-discorda-de-lula-e-pede-dialogo-do-pt-com-ciro-e-marina?)
Dessa forma, Jacques Wagner afirma que é preciso “insistir” e que o PT não deve apresentar obstáculos, mas pelo contrário, deve fazer vista grossa em relação aos ataques e acusações que os possíveis “ aliados” possam proferir. “Marina disse que quem inventou fake news foi o PT. Ciro bate toda hora.”, mas o negócio é “ entender” os “ aliados”, que se comportam como adversários.
Mas por que a crítica de Wagner a fala de Lula? O que ela expressa? Do mesmo modo que outras figuras da direita do PT e do PCdoB, as afirmações de Jacques Wagner expressa a política de “ frente ampla”, que significa uma aliança com a burguesia em nome da construção de “ uma unidade” da oposição.
Enquanto figuras políticas como Marina, e mais ruidosamente Ciro Gomes buscam atacar o PT visando a constituição de bloco “ alternativo” , em uma operação de sequestro do capital eleitoral do PT, setores do próprio PT advogam a “ aliança” a qualquer custo.
As declarações do ex-presidente Lula em relação a Marina Silva e Ciro Gomes refletem a percepção da movimentação política de Ciro e Marina como tentativa de expropriação do capital político do PT. Por sua vez, as críticas de Wagner indicam que perdura a disputa política no interior do PT.
A direita do PT tem como política geral a capitulação diante da direita golpista, com a política de “virada da página do golpe”, lançada antes da consumação do impeachment de Dilma Rousseff. Ainda nas eleições de 2018, Rui Costa, governador da Bahia, defendeu a composição com Ciro Gomes, ainda no primeiro turno, sendo que a defesa de uma “frente ampla” agora nada mais é do que a continuidade dessa política de adaptação ao regime golpista.
A defesa da frente ampla pela direita do PT tende a liquidar o PT como uma força política minimamente relevante. No desenvolvimento da crise política do governo Bolsoanro, a burguesia golpista lançou suas fichas em todas as direções. Uma das mais importantes é o controle sobre a oposição institucional, para isso o bloco “alternativo” que o PDT, Rede, PSB e Cidadania estão constituídos é parte dessa operação. Neste cenário, a política de frente ampla nada mais é do que a liquidação até mesmo da esquerda parlamentar, e subordinação, inclusive eleitoralmente do PT à políticos burgueses como Ciro Gomes e Marina Silva.