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Esquerda pequeno-burguesa

Qual o caminho para a mobilização?

Em seu mais recente artigo, Aldo Fornazieri critica os partidos da esquerda, mas não aponta o caminho para a mobilização.

No dia 23 de outubro, o portal GGN publicou o artigo “A desigualdade e a rebelião das multidões”, assinado por Aldo Fornazieri. No texto, Fornazieri introduz o termo “multidão”, explicando que os levantes populares dos últimos períodos – incluindo os protestos no Chile, no Equador e na Catalunha – foram feitos por multidões compostas de “inúmeras diferenças internas”. No desenvolver do artigo, Fornazieri conclui que o grande impasse da luta política hoje seriam as dificuldades de as lideranças entenderem as demandas das “multidões”.

Diz o autor:

Se é verdade que as multidões se mobilizam, protestam e são o fermento da mudança, o fato é que sem projeto, sem estratégias, sem líderes e sem organizações políticas sólidas, elas tendem a ser derrotadas ou a conquistar vitórias efêmeras, reivindicações parciais, como mostraram as histórias recentes das grandes manifestações. É precisamente aqui que existe um enorme impasse: se, por um lado, as multidões mostram a potência da mobilização, por outro, os partidos e os líderes políticos mostram a impotência e a incapacidade de liderar, de conduzir processos inovadores de mudanças, de dirigir reformas ou de revoluções. Há uma indisfarçável crise de lideranças e de perda de relevância dos partidos.

Diferentemente do que defende Fornazieri, ao introduzir o termo “multidão”, a sociedade do século XXI não é diferente, em essência, da sociedade do século XX. Se as rebeliões acontecem de maneira desordenada, sem ter em sua cabeça organizações tradicionais do movimento popular, isso não comprova que seja necessária uma adaptação dos partidos e lideranças para uma nova forma de organização social, mas sim que as rebeliões são uma forma inevitável de explosão social diante da falta de uma política correta dos partidos e lideranças.

A política que deve ser levada adiante pela esquerda para uma vitória efetiva contra os ataques da ofensiva neoliberal é a política da mobilização revolucionária, isto é, a política de enfrentamento contra a direita. Como no caso dos coletes amarelos, na França, no caso da rebelião liderada pelos indígenas no Equador e em tantos outros casos de levantes recentes as direções da esquerda não impulsionaram uma política de enfrentamento, era impossível que as rebeliões ficassem sob seu domínio. Nenhuma grande organização da esquerda levantou a palavra de ordem de “fora Macron” durante a crise com os coletes amarelos, tampouco nenhuma grande organização levou adiante uma luta pelo “fora Moreno” durante os protestos contra o pacote do presidente equatoriano.

A política que Fornazieri defende, no entanto, não está centrada na mobilização. Conforme fica claro no desenvolver de seu artigo, Fornazieri mostra que sua crítica às direções se refere, sobretudo, a um programa de governo, e não a um programa de reivindicações para organizar uma mobilização efetiva:

Na América Latina, os governos recentes de centro-esquerda e de esquerda não foram capazes de promover reformas profundas que atacassem as causas das desigualdades históricas. Para usar um termo de André Singer, esses governos promoveram apenas um reformismo fraco. Articularam programas sociais compensatórios que ajudaram a reduzir as desigualdades temporariamente, principalmente no momento em que o boom das commodities foi decisivo para melhor a renda, o emprego e superar os altos níveis de pobreza em vários países da região. Passado o período da bonança, os problemas históricos voltaram e se juntaram com denúncias de corrupção que atingiram boa parte dos governos da América Latina, tanto de esquerda quanto de centro-direita.

Os 20 anos de governos de centro-esquerda da Concertación no Chile, somados aos quatro anos do último mandato de Michelle Bachelet, não promoveram um reformismo forte que fosse capaz de remover as instituições que causam a desigualdade e as iniquidades. O mesmo ocorreu com os governos do PT no Brasil, com o kichnerismo na Argentina, com Rafael Correa no Equador e com o chavismo na Venezuela. Este último promoveu uma grande diáspora do povo venezuelano. Uruguai e Bolívia foram os países onde os governos de esquerda foram bem sucedidos. Evo Morales merece destaque, pois assumiu o governo com altos padrões de pobreza e desigualdade e hoje a Bolívia é mais igual e mais desenvolvida.

A política de creditar políticas de governo ao sucesso do desenvolvimento da luta política é tão equivocada que o próprio Fornazieri, ao tentar defendê-la, acabou criticando o governo venezuelano. Fazendo coro à direita pró-imperialista, Fornazieri acusa o chavismo de ter promovido uma grande “diáspora”. A avaliação sobre a situação no Uruguai e na Bolívia, por sua vez, também não é precisa. Afinal, o Uruguai não é um país onde a esquerda foi bem sucedida, mas sim um país em que a a esquerda se submeteu a uma frente ampla bastante direitista, que está impondo uma série de ataques contra o povo uruguaio. Se o Uruguai não sofreu um golpe de Estado ainda como no Brasil, na Argentina e no Equador, se deve justamente ao fato de a burguesia estar infiltrada no governo de maneira profunda. A Bolívia, por sua vez, não se desenvolveu necessariamente por uma política acertada do governo Morales, mas sim porque as condições criadas pela mobilização do povo boliviano, que tiveram caráter insurrecional, permitiram esse desenvolvimento.

No final de seu artigo, Fornazieri reitera sua crítica às direções e, sem apontar qualquer perspectiva para as “multidões”, condena os povos ao fracasso eterno em sua luta contra a direita:

Mesmo que ocorram rebeliões, as multidões não podem e nem devem ter esperanças, pois estas são recorrentemente afogadas pela crueldade das elites e pelas misancenes  dos partidos e dos políticos, interessados apenas nos seus cálculos eleitorais, nos seus cargos, nos seus fundos e nos seus privilégios. Passada a fúria das rebeliões a vida e a realidade voltam à sua trágica normalidade e esta parece não ter fim.

Diante da política errada das direções da esquerda mundial, é necessário, ao invés de condenar os trabalhadores ao sofrimento eterno, propor uma política que permita guiar as massas para um choque com seus algozes. É preciso, portanto, orientar os trabalhadores de todos os países a se orientarem com base no desenvolvimento de uma luta contra o poder político da burguesia – é necessário expulsar do poder os inimigos do povo. Por isso, é preciso organizar um amplo movimento pela derrubada do governo Bolsonaro, pela derrubada do governo Moreno, pela derrubada do governo Macron e pela expulsão do imperialismo da América Latina.

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