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O caminho para o desastre

A direita será derrotada por uma frente eleitoral?

Em artigo publicado no Brasil 247, o historiador e coordenador nacional do Resistência/PSOL Valério Arcary defendeu a criação de uma frente eleitoral de esquerda.

No dia 6 de novembro, o portal Brasil 247 publicou a coluna Qual deve ser a tática eleitoral em 2020?, assinado pelo historiador, ex-PSTU e coordenador nacional do Resistência/PSOL Valério Arcary. No artigo, Arcary defende a criação de uma frente eleitoral de esquerda para as eleições municipais que estão previstas para acontecer em 2020.

Para legitimar a própria discussão que Arcary propõe no seu artigo, o psolista apresenta um argumento fraudulento: o de que a queda do governo Bolsonaro não estaria colocada para o atual momento e que a única alternativa para a esquerda seria participar das eleições de 2020. Assim Valério Arcary inicia seu texto:

Todos na esquerda queremos derrotar o governo Bolsonaro o mais rápido possível. Oxalá seja possível uma queda de Bolsonaro antes das eleições de 2022. Mas a ideia de que Bolsonaro vai cair de “maduro” é errada. Ele tem apoio para completar seu mandato da embaixada norte-americana, das instituições – Congresso, STF, Forças Armadas – da grande burguesia, e da maioria da classe media, além de uma parcela da midia, e das Igrejas, especialmente, as pentecostais. Terá que ser derrubado. Isso exige uma mudança qualitativa na relação social de forças. Só a experiência prática de milhões com o desastre econômico-social pode potenciar uma irrupção política de massas.

Nesse contexto, temos que pensar em 2020. Pode ser que, até lá, algo explosivo ocorra. O que nos coloca diante da questão de qual deve ser a tática eleitoral.

Acontece que o que Valério Arcary apresenta como justificativa para a necessidade de uma discussão sobre as eleições de 2020 é exatamente o oposto da realidade. Que Bolsonaro tem o apoio do imperialismo norte-americano, das instituições e da imprensa, é um fato. Mas apresentar que Bolsonaro poderia cair “de maduro” é um argumento desonesto diante das possibilidades que estão colocadas.

O governo Bolsonaro é rejeitado por dezenas de milhões de pessoas, conforme até mesmo os institutos de pesquisa da burguesia apontam. Desde março, no carnaval, todos os momentos em que o povo se reúne, seja no carnaval, seja em estádios de futebol, seja em atos públicos, Bolsonaro acaba virando alvo da fúria dos trabalhadores.

A fortíssima tendência à mobilização do povo brasileiro pela derrubada de Bolsonaro empurrou o próprio governo para uma crise gigantesca. Afinal, se está cada vez mais claro que Bolsonaro não tem apoio na população, e sim em apenas uma base social muito restrita de extrema-direita, que foi artificialmente inflada para garantir a fraude eleitoral de 2018, o próprio imperialismo se mostra cada vez menos disposto a sustentar o governo. Como Bolsonaro está se revelando um fracasso também do ponto de vista econômico, o governo está sendo cada vez mais pressionado pelos setores dominantes da burguesia, o que poderá levar a um eventual abandono por parte desses setores.

Não bastasse a crise do governo e as tendências à mobilização no Brasil, vários países da América Latina em situação semelhante estão mostrando que uma explosão social não é nenhum milagre, mas sim uma consequência inevitável da aplicação da política neoliberal. Diante dos levantes no Chile, no Equador e no Haiti, falar “oxalá” para a derrubada do governo é inaceitável – é preciso partir para uma posição ofensiva, ativa, disposta a organizar a rebelião dos trabalhadores contra o regime político.

Por mais que a discussão sobre as eleições de 2020 neste momento revelem uma indisposição de organizar a luta dos trabalhadores – e, portanto, uma incompreensão da tarefa da esquerda no momento, que deve ter como eixo as ruas, não as eleições, discutiremos em seguida a tática eleitoral proposta por Arcary. Segundo o historiador, a tática correta seria a da formação de uma frente de esquerda, definida da seguinte maneira:

Frente de Esquerda é uma Frente entre os partidos que mantém relações orgânicas com os trabalhadores, essencialmente, o PT, PSOL e PCdoB, mas, também, sendo possível, com o PSTU, o PCB e a Unidade Popular. Pode ser constituída no primeiro ou no segundo turno. Quando se forma somente no segundo turno, cada partido de esquerda tem seus próprios candidatos, mas eles se comprometem em apoio mútuo naquele que for para o segundo turno.

O argumento de Valério Arcary em defesa da frente eleitoral de esquerda já chama a atenção pela própria caracterização que o historiador faz em torno dos partidos políticos. Por que o PSOL, partido controlado por parlamentares e professores universitários, que tem como base um eleitorado da pequena-burguesia, seria considerado um partido “que mantém relações orgânicas com os trabalhadores”?, em detrimento de partidos como o PCB? A frente de Arcary, portanto, não é uma frente de luta contra o governo Bolsonaro, mas sim uma frente que tem como objetivo eleger meia dúzia de parlamentares que nada têm a ver com o movimento operário.

A tática do “apoio mútuo”, por sua vez, seria algo semelhante ao que foi visto nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2016. Naquele ano, em que os setores dominantes da burguesia não conseguiram emplacar nenhum candidato tradicionalmente ligado aos partidos da direita, a candidatura de Marcelo Freixo, do PSOL, foi impulsionada pela Rede Globo, pela Veja e pela Folha de S. Paulo. Freixo, que chegou ao segundo turno, se recusou a denunciar a perseguição política que o ex-presidente Lula já sofria naquela época, mas pediu o apoio de toda a esquerda para sua eleição. O resultado? Freixo foi derrotado e a apuração mostrou que Freixo recebeu os mesmos votos do eleitorado de Aécio Neves, sendo derrotado nas zonas mais populares pelo candidato da Igreja Universal.

Não, a frente eleitoral de esquerda apresentada por Arcary não é uma proposta séria para a luta política dos trabalhadores contra a direita e o governo Bolsonaro. A única maneira de fazer as eleições de 2020 contribuir com a luta dos trabalhadores é se ela for transformada em um espaço para a polarização com a direita. Esse circo eleitoral, em que partidos  se juntam para eleger um parlamentar que, no fim das contas, só vai trazer algum benefício para si próprio, não irá mudar em nada as condições do povo que está sendo triturado pelo governo Bolsonaro. Pelo contrário, criará condições para que a direita, diante da falta de um enfrentamento, avance na sua destruição do país. É preciso, portanto, transformar as eleições em mais uma plataforma para o enfrentamento contra a burguesia: lançar candidatos operários, denunciar o golpe de Estado e convocar todos para a luta pela liberdade de Lula e pela derrubada do governo Bolsonaro.

A confusão de Arcary em relação à mobilização e às eleições é tamanha que, ao invés de o historiador propor utilizar as eleições para catapultar a mobilização, propõe que as mobilizações “abram o caminho” para a vitória eleitoral:

Uma oposição irreconciliavel entre a resistência na ação direta e nas eleições é um erro. As mobilizações de rua devem ser nossa prioridade porque são elas que abrem o caminho, como em Santiago do Chile.

É necessário, portanto, combater esse tipo de política oportunista, que visa se aproveitar da revolta das massas para o faturamento de cargos. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Liberdade para Lula! Eleições gerais já!

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