Em coluna publicada no portal Brasil 247 na edição do último sába o (25), Ricardo Cappelli procura fazer uma análise do desempenho de Bolsonaro em pesquisa de opinião recentemente encomendada e amplamente difundida pela imprensa burguesa, onde o fascista teria melhorado sua avaliação. Claro que a credibilidade destas pesquisas é duvidosa, pra dizer o mínimo, porém chama atenção os argumentos utilizados pelo colunista em seu esforço de tornar crível a propaganda da burguesia. Isto por que, dois fatores fundamentais são elencados por Cappelli para expllicar o crescimento de Bolsonaro: um relacionado aos auxílios emergenciais que muitos não conseguem receber. O outro aparece na afirmação de que “abafou os olavistas e vive uma trégua com os poderes.” E sobre esta parte que precisamos ter um debate mais claro.
Sendo estas pesquisas de opinião produzidas e difundidas pela burguesia, é natural que reflitam o posicionamento que interessa a seus patrocinadores. E o interesse dos grandes capitalistas em colocar Bolsonaro na linha é antigo, podendo ser facilmente medido pelo teor dos editoriais da imprensa capitalista. Isto precisa ser contextualizado para não acabarmos dando crédito a explicações fantasiosas sobre aspectos culturais da população, que busquem explicar o “sucesso” de Bolsonaro entre a classe dominante sob bases subjetivas quando a realidade demonstra que a melhora na avaliação divulgada vem na sequência de manifestações populares expressivas e direcionadas contra o fascista.
Assim, a divulgação de um melhor desempenho em sua avaliação relacionada à trégua com os poderes é verdadeira em certo aspecto mas do ponto de vista da burguesia apenas. No quadro amplo da luta de classes, isto é resultado do enfraquecimento da base bolsonarista, o que obrigou Bolsonaro a buscar apoio crescente do centrão, aceitando também a coleira imposta pelo setor mais poderoso da classe burguesa. Nesse sentido, o que a submissão crescente de Bolsonaro revela é justamente o contrário do que a pesquisa procura propagandear: sua popularidade é cada vez menor.
Este aspecto fundamental acaba sendo lembrado de outra forma mas não é por acaso. A medida que Cappelli se mostra nitidamente focado no processo eleitoral, um aspecto cada vez menos importante para o desenvolvimento da luta política no País, o colunista tende a destacar de maneira positiva o fato da direita centrista ter mais controle sobre Bolsonaro, assim como a defesa de supostas “importantes vitórias pontuais” conquistadas pela oposição, que desde o golpe de 2016 nunca ganhou nada minimamente sério no Congresso.
Porém nem o crescimento da direita que orquestrou mensalão, petrolão, Lava Jato, o golpe contra Dilma e a prisão de Lula representa nada de bom para a esquerda e exceto para os setores em defesa da frente ampla, ninguém ganhou nada com as tais “vitórias pontuais” da oposição. A esquerda continua na defensiva e o que se verificou de vitórias nos últimos anos não tiveram relação alguma com o Congresso mas com a mobilização popular nas ruas. Aqui sim, vimos o oposto do que a propaganda da burguesia se esforça para massifica e a esquerda pequeno-burguesa teima em ajudar a propagar. O, pelo menos desde o Carnaval de 2019, é amplamente favorável ao “Fora Bolsonaro”. Mas precisa ser chamado às ruas.