Em reunião ministerial do governo Bolsonaro, divulgada por determinação do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirma que a morte de indígenas por infecção pelo Covid-19 é uma “contaminação criminosa” organizada pela esquerda. O objetivo seria o de “dizimar aldeias e povos inteiros pra colocar nas costas do presidente Bolsonaro”.
Damares diz que viajou até os Estados de Roraima e Amazônia acompanhada do presidente nacional da Funai e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para apurar a notícia da contaminação criminosa promovida pela esquerda. Após isso, se reuniu com generais do Exército e com o superintendente da Polícia Federal para apresentar e discutir sua tese. Nos Estados, a ministra se reuniu com os governadores de direita Antonio Denarium (PSL) e Wilson Lima (PSC).
No dia da acusação de Damares, já eram nove indígenas mortos, segundo levantamento feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). O Conselho Indígena Missionário (Cimi) aponta subnotificação crônica dos casos de coronavírus nas aldeias. A primeira morte registrada foi a de uma indígena Yanomami de 15 anos no dia 9 de Abril.
As organizações indígenas divulgaram cartas onde denunciam a ameaça real de genocídio nas aldeias. Não há qualquer medida de proteção aos povos, que estão completamente desamparados pelas autoridades, em especial as do governo federal.
As afirmações de Damares são significativas e indicam a linha política do governo Bolsonaro em relação aos povos Indígenas, que é a de não fazer nada e procurar maneiras de responsabilizar a esquerda, para assim ter um objetivo de proceder à repressão política e ao fechamento do regime, na medida em que se poderia acusar a esquerda de promover o genocídio intencional.
No começo de Abril, foi destinado 10,8 milhões para a Funai o combate à pandemia. Contudo, duas semanas depois, nenhum centavo havia sido empenhado. Com R$ 45 milhões em caixa, Damares empenhou R$ 1.059,00 para o combate ao coronavírus. No dia da reunião, foi revelado que a ministra utilizou R$ 1 milhão de verba emergencial, que deveria ser usada para o combate ao Covid-19, na compra de duas camionetes.
É urgente a mobilização de todas as organizações indígenas pelo Fora Bolsonaro, que permite o genocídio e indica que nada será feito por parte do governo federal para impedir a mortandade entre os povos indígenas. Inclusive, o extermínio dos povos indígenas por causas “naturais”, isto é, da doença, facilitaria o trabalho de avançar sobre suas terras e abri-las para o latifúndio exportador e as mineradoras.