Na última semana, o fascista João Doria (PSDB), governador do mais rico e mais populoso estado do País, veio a público ameaçar a população com medidas escancaradamente ditatoriais. Em sua fala, Doria declarou que, se a quarentena não fosse mantida nos níveis determinados pelo governo estadual — isto é, 60% —, a polícia iria não só advertir, como efetivamente dar voz de prisão às pessoas que estivessem na rua.
Com a declaração, o governador paulista deixou claro qual é a orientação da burguesia para a crise. Não há por parte de Doria, nem de qualquer outro governador, nem muito menos de qualquer funcionário do governo Bolsonaro, o interesse em salvar a população da pandemia de coronavírus, mas sim administrar a situação para evitar que uma explosão ponha o regime político abaixo.
A imprensa burguesa, apoiada cegamente pela esquerda pequeno-burguesa, tem defendido que João Doria, Wilson Witzel e Luiz Henrique Mandetta seriam heróis nacionais porque ignoraram a orientação do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, que se opôs a qualquer tipo de isolamento social. Tal heroísmo, no entanto, não passa de uma farsa, uma vez que nenhum desses está tomando medidas efetivas para conter o avanço do coronavírus no Brasil.
Os hospitais paulistas estão muito próximos de entrar em colapso total — como já aconteceu com o sistema de saúde amazonense. O maior esforço feito até agora pelo governo Doria para evitar o colapso foi estabelecer alguns hospitais de campanha, que, se tanto, aumentaram em algumas centenas o número de leitos. Dezenas de corpos estão sendo enterrados nos cemitérios paulistas, todos com sintomas do coronavírus. No entanto, não entram para as estatísticas oficiais pela falta de testes.
Se há tanto descaso com a população, por que, de repente, Doria estaria tão empenhado a salvar o povo a ponto de lançar mão da força policial? A resposta é óbvia, ainda mais considerado o histórico carniceiro da Polícia Militar de São Paulo sob o comando do PSDB: aumentar a repressão do Estado, de modo a conter a crise. Não a crise sanitária, que matará milhares de pessoas. Mas a crise política, cada vez mais intensa diante da impopularidade da política neoliberal.