Um dos principais dirigentes do DEM – maior partido herdeiro da Arena (partido oficial da ditadura militar) – o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Mais (DEM-RJ), vem procurando atuar como articulador de uma chapa comum da direita golpista (que se denomina de centro) para as eleições de 2022. No meio do caminho, busca também articular a questão das eleições para o comando das casas legislativas federais, no começo de 2021.
O Supremo Tribunal Federal (STF) já começou julgar uma ação judicial que pode definir sobre a possibilidade de reeleição dos atuais presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Mesmo sem declarar abertamente, Maia é candidato à uma terceira reeleição (depois de um “mandato tampão” e dois regulares) e, no mínimo, busca garantir o controle do “centrão” sobre as duas casas, em um processo de disputa com os setores mais diretamente ligados ao presidente ilegítimo Jair Bolsonaro.
DEM-PDT e toda a direita golpista
Em meio a uma gigantesco avanço da crise econômica e social, que fica mais clara depois da campanha eleitoral – quando foi ocultada pela imprensa golpista e pelo silêncio de quase 100% dos candidatos e partidos acerca de questões centrais como o agravamento da pandemia (genocídio!), recorde de desemprego e de famintos, aumento da inflação etc., Maia busca acelerar um entendimento geral em torno do controle sob o regime político, o que envolve – de imediato – o comando do Congresso e, mais à frente, um plano dos setores mais poderosos da burguesia e do imperialismo e dos seus partidos políticos, em relação às eleições presidenciais de 2022. Deixou explícito, em mais de uma oportunidade quais são os principais setores que vem procurando para “costurar” esse acordo. Em matéria publicada pelo portal UOL, encontramos a seguinte passagem:
João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e o apresentador Luciano Huck. Estes foram alguns dos nomes citados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), como possíveis lideranças em uma aliança de centro para as eleições de 2022.
As fraudulentas eleições municipais, recém-encerradas, foram um “ensaio geral” da política que essa direita golpista, da qual Maia é um dos líderes, quer implementar.
Nos “sonhos” de Maia e de outros golpistas está repetir, mesmo que com variações, o que foi alcançado no Rio de Janeiro, onde o candidato do DEM, Eduardo Paes, saiu vitorioso com o apoio dos setores mais importantes da direita golpista, de alas do próprio bolsonarismo e da imensa maioria da esquerda burguesa e pequeno burguesa. A manobra ainda contou desde a desistência da pré-candidatura do deputado Marcelo Freixo (PSOL) até o apoio do PT, golpeado por um processo de manipulação e fraude, do qual participaram abertamente o PDT de Ciro Gomes e, é claro, a imprensa golpista e suas pesquisas fajutas que fizeram campanha de que a candidata do PT não teria qualquer chance de chegar ao segundo turno e que seria necessário – no primeiro turno – o “voto útil” em favor da candidata reacionária pedetista, a ex-chefe de Polícia Martha Rocha. No segundo turno, a fraude foi concluída, com a direita oferecendo seu apoio ao ex-secretário-geral do PSDB (durante a CPI do chamado “mensalão” dos Correios) e candidato de Maia, a pretexto de “derrotar Bolsonaro”. No dia seguinte às eleições, Paes se confraternizava com Bolsonaro, dizendo-se amigo de longa data do presidente.
Maia pela direita e Ciro pela esquerda
A unidade do “centro” golpista e reacionário com a esquerda golpista, liderada por Ciro Gomes e outros, vem sendo costurada de longa data.
Nas eleições municipais estes setores se articularam em torno de um dos seus principais objetivos que era, e continua sendo, isolar e – se possível, destruir as possibilidades eleitorais do PT, atacando principalmente, o ex-presidente Lula e seus aliados, por conta da capacidade do mesmo impulsionar uma mobilização que impeça a consumação dos planos da direita.
Assim, por exemplo, DEM e PDT selaram alianças como em Salvador, quando o presidente do que foi a Arena e atual prefeito da capital baiana declarou:
“Aliança em Salvador é recado que DEM e PDT querem futuro comum”
Na mesma linha, Gomes, que é vice-presidente nacional do PDT, elogiou entusiasticamente o DEM (que já o apoiou em uma de suas candidaturas presidenciais), dizendo que o partido herdeiro da ditadura
“Foi uma peça fundamental para redemocratizar o Brasil”
e que hoje cumpre um papel essencial de
“plantar a semente de um novo Brasil que nós queremos construir”.
Ciro e Maia e seus partidos estiveram unidos não só em Salvador, como também em Fortaleza.
Lá o candidato de Gomes à prefeitura, José Sarto, tinha na sua coligação, além do vice Élcio Batista, do PSB, “o apoio desde o primeiro turno do DEM e do PSDB. A partir do segundo turno se somaram ao arco de alianças o Psol, o PT e o PCdoB“. Para viabilizar a vitória do pedetista montou-se uma ampla campanha reacionária contra a candidata do PT.
Essa frente antipetista, com variadas formas, repetiu-se em São Paulo, para tirar o PT do segundo turno (na forma de apoio ao candidato da esquerda escolhido pela direita, Guilherme Boulos), no Recife, com a campanha “bolsonarista”, em favor da chapa PSB-PDT-PCdoB, e em muitos outros lugares.
