Uma gigantesca e descomunal fraude está em curso em um dos países mais pobres e também conflituosos do continente latino. Há cerca de um mês, a Bolívia teve o seu processo eleitoral maculado e fraudado, onde a burguesia, a extrema direita e o imperialismo, após mais uma derrota, não reconheceram a vitória legítima do candidato à reeleição, Evo Morales. O conjunto das forças reacionárias bolivianas, apoiadas pela oligarquia latifundiária e empresarial das áreas prósperas do país, em associação e conluio com o Exército, anunciaram o golpe de Estado, obrigando, através da chantagem e da ameaça, a renúncia do presidente indígena.
Embora não tenha havido, por parte de Morales e de seu movimento, o MAS, um chamado à mobilização para se opor ao golpe e à violência da extrema direita, que empreendeu uma verdadeira caçada contra os partidários de Morales e os ativistas de esquerda, a população se lançou à ofensiva contra os golpistas, onde estão em curso no país, neste momento, enormes mobilizações e marchas dos explorados para derrotar o golpe, o Exército assassino e a burguesia boliviana pró-imperialista.
A brutal repressão que se seguiu ao golpe expõe com toda a crueza o caráter absolutamente reacionário e fascista das Forças Armadas, que não vem hesitando em atirar e massacrar a população indefesa, com requintes de crueldade, que é uma espécie de marca indelével do Exército boliviano, com longa tradição de golpes e repressão contra o seu próprio povo.
Neste momento, parta tentar conferir uma fachada de legalidade ao regime e neutralizar as denúncias contra o golpe e o massacre que ocorre no país, a extrema direita e o imperialismo anunciam “novas eleições” na Bolívia. É tão flagrante a farsa que vem sendo arquitetada que sequer houve qualquer cautela dos golpistas em exporem a tramóia, a farsa, a trapaça. A autoproclamada presidente golpista, Jeanine Áñez, fez chegar ao Congresso “um projeto de lei para acelerar a convocação de novas eleições gerais no país e a eleição de membros do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Eleitorais Departamentais” (G1, 20/11).
É preciso ficar claro que a realização de eleições em meio a um golpe de Estado e sob a mais brutal e feroz repressão do Exército e das forças policiais contra a população pobre e indefesa do país é uma grotesca e inaceitável provocação contra a luta do povo boliviano; contra a legitimidade do resultado que emergiu das urnas sufragando o candidato do MAS, Evo Morales; contra as evidências mais elementares da ação do imperialismo para sufocar e atacar os direitos democráticos da população. O que se pretende com este novo golpe (novas eleições) é legitimar a ofensiva da burguesia, da extrema direita e do imperialismo norte-americano. A eleição de novos membros do tribunal eleitoral e das juntas eleitorais dos departamentos, está claro, nada mais é do que uma ação para subjugar, pressionar e submeter aqueles que irão legitimar as “novas eleições”, vale dizer, a fraude, a farsa contra a vontade soberana da população, das massas sofridas e exploradas do país, que já manifestaram seu voto, optando pela continuidade do governo do MAS e de Evo Morales.
A consumação da fraude e do ataque à população e ao país está evidenciada na proposta de excluir, deixar de fora das “novas eleições” o candidato do MAS, Evo Morales e também o seu vice, Álvaro García Linera. De acordo com informações da grande imprensa (a confirmar, devido ao caráter absurdo e grotesco do seu conteúdo) a proposta de deixar o presidente eleito – Evo Morales e seu vice – de fora das “novas eleições” está sendo apoiada por elementos do próprio MAS. O senador Efraín Chambi apresentou projeto alternativo ao dos golpistas para as eleições, mas naquilo que é o essencial – manter Morales e Linera excluídos do processo – surpreendentemente, há acordo. Uma capitulação vergonhosa, diante das muitas capitulações do MAS diante do golpe e da luta contra os golpistas e o imperialismo.
A tarefa da esquerda boliviana e de todo o continente deve estar centrada na denúncia da fraude escandalosa que está em curso no país altiplano; na denúncia do caráter reacionário e golpista da proposta de “novas eleições”, que nada mais é do que uma tentativa de acobertar, com uma capa de legalidade, o massacre e o banho de sangue que está sendo perpetrado na Bolívia contra o povo pobre e a população explorada do país.