Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela a cruel face da miséria no Brasil: metade das crianças com menos de cinco anos de idade no país padecem com alimentação precária ou fome. A divulgação, noticiada em matéria do jornal Valor Econômico, típico veículo endereçado aos capitalistas, foi feita nesta quinta (17/09) pelo IBGE.
A pesquisa dá conta do período 2017/ 2018, chama-se “Pesquisa de Orçamentos Familiares, e mostra que o país tinha então 13,075 milhões de crianças na faixa de zero a quatro anos, das quais 6,539 milhões estavam em situação de insegurança alimentar. Esse número equivale a 50% do total de crianças brasileiras nesta faixa etária. Entre as crianças com nutrição precária, 672 mil estavam em situação grave, na qual se considera que a família está passando fome.
É óbvio que este crime contra o povo brasileiro, iniciado após o golpe de 2016 que derrubou o governo petista, é também um crime contra as crianças e suas consequências nefastas são de difícil mensuração. É certo que as crianças terão, além do sofrimento presente, marcas traumáticas para o resto da vida, desde o desenvolvimento físico e cognitivo até sua condição psicológica. Isso se a carestia antes não lhes roubar a chance de crescer.
Longe de ser produto de “má sorte”, esses números revelam o projeto de poder da direita, que é assassinar e enfraquecer o povo e sua capacidade de fazer qualquer coisa além da luta diária para manter-se vivo, perpetuando a dominação burguesa, seja com Temer, seja com Bolsonaro. A política criminosa se evidencia nos números: segundo a pesquisa, os domicílios com mais pessoas são os mais afetados pela insegurança alimentar. São 4,3% dos lares com alimentação precária, porém apenas 1,1% das casas com segurança alimentar. As famílias que deveriam ter o maior apoio são as que mais sofrem.
O trabalho do IBGE também mostrou que há mais frequência de insegurança alimentar entre os brasileiros de cor não branca e habitantes de zonas rurais. O cálculo é de que 36,7% dos domicílios brasileiros vivem em situação de alimentação precária, desde leve até grave (na qual a fome é uma “experiência vivida”), o que corresponde a 25,275 milhões de lares. A presença da fome é proporcionalmente maior nas zonas rurais, onde 7,1% das famílias encara esse martírio contra 4,1% do meio urbano.
E claro que o projeto da elite de massacre do povo preto aparece nos dados: 58% das famílias em situação de fome são de cor parda e 15,8% classificadas como de cor preta. Também aparece a correlação entre outros aspectos deficitários e alimentação. Apenas 47,8% dos domicílios em insegurança alimentar moderada está ligado à rede geral de esgotos, e 43,4% no caso da insegurança grave, ou seja, fome. Quer dizer, não há comida e também não há higiene. Além disso, entre os domicílios nos quais a alimentação é considerada
adequada, 60,9% deles fazem uso de energia elétrica, enquanto nas casas onde há insegurança moderada e grave se usa mais lenha ou carvão, sendo, respectivamente, em 30 e 33,4% daquelas casas o uso desses recursos.
Ainda que os especialistas possam tecer considerações mais elaboradas a partir destes números, claro está que, diferente da ideologia do cada um por si da direita, a realidade é que são as condições de vida que determinam o sofrimento e a carestia da população. Onde há miséria não há comida, higiene, os métodos práticos da vida diária são mais difíceis e, obviamente, as condições tanto para melhoria individual como para organização coletiva são atacadas. Esse é o projeto dos ricos e seus asseclas, os golpistas, para o Brasil.