Já em novembro do ano passado, pouco tempo depois da fraude eleitoral que deu a vitória a Jair Bolsonaro, o deputado federal eleito pelo PSOL do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, afirmou para a imprensa golpista e para deleite dela mesma que a “pauta do Lula livre não unificava”. Naquele momento, muitos talvez não tivessem entendido exatamente o que representava tal ideia.
Freixo está atrás de uma frente ampla que unifique vários espectros políticos que pudessem formalizar uma “oposição” parlamentar, formal, institucional a Jair Bolsonaro. Podemos dizer que se trata de uma articulação para sustentar, através da chamada “oposição responsável” e consentida, o regime político golpista e o próprio governo ilegítimo e fraudulento de Bolsonaro. A nova cartada de Freixo é a busca por um vice do PDT de Ciro Gomes na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de 2020. Outro Psolista, Guilherme Boulos, aproveitou o ato de 1º de Maio em São Paulo para dizer que sentia falta da presença de Ciro Gomes ali.
Ciro, tradicional político burguês que já foi do antigo PDS – partido herdeiro da ARENA da ditadura militar -, do PSDB e desde então já mudou de partido com mais frequência com que muda de camisa, afirmou no início da semana passada em um encontra em Recife que “unidade é o cacete” depois de responder rispidamente aos questionamentos da deputada petista Maria do Rosário sobre por que preferia atacar Lula.
Em março deste ano, uma reunião em Brasília juntava Guilherme Boulos (PSOL), Flávio Dino (governador de Maranhão pelo PCdoB), Fernando Haddad (PT) e Ricardo Coutinho (governador da Paraíba do PSB). Essa reunião publicou documento que lançava uma política para a formação de uma frente ampla de “oposição” e que sinalizava para Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE) e Roberto Requião (MDB). Neste documento, Lula aparecia de maneira muito tímida (só para não dizer que não foi lembrado) e a ideia de que se devesse pedir a derrubada do governo Bolsonaro nem passou perto. Menos ainda a ideia de denunciar a eleição fraudulenta.
No último dia 20 de maio a imprensa golpista anunciou a reunião ocorrida no apartamento do jurista Pedro Serrano. A reunião foi convocada pelo escritor tucano Fernando Guimarães e pelo advogado petista Marco Aurélio Carvalho. Cerca de 40 pessoas participaram do evento, segundo as informações da imprensa, de José Anníbal (ex-senador do PSDB) até Guilherme Boulos (PSOL), passando por Fernando Haddad, Eduardo Suplicy, Soninha Francine (PPS), Aldo Rebello (Solidariedade), André Franco Montoro (PSDB) e ainda o presidente do PV e o porta-voz da REDE.
Segundo as informações foi criado o “movimento direitos já” e seria uma articulação para “isolar Bolsonaro”. Os organizadores anunciaram que os próximos convidados do encontro, para que também façam parte do movimento, José Serra e Geraldo Alckmin (realmente dois baluartes dos direitos do povo, quem mora no estado de São Paulo sabe). Boulos, presente na reunião, afirmou que “essa é mais uma iniciativa que traz alguns setores que estão preocupados com a crise democrática no Brasil”, segundo matéria do sítio da Fórum. Sobre a mesma reunião, Marcelo Freixo (PSOL) disse que “diante do fascismo é necessário reorganizar as forças democráticas com capacidade de ação no Congresso [grifo nosso]” (idem). Nada como uma frente ampla parlamentar, melhor ainda se for com os partidos burgueses.
Na segunda-feira, dia 27, foi a vez de Flávio Dino (especialistas em aliança com o PSDB) se encontrar com o presidente de honra do PSDB (quanta honra!), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para uma conversa em “defesa da democracia”. FHC é o mais novo integrante das articulações tal tal frente ampla. FHC é aquele tucano responsável pela devastação neoliberal no País nos anos 90. FHC é aquele que, junto com sus correligionários, esteve à frente do golpe contra Dilma. FHC é aquele, junto com sus correligionários e aliados e junto com a rede Globo, responsável por ter colocado o Bolsonarismo onde está agora. O PSDB é aquele partido de Alckmin, Serra e Beto Richa cujo esporte preferido, aqueles em São Paulo e este no Paraná, é colocar a tropa de choque para espancar estudantes, professores e a população na periferia. É muita democracia, não é mesmo?
A todo esse panorama se junta o esforço conjunto de toda a esquerda pequeno burguesa em não levantar a palavra de ordem de fora Bolsonaro.
A todo esse panorama se junta também o esforço da esquerda pequeno-burguesa, seguindo as diretrizes da direita e da imprensa golpista, de afirmar que os atos que tomaram conta das ruas do País nos últimos dias 15 e 30 de maio eram “apenas pela educação”, não eram “contra o governo” e nem mesmo pela liberdade de Lula. Nada de querer derrubar esse governo, muito menos de libertar Lula. Nada de querer colocar abaixo esse regime golpista e todos os seus responsáveis que estão impondo ao povo uma devastação da economia e dos direitos políticos. “Direitos já!”, para alguns apenas discurso parlamentar para preparar a próxima eleição, para outros apenas um embuste para convencer o povo a não lutar contra a devastação produzida por eles mesmos.
Na medida em que a situação política avança e avançam também as articulações de cúpula vai ficando cada vez mais límpido o porquê “Lua livre não unifica” como profetizou Marcelo Freixo. Para se unificar com o PSDB, o PDT de Ciro Gomes “unidade é o cacete” e outros partidos da burguesia golpista e precisa “esquecer” Lula na prisão e lembrar dele de vez em quando para arrecadar alguns votos do eleitorado de Lula.