O local sempre teve uma importância fundamental na convocação de um ato, às vezes é uma questão prática, facilidade de acesso ou espaço, por exemplo, às vezes é uma questão política, a sede de um governo, visibilidade, ou até mesmo uma tradição dos movimentos sociais.
Vários movimentos inclusive tornaram famosas avenidas, ruas e praças. Eu mesmo nunca estive no Cairo, mas sei que lá existe a Praça Tahrir, histórico marco da revolução egípcia de 2011, o golpe da Ucrânia tornou famosa a Praça Maidan em Kiev, as heróicas Mães da Praça de Maio herdaram seu nome de um lugar onde protestavam em Buenos Aires. Os bolcheviques imortalizaram a Perspectiva Nevsky como uma avenida histórica do movimento operário mundial.
O Brasil não fica atrás nesse quesito. Os gaúchos tornaram notória a Esquina Democrática, Em anos recentes, durante a luta pela liberdade de Lula, a Praça Santos Andrade em Curitiba se tornou um local da luta contra o golpe, a Candelária, famosa desde as Diretas Já! no Rio, cada grande centro têm suas tradições.
Via de regra, todos esses locais são locais centrais, alguns, como é o caso da praça Maidan e da Perspectiva Nevsky, são o coração de suas cidades. Isso não é por acidente. Locais centrais são um ponto médio da cidade, e por isso facilitam o acesso se pessoas estão vindo de todas as regiões, ao passo que se fosse realizado em uma periferia, seria mais difícil para outra periferia e outros bairros se unirem.
Locais como esses tem uma importância política e econômica grande, uma simbologia e um valor prático.
Em S. Paulo, já há algumas décadas, o palco central dos protestos é a Avenida Paulista. Com a decadência do Centro Velho e de outras regiões, ela virou um símbolo do poder financeiro da cidade, seus principal centro de cultura e economia.
Os professores paulistas em geral fazem no MASP suas assembleias, protestos e atos históricos aconteceram lá, foi lá que os petistas comemoraram a vitória de Lula em 2002, com discurso de Lula e tudo. Em 2013 Alckmin e sua política fascista massacraram um protesto de dezenas de milhares de pessoas que tentavam ocupar a avenida.
Tornou-se, em dia de protestos, um lugar do povo. Durante o golpe, a burguesia organizou uma operação para apagar essa história e dar esse lugar de destaque da cidade aos fascistas.
Com os atos do último domingo, quando os torcedores, o povo organizado em torcida de futebol, varreram os bolsonaristas da rua essa disputa tomou a forma de enfrentamento físico.
Rapidamente a justiça proibiu atos na avenida, realizando a antiga vontade da burguesia de empurrar a esquerda para algum canto escondido da cidade. Até aí, é normal, estranho foi que fizeram isso com auxílio de setores da esquerda.
Guilherme Boulos, líder da Frente Povo sem Medo, alguns dias antes da mudança de local, disse que iria se juntar aos atos. Para o desavisado isso pareceria um avanço. Até 5 dias atrás, Boulos era fervorosamente contra fazer atos de rua. Agora diz que vai aos atos que se originaram do movimento das torcidas e vai garantir que será “pacífico” e que vai “inibir infiltrado”. Aí fica claro que ele vai não para somar, mas para frear os atos. Como um emissário da Frente Ampla, de Dória, Witzel, Maia e companhia.
A grande colaboração (com Dória é claro) de Boulos foi organizar o ato desde domingo não na Avenida Paulista, mas longe dela, no Largo da Batata.
Movimentos de todos os matizes, comunistas, anarquistas, democráticos, etc.. se rebelaram contra a manobra e mantém convocatória para a Paulista. Este colunista, por sua vez, soma-se a esse chamado.
A Paulista é do povo!
Fora os fascistas das ruas!
Fora Bolsonaro!
Todos à Avenida Paulista às 14h.