É fato histórico que, depois das ditaduras de Hitler e Mussolini, todas as que se seguiram incorporaram elementos do fascismo em sua política de aniquilamento da esquerda e do movimento operário e popular, com o objetivo de neutralizar a luta de classes e, com isso, dispersar e atomizar a classe operária.
A não ser pela presença de Bolsonaro, quem cruzasse com o velhinho da foto divulgada pela imprensa em cadeira de rodas, decrépito e já no final da vida, não imaginaria que, por trás daquela aparência frágil, se encontra um dos mais bárbaros torturadores da ditadura militar.
Sebastião Rodrigues de Moura, vulgo Major Curió, atualmente é coronel da reserva do Exército. Notabilizou-se pelo papel que cumpriu em dois acontecimentos marcantes da ditadura militar: agente do SNI destacado para aniquilar com a guerrilha do Araguaia e posteriormente interventor da ditadura no garimpo de Serra Pelada.
Curió cumpriu um papel na guerrilha do Araguaia semelhante ao que um dos mais brutais fascistas da ditadura, o delegado do DOI-CODI, Sérgio Paranhos Fleury, cumpriu em São Paulo. A função de ambos era a de aniquilar com os movimentos guerrilheiros tendo como métodos a tortura, o assassinato e o sumiço dos corpos.
Não se pode negar que ambos, nesses quesitos, foram bem sucedidos, muito embora sem méritos. Não combateram e derrotaram movimentos bem estruturados e fortes. Em que pese toda consideração que se deve ter por centenas de militantes que entregaram a vida achando que estavam libertando o País – na realidade, os movimentos guerrilheiros no Brasil, foram resultados do desespero e da impotência de um setor da esquerda pequeno-burguesa, baseados numa falsa avaliação do que havia ocorrido nas revoluções chinesa e cubana e que, salvo alguns feitos heróicos, nunca chegou a colocar em xeque a ditadura militar.
Desse ponto de vista, muito covarde foi a ação de fascistas como Curió e Freury. O caso do Araguaia é exemplar nesse sentido. No auge do movimento, chegou a contar com cerca de 80 militantes. Curió foi destacado para a segunda fase da operação de combate à guerrilha, que vai de 1972 a 1974, em um momento em que já eram inúmeras as mortes e o movimento já se encontrava em situação de dispersão.
Mesmo diante dessa constatação, como para todo o movimento fascista o que reza é a covardia. Curió foi designado para cumprir o papel final. Com documentos falsos, ora se passando por técnico do Ministério da Agricultura, ora como repórter da Rede Globo, Curió comandou militares selecionados de baixa patente da própria região amazônica, o que facilitou o estabelecimento de relações com as comunidades de agricultores. A partir da tortura aplicada aos próprios camponeses, aliada a uma série de artimanhas que permitiram aproximações com os guerrilheiros, foi uma questão de tempo para mapear os acampamentos e desencadear uma brutal repressão com torturas, execuções sumárias e sumiço de corpos. O próprio Curió admitiu em 2009 que o Exército havia assassinado 41 guerrilheiros e não 25 como se imaginava até então.
Posteriormente aos seus “feitos” no Araguaia, foi agraciado em 1980 com o cargo de Interventor da ditadura no garimpo de Serra Pelada. Considerada a maior mina a céu aberto do mundo, chegou a ter 100 mil garimpeiros. Uma região que ficou conhecida na época, além do ouro e do fascínio que isso causou em uma parte considerável da população pobre do País, como uma região de extrema violência em que os assassinatos além do ouro era a moeda corrente. Oficialmente, teriam sido extraídos 45 toneladas de ouro, mas calcula-se que essa quantidade correspondeu apenas a 10% do que foi extraído, sendo os outros 90% foram contrabandeados.
Foi justamente nesse período que o interventor Curió se notabilizou com a constituição de grupos fascistas para controlar a região. Finalmente, Curió ao entrar para a reserva do Exército, será eleito deputado federal pela Arena e depois prefeito de Curionópolis, cidade que leva seu nome, na região do garimpo, sendo cassado em 2008, por corrupção.
Diante de um currículo “invejável” não é de admirar as boas relações fascistas com Bolsonaro. Ustra, Fleury, Curió e Bolsonaro, mortos e vivos, assim como a quase totalidade do alto comando das Forças Armadas, são farinha do mesmo saco.
Este Diário já vem denunciado e não é de hoje que as engrenagens do golpe de 2016, e que a sua evolução está colocado um novo golpe militar e, como reza todo golpe militar depois de Hitler e Mussolini, o elemento fascista sempre está presente.