Desde o início da pandemia que movimentos sociais ligados aos povos indígenas vêm alertando e denunciando o enorme risco a que eles estão expostos diante do avanço nos casos de contaminação e morte por covid-19. Utilizando-se principalmente do apelo às instituições que deveriam protegê-los, os povos nativos do Brasil seguem jogados à própria sorte.
Mesmo movimentos e partidos de esquerda, apesar do discurso humanitário que proferem acerca dos indígenas, pouco têm lutado em prol das vidas desses povos no sentido de evitar o verdadeiro genocídio que está em curso.
Se a infecção causada por coronavírus é potencialmente perigosa para qualquer ser humano, muito mais ainda o é para a população indígena. Historicamente, muito mais suscetível a esse tipo de infecção, devido a causas genéticas e, também, culturais – como a própria forma de organização das tribos, que favorece maior contato entre seus membros, o que aumentaria as chances de disseminação do vírus na comunidade. Essa situação é agravada, atualmente, porque o espaço destinado aos indígenas brasileiros é limitado a poucos hectares, o que aumenta a densidade populacional nas reservas.
Há mais de 500 anos, os portugueses que colonizaram as terras indígenas aqui localizadas já haviam percebido essa maior vulnerabilidade dos nativos e a utilizaram como forma de extermínio de milhões de vidas indígenas no território. Disseminaram de maneira premeditada o vírus da gripe e da varíola, entre outros, fato que contribuiu enormemente para o genocídio desses povos.
Na última quinta-feira (18), registrou-se a primeira morte de um indígena da Reserva Indígena de Dourados – RID (MS), onde aproximadamente 15 mil indígenas dividem o território de 3,5 mil hectares.
O início da contaminação na RID está relacionada com o fato de que vários de seus membros precisam trabalhar fora da aldeia, a maioria deles em frigoríficos ou no agronegócio, especialmente nas plantações de cana de açúcar do estado. O coronavírus entrou na RID através de uma funcionário de um frigorífico da JBS.
Esses grandes grupos de frigoríficos que atuam na região como a própria JBS e a Raízen demoraram demais para começarem a tomar medidas preventivas para se evitar o contágio entre seus funcionários, especialmente entre os indígenas, que são uma parte importante da mão de obra por eles utilizada. O afastamento dos indígenas empregados só começou a ser feito após começarem a se registrar o aumento nos casos de contaminação pelo coronavírus nas aldeias.
Informações obtidas pela reportagem junto a funcionários do frigorífico de Dourados, de Nataly Foscaches e Tatiane Klein, publicada por Repórter Brasil, 24-06-202, mostram que, no início da pandemia, os ônibus que faziam o transporte dos trabalhadores eram pequenos e seguiam cheios. “Todo mundo sentava junto”, afirma um trabalhador indígena, que preferiu não se identificar. Ele também diz que havia muitos funcionários próximos uns dos outros na sala de corte. “Lá divide paleta, pernil e barriga. Duas filas [de trabalhadores] na paleta, duas filas no pernil e duas filas na barriga”.