O berço da extrema-direita boliviana e a região mais rica da Bolívia, Santa Cruz de La Siera, conta com a presença marcante de latifundiários brasileiros que expandiram seus negócios, principalmente de soja, para aquele país.
Não é de hoje a presença de propretários de terra brasileiros na Bolívia. Cerca de 35%, 2,4 milhões de toneladas, da produção de soja na região é controlada por estrangeiros, com presença marcante na Associação Nacional dos Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo), a principal entidade que defende os interesses dos ruralistas na Bolívia.
A Anapo participou ativamente da campanha contra o governo Evo Morales contra a política de controle de alimentos, uma das prinicipais políticas sociais do governo nacionalista, e da campanha de autonomia dos departamentos (estados) bolivianos, a fim de impedir que o processo constituinte de 2007 avançasse na expropriação dos latifúndios da região em favor da reforma agrária.
As relações entre os latifúndios da região de Santa Cruz e a extrema direita são anteriores às explosões sociais dos primeiros anos do século que levaram ao governo nacionalista de Evo Morales. A associação dos sojeiros teve participação ativa no financiamento e apoio ao Comitê Cívico de Santa Cruz, movimento fascista, controlado pelo empresário fundamentalista Luis Fernando Camacho, e repsonsável pelo massacre da população civil pelos bandos fascistas.
A presença de latifundiários brasileiros na organização da extrema-direita e o papel ativo cumprido pelo governo Bolsonaro na orquestração prática do golpe confirmado pelo próprio Camacho, dão conta que o Brasil foi mais do que um mero capacho do governo norte-americano, um sócio menor da política do imperialismo para a América Latina, que teve um papel fundamental na desestabilização do governo Evo Morales.
O caráter abertamente golpista da política dos latifundiários, ainda traz à tona um aspecto do significado da política de recuo diante da direita. A tentativa de estabelecer acordos, apenas fortalece a própria direita, como foi a política do governo Evo Morales com relação aos latifundiários, que não foram expropriados e ainda obtiveram várias concessões para exportação da soja por fora da política de alimentos do governo nacionalista.