Lançado no dia 17 de dezembro, na plataforma Bombozila, o documentário O Futuro Ausente, dirigido por Arthur Moura, faz uma análise da conjuntura política desde 2013 até os tempos atuais, analisando a participação da esquerda nos protestos e a ascensão do fascismo no cenário político.
O documentário contou com entrevistas de várias figuras da esquerda, entre elas, a do companheiro Rui Costa Pimenta, presidente nacional do PCO.
Leia a seguir algumas das falas do companheiro Rui:
A ideia de que não haja classe operária, de que a classe operária retrocedeu absolutamente, é absurda. Eu acho que nunca houve tantos operários no mundo como hoje. Acho não, tenho a absoluta certeza, pela dimensão da economia, que nunca houve tantos operários. A produção mundial é muito grande e a tendência dela é crescer, lógico, independentemente das crises capitalistas e do fato de que o capitalismo em si é um retrocesso para a produção. Então, primeiro, a gente não deve se confundir nesse sentido. Segundo é que eu acho que a raiz principal da confusão está nos acontecimentos posteriores à segunda guerra mundial, por causa do estado de bem estar social. A burguesia, vendo a situação revolucionária que a guerra havia causado, decide universalizar um sistema de direitos e de atendimento social para a classe operária e a população em geral, mas isso é uma conquista, na realidade, da classe operária. Essas conquistas não são um padrão geral de vida da classe operária, elas são uma medida ultradefensiva da burguesia diante da possibilidade da revolução. Agora, nós entramos numa etapa diferente, os estados estão falidos, o capitalismo está em retrocesso novamente, depois de um breve período de alívio, e não consegue manter a organização de classe nas mesmas bases anteriores, então nós estamos voltando a uma situação que é um “misto” de pós 1945 e primórdios do capitalismo, mistura tudo. Você tem o trabalhador que tem a carteira assinada, décimo terceiro, férias, etc. e tal; e você tem aquele outro trabalhador que não tem nada, ele só tem o salário.
Nesse momento a organização é difícil. Os trabalhadores têm sofrido bastantes derrotas, mas isso é um resultado de uma política que encurrala a classe trabalhadora de um modo geral, que é uma política de recessão, digamos assim, de baixa intensidade. Uma política que busca o equilíbrio num desemprego oculto, no sub-emprego, que coloca os sindicatos na defensiva, na cooptação dos dirigentes sindicais através da democracia, que é muito importante. Os capitalistas encontraram um equilíbrio precário nessa situação, mas isso daí tem limite. Vai se esgotar e os trabalhadores vão voltar à luta numa intensidade muito grande. Não só os trabalhadores, todos os setores explorados da população. Como nós estamos vendo, no Equador foi uma revolta generalizada. Ocuparam o Congresso, tentaram ocupar o Palácio do governo, não é pouca coisa. E no Chile agora a burguesia está assustada, declarou que a população no Chile é inimiga. Como se fosse uma guerra. É uma guerra, na verdade. Isso daí é um preâmbulo, uma faísca muito grande, um raio de uma guerra civil que está sendo gestada, que é latente na sociedade. Não há dúvida nenhuma sobre isso.