Puxado pelos setores de alimentos e transportes, o IPCA, índice oficial de inflação do País, voltou a crescer em novembro e ficou acima do esperado pelo mercado. A alta foi de 0,89%, ante 0,86% em outubro. É o resultado mais alto para o mês desde 2015, quando ficou em 1,01%.
Com isso, o acumulado em 12 meses ficou em 4,31% e ultrapassou o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4%, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 8, pelo IBGE. No acumulado de janeiro a novembro, o índice está em 3,13%.
IPCA (índice de preços do consumidor amplo) teve o maior índice já registrado desde 2002, quando bateu 1,31%. A alta se justifica pelo aumento dos valores dos alimentos e do transporte. Os dados divulgados pelo IBGE se referem as famílias com renda de um a quarenta salários mínimos, ou seja, ataca toda a parcela mais pobre da população em itens de consumo de primeira necessidade. Para a classe trabalhadora brasileira sobreviver esta cada vez mais difícil, a inflação está nas alturas e o reflexo disso se da no custo de vida. Uma simples ida ao mercado consome quase toda a renda do povo; que já é baixíssima.
A pandemia gerou confinamento parcial da população e mostrou queda do consumo. Então, como explicar a inflação? O mais provável é que a grande desvalorização do real frente ao dólar foi a causa, porque a maioria dos insumos utilizados na agricultura são importados.
A desvalorização do real é consequência da política, ou melhor, da falta de política do governo Bolsonaro, que além de nada fazer para enfrentar as crises econômica e da saúde, fez apenas transferir 1,2 trilhões aos bancos e grandes empresas, enquanto retirava dos trabalhadores grande soma em benefícios sociais, previdenciários, trabalhistas e redução dos salários. E ainda reduziu os estoques de produtos do governo, cujo objetivo era regular os preços no mercado.
Aumentou a crise social deixando o governo em completa instabilidade, uma bomba relógio pronta a explodir a qualquer tempo. Diante do caos, e taxa de lucros duvidosas, os investidores retiraram seus montantes especulativos, fazendo com que o real se desvalorizasse com a falta de dinheiro no sistema.
E por isso o povo enfrenta a pior inflação nos últimos 17 anos, desde a gestão do FHC (PSDB), governo que deixou o país na mais completa miséria para os trabalhadores, sem empregos, inflação altíssima e privatizações que não resolveram a falta de recursos do Estado, como a agravaram.
Evidentemente não resolveria mesmo, já que naqueles tempos como agora também, o problema central é a dívida pública que através dos juros exorbitantes retiram cerca de 47% da arrecadação do estado, e rouba dos trabalhadores sua renda, já que são eles que pagam a quase totalidade dos impostos. Os ricos não são tributados, nem as grandes fortunas. Cerca de 70% dos impostos arrecadados vem dos trabalhadores com renda de até 5 mil reais.
Na semana passada, o banco Credit Suisse patrocinou um evento para discutir as estratégias e visão dos banqueiros para a América Latina, em 2020. Sobre o Brasil, o debate ficou por conta dos economistas neoliberais Gustavo Franco, Armínio Fraga e Pérsio Arida, que apresentaram suas avaliações sobre Bolsonaro.
Em que pese diferenças pontuais entre cada um, os três foram unânimes em defender um neoliberalismo mais agressivo para o Brasil. Ficou claro que entre os principais representantes do capitalismo financeiro internacional que parasita o país, que Bolsonaro não é o candidato favorito, mas um “casamento de conveniência”, nas palavras de Gustavo Franco. Segundo este, que foi presidente do Banco Central durante as duas gestões de FHC, e assessor de João Amoêdo (Novo) nas últimas eleições, Bolsonaro desconhece e se desinteressa pela Economia, mas conta com o assessoramento de Paulo Guedes. O arranjo está funcionando, mas de maneira um pouco precária.
Arida, que foi assessor da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB), considerou que Bolsonaro está sendo muito menos liberal do que o prometido. Este banqueiro queria maior “abertura comercial”, ou seja, facilitar a entrada de produtos estrangeiros baratos que quebram a indústria nacional. Ele também se decepcionou com as privatizações, que foram em número menor do que o esperado. Arida também reclamou que Bolsonaro não deveria simplesmente diminuir o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), pois estes fundos não deveriam mais existir. O economista ressaltou que esta “falta de neoliberalismo” não é culpa do Congresso, mas das próprias propostas de Bolsonaro, que são muito “tímidas”, e colocam Bolsonaro num patamar “tão estatizante quanto a própria esquerda.”
Armínio Fraga, que foi apontado como possível Ministro da Fazenda de Aécio Neves (PSDB), caso vencesse em 2014, não deixou por menos, e disse que é necessário dar continuidade às “reformas”, como a previdenciária, reduzindo “gastos com funcionalismo e subsídios excessivos,” ou seja, demitindo e abaixando os salários.
Os três discursos mostram que os economistas cotados pela direita dita “civilizada” podem ser até mais nocivos do que os governos abertamente fascistas, como o de Bolsonaro. Bolsonaro foi a opção disponível, já que seus candidatos favoritos não chegaram nem perto do segundo turno. Mas estes representantes diretos da grande burguesia continuarão pressionando para que a política econômica seja duríssima e aprofunde a exploração do trabalhador.
Ao invés de procurar o “menos pior”, a esquerda deve parar de flertar com estes neoliberais, chamados eufemisticamente de “centro-direita”. É preciso um programa de luta, não meramente eleitoral, para derrubar o regime e tirar do poder esta quadrilha parasitária.