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Jean Wyllys fala daquilo que não sabe

Em sua conta no Twitter, o ex-deputado federal do PSOL e professor universitário Jean Wyllys deu recentemente uma declaração infeliz sobre o marxismo. Demonstrando seu centrismo absoluto, Wyllys disse:

“A esquerda anacrônica (que pensa estar em 1917) ainda não entendeu que, no século XXI, podemos e devemos lutar com Marx, sem Marx e às vezes contra Marx.”

Uma declaração típica de um oportunista sem coerência política, que usa o marxismo quando lhe é conveniente. O que Jean Wyllys está querendo dizer com essa declaração é que o marxismo não é uma ciência, uma compreensão política da realidade com base na análise de leis da sociedade humana.

O marxismo, nesse sentido, para ele, deve ser usado, criticado ou rejeitado, dependendo da conveniência política de determinada pessoa; Ou seja, de uma ciência humana, o “marxismo”, para Jean Wyllys e a maioria dos políticos e intelectuais pequeno burgueses, tornou-se apenas mais uma doutrina que pode ser usada como recurso para justificar o malabarismo político de quem lhe faz uso.

Em sua declaração, entretanto, Wyllys não revela especificamente quando a esquerda deveria ser “contra Marx”. Mas analisando os posicionamentos políticos do ex-deputado federal, chega-se rápido a um conclusão: basicamente, o tempo todo.

Os intelectuais do PSOL, em vez de buscar criticar ou “modernizar” o marxismo o tempo todo, deveriam buscar estudá-lo e compreendê-lo de fato para parar de cometer tantos erros políticos; pois além de servir para o oportunismo, essa “crítica” ao marxismo geralmente é carregada de uma profunda incompreensão da ciência, o que os leva a ter posicionamentos absurdos.

No caso de Jean Wyllys, por exemplo, fica muito claro que o estudo do marxismo lhe cairia bem. Quando no Brasil, o ex-deputado sempre procurava se declarar nas redes sociais contra a “ditadura de Nicolás Maduro”, realizando uma frente única com o imperialismo norte-americano, em defesa de uma suposta “democracia” (que hoje revela-se ser o golpe da extrema-direita, com Trump e Guaidó).

O marxismo, desta forma, explicaria de forma contundente, com dados e tudo mais, a existência de monopólios imperialistas que querem dominar os países atrasados, a falência da “democracia” e várias outras coisas que lhe ajudaria a ser menos um instrumento do imperialismo contra os trabalhadores.

Mas nós sabemos o que Jean Wyllys acha dos trabalhadores. Por volta de 2016 ou 2017, Wyllys participou de uma palestra onde revelou seu total repúdio à classe trabalhadora. Declarou que os principais agentes políticos, para a esquerda, hoje, não deveriam ser mais os operários e trabalhadores, que segundo ele são “machistas e homofóbicos”, mas as mulheres, os negros, os homossexuais e assim por diante. Isto é, ele propôs uma suposta “modernização” da esquerda – uma esquerda sem trabalhadores.

Nesse sentido, o marxismo também lhe seria benéfico para aprender que a classe fundamental da sociedade capitalista, aquela que apresenta características revolucionárias e consegue reunir atrás de seu programa o conjunto de oprimidos e explorados, é a classe operária. Talvez, assim, Wyllys desse mais importância aos trabalhadores.

Mas não se resume a isso, vale lembrar também que Jean Wyllys apoia o Estado fascista de Israel, que tem como único propósito estabelecer uma ferrenha ditadura do imperialismo contra o povo árabe no Oriente Médio; que o deputado propôs, para enfrentar a extrema-direita no país, fugir do país e se esconder na Europa (quem conseguir, claro, o resto: salve-se quem puder!).

E o PSOL, em conjunto, é o partido das bolas foras. Na época do impeachment e de surgimento da Lava Jato, seu núcleo de principais representantes apoiaram o processo golpista. Luciana Genro (candidata à presidência), por exemplo, vibrou com a operação golpista da extrema-direita bolsonarista (“Viva a Lava-Jato!”) e disse que toda a esquerda deveria apoiá-la.

Da mesma forma, em relação às manifestações contra o governo Dilma, que tinha a participação dos grupos mais retrógradas da extrema-direita, Genro afirmou que havia setores progressistas que lutavam por mudanças.

Houve também quem defendesse uma posição mais escondida de apoio ao golpe. O ex-deputado federal, Chico Alencar, amado pela Globo, publicou artigos chamando os trabalhadores e não participar nem do dia 13, nem do dia 15 – isto é, nem dos atos contra o governo (golpe) e nem dos atos em defesa do governo (contra o golpe).

A posição da maioria dos grupos do PSOL, naquele momento, era de que a esquerda deveria realizar uma luta contra a “reformas” do governo Dilma, ignorando o processo golpista, ou até participando dele, com a defesa de novas eleições. Isso era defendido por Guilherme Boulos, por exemplo, que já havia liderado manifestações da direita contra o governo do PT, em 2014, na época da Copa do Mundo (campanha que serviu apenas para fortalecer a candidatura de Aécio Neves, do PSDB).

