Com quase 40 milhões de desempregados nas estatísticas oficiais, além de outros 14 milhões de trabalhadores que podem estar na mesma situação porém com o agravante de não aparecerem nas estatísticas, pelo simples fato de não conseguirem sequer se inscrever no programa de assistência aos desempregados, não há dúvidas de que a principal nação capitalista do mundo passa por uma severa crise. Contudo, só os muito inocentes podem imaginar que a expressiva deterioração da economia atinge a totalidade da sociedade. Este mesmo DIÁRIO CAUSA OPERÁRIA vem há tempos destacando uma obviedade que muitas vezes, escapa aos setores menos politizados da população: a crise, longe de promover uma pacificação social idílica, intensifica a luta de classes. Faltava, contudo, elementos que permitissem uma compreensão mais concreta a esta afirmação. Não há mais.
Um estudo divulgado no sítio norte-americano Inequality demonstra que a fortuna combinada de míseras 630 pessoas atingiu inacreditáveis US$3,382 trilhões no último 19 de maio, contra US$2,948 trilhões que o bando de bilionários tinha em 18 de março, início da pesquisa quando, inclusive, eram menores em número: 614. O incremento da fortuna destas pessoas, de US$434 bilhões, implica em um crescimento de 15% na riqueza (um produto social, nunca é demais lembrar) confiscada por estes burgueses. O total expropriado não se trata de qualquer troco mas de um valor que supera o PIB de um país tão poderoso quanto a Alemanha (US$3,84 trilhões).
O fenômeno acontece, curiosamente, num momento em que governos do mundo inteiro colocam expressivos percentuais do produto interno bruto de seus países no mercado financeiro, a título de “resgate à economia”, eufemismo que aqui, se revela em seu caráter mais espúrio, caso mesmo dos Estados Unidos, que anunciaram o maior “pacote de resgate” da história, então orçado em US$2,2 trilhões mas que já está se aproximando dos US$3 trilhões.
Ainda mais revelador sobre o fundamento político da riqueza na sociedade burguesa de conjunto, a fortuna destes burgueses cresce num ritmo absurdamente descompassado com a realidade do próprio país, os EUA, cuja economia tem previsão de retração recorde para o segundo trimestre, da ordem de -42,8%, o que significa uma perda superior a US$9,15 trilhões, o que obviamente, não quer dizer que todos perderam, só uma esmagadora maioria, com especial destaque a um contingente de trabalhadores desempregados, em um número grande o bastante para superar, em população, 21 dos 50 estados norte-americanos. Para o ano de 2020, analistas trabalham com uma redução -4,8% do PIB americano.
A reportagem do sítio Inequality demonstra de maneira muito clara a natureza real do capitalismo, para além de fantasias idealistas diversas. Despido de toda a parafernália propagandística, o capitalismo é uma gigantesca maquina econômica de exproporiação da classe trabalhadora, mesmo na mais rica nação do mundo, que amarga o desemprego e a miséria enquanto o governo aumenta os repasses à esta burguesia decadente que não vive de outra coisa mas do puro e simples roubo da riqueza.