Identitários querem cancelar um estudo acadêmico sobre impacto de mulheres no desempenho científico. O estudo é do campus Abu Dhabi da Universidade de Nova Iorque e causou “polêmica” nas redes sociais, onde feministas identitárias têm pedido um “cancelamento” editorial da publicação na revista Nature Communications.
O motivo do pedido de cancelamento do artigo (“A associação entre mentoria informal em colaborações acadêmicas de início de carreira e desempenho do autor júnior”) é um trecho do artigo que afirma: “Nosso estudo […] sugere que protegidos do sexo feminino que permanecem na academia colhem mais benefícios quando recebem mentoria de homens do que de mulheres com igual impacto”.
No caso, o que o artigo diz é que as mulheres são mais citadas na academia quando seus estudos/pesquisas são coordenados por homens. Isto é, trata-se simplesmente de uma constatação, que na realidade mostra a posição inferior da mulher na sociedade capitalista – isto ocorre mesmo no meio acadêmico, num setor mais privilegiado da população.
Por pressão dos identitários, que querem censurar o artigo, a revista teve de adicionar notas críticas ao artigo e o manuscrito original foi bastante alterado (com a concordância dos autores). Setores mais “radicais” do identitarismo, porém, têm se manifestado no sentido de jogar o trabalho no lixo. Estes grupos têm falado que com a constatação feita pelo artigo as mulheres da academia irão chegar à conclusão de que deve-se buscar mentores homens se quiserem ter sucesso na carreira. Por isso, o artigo seria “machista”.
No fundamental, censurando o texto ou não, a situação de opressão da mulher dentro do meio acadêmico não irá mudar em nada e o que foi relatado pelo artigo vai continuar sendo realidade. Censurar o texto apenas é uma medida que vai servir para encobrir a situação da mulher, ajudando a atrasar a consciência das mulheres sobre sua péssima condição na sociedade.
É a política tipicamente identitária: quando não se tenta modificar a realidade com superficialidades, busca-se censurar. Vale destacar a política do identitarismo que quer banir o uso de alguns termos pejorativos ou policiar quem faz comentários/piadas/artigos “moralmente incorretos” – indo ao ponto do movimento identitário realizar uma verdadeira aliança com a direita para censurar artistas, comediantes, políticos… sempre com um “bom motivo”.
Alguns setores pedem mais repressão para estupradores, por exemplo, acreditando que assim a causa dos estupros será extinta. Quando não se trata de aumentar penas para crimes já existentes, busca-se criar novos crimes, como por exemplo multar homens que assobiarem para mulheres nas ruas. Trata-se de um política extremamente direitista que não resolve em nada o problema da mulher, que surge da propriedade privada dos meios de produção, tendo sido a opressão do homem sobre a mulher o primeiro fenômeno da sociedade de classes.
No caso do artigo mencionado, não há nada nem que possa ser considerado “moralmente incorreto”. É apenas uma constatação que mostra a situação inferior da mulher dentro da academia. Agora, imaginemos que fosse um artigo (pseudo)científico que “comprovasse” a inferioridade da mulher. Mesmo neste caso não seria bom a censura. O melhor seria refutar o artigo com argumentos concretos.
Com o clima policialesco que os identitários geram, os principais prejudicados serão principalmente os oprimidos. O caso de Mari Ferrer (por mais que o PCO não defenda ir às ruas pedir prisão, reforçando o punitivismo) mostrou que empresários não são punidos por seus atos. “O crime do rico a lei o cobre, o Estado esmaga o oprimido”, afirmou o hino operário “A Internacional” no século XIX. E isso continua valendo até hoje. Neste caso específico, só favorece a censura dentro do meio acadêmico. E assim, a extrema-direita e o imperialismo agradecem.
Finalmente, colocar o problema neste âmbito apenas joga poeira nos olhos das mulheres. O correto seria usar os dados do texto para mostrar a situação da mulher e reforçar o argumento de que as mulheres precisam se organizar em comitês, coletivos e partidos para mobilizar pelos seus direitos e lutar contra o real motivo da opressão.
Por isso, a política do PCO é totalmente contrária à censura e ao punitivismo e, assim, é totalmente oposta da promovida pelo identitarismo. Para o PCO, os problemas das mulheres são reais e não devem ser escondidos. As mulheres são inferiorizadas no sistema atual e para derrotar o sistema, é preciso combatê-lo. É nesse sentido que o partido tem o Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo, para reunir as operárias e lutar junto aos operários no sentido de reivindicações reais, sem esconder a situação.
O coletivo se reúne semanalmente, realiza manifestações, palestras e debates, publica panfletos e revistas etc. Esse é o caminho para organizar as mulheres em torno do poder político e reverter a situação opressiva em que são subjugadas. Contra a censura, o debate; contra o punitivismo, a luta contra o Estado capitalista; contra os privilégios de algumas mulheres que se beneficiam da política identitária, a revolução proletária.