Boulos era, então, colunista da Folha de S.Paulo (jornal golpista), e defendia que o pior naquele momento eram as reformas dos governos petistas. Para isso, Boulos criou sua própria frente única, a frente da esquerda coxinha: Frente Povo Sem Medo – em oposição à Frente Brasil Popular, criada para enfrentar o golpe de estado.

E assim poderíamos seguir e escrever um livro completo sobre todos os erros políticos do PSOL – incluindo também seus momentos de puro oportunismo político. Porém, o que é importante, para o debate, é esclarecer que, se o PSOL fosse um partido marxista, ou pelo menos os intelectuais e professores universitários do partido pelo menos estudassem o marxismo, muitos destes erros não seriam cometidos.

Portanto, Jean Wyllys, ao invés de afirmar que devemos criticar o marxismo, deveria primeiro estudá-lo e criticar seu próprio partido.

 

Os “anacrônicos” de 1917 e os “novos” democratas

Porém, a declaração de Jean Wyllys é também absurda no sentido de que usa um velho argumento da direita para desmerecer o marxismo. Quando afirma que a esquerda que supostamente vive em 1917 (ano da Revolução Russa, primeira revolução proletária no mundo) é “anacrônica”, o que está querendo afirmar é que o marxismo seria uma teoria velha e ultrapassada, assim como o comunismo.

Isso faria algum sentido se ele mesmo, Jean Wyllys, não fosse defensor de um regime que, para não dizer simplesmente que é decadente e ultrapassado, já nem existe mais: a democracia burguesa.

Com sua apologia à democracia (que muitas vezes serviu para defender o imperialismo, como no caso da Venezuela), Jean Wyllys já não está nem 1917, mas em pleno século XVIII, em plena revolução francesa – quando a democracia era algo novo e progressista.

Porém, Jean Wyllys deveria voltar um pouquinho menos no tempo. Parar por volta de 1917, quando a primeira revolução proletária na história do mundo demonstrou claramente o período de decomposição histórica do capitalismo e, portanto, a decadência da democracia burguesa.

A ideia de Jean Wyllys parte de dois conceitos errados. De que o socialismo foi ultrapassado, derrotado com a queda da União Soviética, e também de que o capitalismo não está em sua fase histórica de decomposição. Apenas desta forma seria possível defender a democracia.

A primeira é produto de uma total falsificação histórica por meio do imperialismo. A Revolução Russa foi o marco da época revolucionária e crise generalizada das classes dominantes capitalistas. Todo o século XX revelou um poder que a classe operária nunca havia conseguido antes. O número incalculável de revoluções (socialistas ou não) e revoltas contra a ordem vigente, mas também a expansão dos Estados Operários para mais ou menos um terço do globo terrestre, demonstraram um gigantesco desenvolvimento político da classe operária mundial.

Não é porque uma onda contra-revolucionária tomou conta do mundo, no final do século, que foi uma derrota definitiva da classe operária. Muito pelo contrário, a luta se dá em etapas. No Século XIX, o máximo que os operários conseguiram foi tomar conta da cidade de Paris. Já em 1917, tomaram conta do maior país do planeta, marcando um novo período histórico na humanidade: o de decadência do capitalismo e o da revolução proletária.

Mas Jean Wyllys está em um período bem anterior a esse. Um período onde o jovem capitalismo ainda não está controlado por monopólios e a livre concorrência permite um desenvolvimento econômico dos países, que assim estabelecem um regime democrático e parlamentarista.

Percebe-se então quem é o verdadeiro “anacrônico”!

 

Jean Wyllys não tem moral para ensinar

Outro questionamento que deveríamos colocar, ao ler esse tipo de declaração do ex-deputado é: que tipo de moral tem uma pessoa que fugiu do Brasil, com medo, e foi se esconder, para ficar dando opinião sobre como devem atuar os militantes que continuaram no país e estão enfrentando Bolsonaro?

Jean Wyllys nem pensou duas vezes. Com a vitória fraudulenta de Bolsonaro, ao invés de ficar, enfrentar a extrema-direita, organizar com seus recursos de parlamentar a luta dos trabalhadores contra os fascistas, decidiu fugir do país e se esconder, traindo a confiança de milhares de brasileiros que o viram como uma liderança política.

O pior de tudo foi que Jean Wyllys foi embora justamente em um momento de onda de violência bolsonarista contra os LGBTs, que Jean Wyllys diz tanto defender. O marxismo, que Wyllys critica, ensina que não pode haver contradição entre a ideia e a prática.

Jean Wyllys não tem nada a ensinar para aqueles que se mantiveram no Brasil e estão lutando contra Bolsonaro, até porque trata-se de uma luta para reverter as mancadas que ele e o partido dele realizaram

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