Nessa semana, foi realizado o segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai e o vencedor foi o representante da direita tradicional, membro do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou. Ele derrotou o candidato Daniel Martínez, da Frente Ampla, partido de esquerda nacionalista, por uma estreita margem de 28 mil votos.
Apesar do Uruguai ser erroneamente considerado um país em que não se desenvolvem grandes crises políticas, com o resultado dessas eleições, ele está oficialmente colocado dentro da situação crítica da América Latina. A campanha que levou o Partido Nacional à vitória foi muito agressiva e direitista e toda a campanha de rua foi conduzida pela extrema-direita.
Toda a imprensa uruguaia formou um cartel que atacava constantemente a Frente Ampla, principalmente criticando todas as reformas realizadas durante sua gestão, por mais moderadas que fossem. A campanha da extrema-direita era tipicamente bolsonarista, que procurava mobilizar toda a classe média direitista contra a esquerda. Além disso, o Partido Nacional se aliou com o grupo do General Manini, de extrema-direita, para obter a maioria no Congresso.
Capitulação da esquerda
A esquerda nacionalista uruguaia é uma das mais capituladoras de todo o continente. Seus governos foram todos bastante moderados e as reformas que levaram adiante foram pouco significativas de um ponto de vista econômico. E nas eleições, diante da ofensiva da direita e da extrema-direita, também capitularam: escolheram um candidato da ala mais moderada da Frente Ampla com um programa econômico praticamente neo-liberal, em que prometia ajuste fiscal, reforma das leis trabalhistas e outros ataques contra a população.
Na prática, a Frente Ampla procurou cativar a burguesia e desarmar a campanha da extrema-direita, o que não foi possível. O resultado dessa política foi o oposto: entregaram as eleições para o Partido Nacional. O país já apresentava uma crescente polarização e a política de afago à burguesia dos nacionalistas só serviu para perderem os votos que podiam ter da população.
A política da esquerda uruguaia foi ainda pior do que a da esquerda boliviana. Na Bolívia, o MAS ao menos saiu vencedor nas eleições, o que obrigou a direita a dar um golpe de Estado. Já no Uruguai, a Frente Ampla sequer conquistou a vitória nas eleições.
A capitulação da Frente Ampla fica ainda mais evidente com a política do seu candidato após as eleições, que procura diálogo e entendimento com a direita e a extrema-direita, representada principalmente pelos militares. É uma política suicida, mas que deixa claro o erro cometido por toda a esquerda latinoamericana. No momento político atual, a burguesia não vai ceder em nada, é preciso partir para o enfrentamento com a extrema-direita. A capitulação só nos levará à derrota.