Passadas as eleições, Ciro Gomes (PDT), mantém-se como um dos principais articuladores da frente ampla golpista que segue com seus ataques contra Lula e o Partido dos Trabalhadores.
Fica evidente a função que, mais uma vez, foi dada a Ciro Gomes, um “direitista raiz” (que iniciou sua carreira política na Arena e passou ou teve o apoio de quase todas as máquinas politica da burguesia) para se passar por esquerdista, a fim de se aliar com a esquerda pequeno-burguesa como o PSOL e o PCdoB para levantar para ajudar a burguesia a derrubar o PT, como parte da política de cassar totalmente a representação política dos trabalhadores (ainda que na limitada forma institucional) e apoiar a ofensiva contra os explorados em favor dos grandes capitalistas.
Não por acaso, Gomes comemorou o resultado das eleições fraudulentas vencidas pela direita golpista, com partidos golpistas moribundos como o DEM, PSDB MDB, PSD e PP, elegendo quase 3 mil prefeitos e abrindo caminho para seus planos de consolidação do golpe de Estado de 2016. Segundo ele,
“Foi uma vitória importante desse campo que nega os extremos. O lulopetismo corrompido e o bolsonarismo boçal foram varridos da vida brasileira nas grandes cidades”.
Como outrora, o abutre Ciro Gomes desempenha esse papel essencial para a frente ampla de ser um elemento impeditivo à unidade da esquerda em torno de Lula e do PT.
O namoro entre Ciro Gomes e o PSOL
O histórico de alianças, afagos e elogios entre Ciro Gomes e Rodrigo Maia é bastante extenso, e apenas comprova o que não é novidade alguma: o pedetista é um filhote da ditadura militar, um coronel que iniciou sua atividade política no partido da ditadura militar. Se podemos definir os interesses de Ciro Gomes a partir de sua relação com Rodrigo Maia, seguindo o conselho de que “dizes com quem andas, que digo quem tu és”, podemos, da mesma maneira, definir os interesses do PSOL a partir de sua relação com o próprio Ciro Gomes.
Afinal, se Ciro Gomes é um representante da mesma classe social que Rodrigo Maia — apenas com a diferença de que sua credencial de “pedetista”, “brizolista” ou “nacionalista” lhe permite transitar onde o DEM não consegue —, o namoro entre o PSOL e Ciro Gomes é, no fim das contas, um namoro com o DEM.
Em setembro, às vésperas das eleições municipais, quando Ciro Gomes já havia demonstrado seu interesse em se aliar com o DEM em várias cidades e atacado o PT de todas as formas, Juliano Medeiros anunciou com alegria seu encontro com o pedetista:
Hoje conversei com o companheiro @cirogomes. Discutimos a necessidade de formar um amplo movimento em defesa do serviço público e do Estado brasileiro. Vou procurar os demais líderes da oposição com o mesmo objetivo. É hora de unidade em defesa do Brasil e contra Bolsonaro!
— Juliano Medeiros (@julianopsol50) September 10, 2020
A vontade de defender Ciro Gomes foi tão grande que, quando este Diário o criticou na época, Juliano Medeiros disparou uma série de ataques de tipo stalinista contra o PCO. Tanta agressividade para defender o encontro com Ciro Gomes mostra que o relacionamento é de fato sério.
Não demoraria muito para Juliano Medeiros voltar a demonstrar publicamente sua excitação com Ciro Gomes. Quando a imprensa capitalista mentiu afirmando que Lula e Ciro Gomes haviam se encontrado, Juliano Medeiros saiu aplaudindo a iniciativa:
É positiva a retomada do diálogo entre @LulaOficial e @cirogomes. Tenho diferenças com ambos, mas reconheço que são vozes importantes na luta por um Brasil mais democrático. Diálogo e respeito às diferenças; guerra sem tréguas a Bolsonaro e a velha direita. Esse é o caminho.
— Juliano Medeiros (@julianopsol50) October 29, 2020
Desprovido de ciúmes, Juliano Medeiros quer compartilhar aquilo que é bom com todo mundo…
Mas a relação entre Ciro Gomes e o PSOL não para por aí. Guilherme Boulos, que alugou a legenda, com o dinheiro da Folha de S.Paulo, para concorrer à prefeitura da capital paulista neste ano, também abriu os braços para receber Ciro Gomes. O pedetista se declarou para Boulos da seguinte maneira:
“Em São Paulo, trata-se de deixar como está ou mudar. A mudança é Guilherme Boulos e Luiza Erundina. É garra e experiência para garantir uma mudança segura”.
E Boulos, muito grato, apoiou o candidato de Ciro Gomes à prefeitura de Fortaleza, o direitista José Sarto.
A colaboração do PSOL com o DEM já pode se ver na prática. No Rio de Janeiro, por exemplo, Marcelo Freixo não só retirou sua candidatura, mas declarou que gostaria de apoiar Eduardo Paes (DEM) no segundo turno. A legenda, finalmente, ingressou, de cabeça, na política da frente ampla, de colaboração escancarada com a direita golpista.
Contudo, acessar os escritórios dos grandes patrões da política nacional não é para qualquer um. Para que Rodrigo Maia e a burguesia de conjunto não tenha de lidar diretamente com o PSOL, nada melhor do que negociar com seu mais fiel funcionário.