O crescimento da extrema-direita vem promovendo a censura a diversos escritores brasileiros, num verdadeiro atentado contra a cultura nacional, como é, aliás, esperado desta corja sem cultura que tomou conta do poder. Os mesmos fascistas que apoiam a matança generalizada da população mais pobre, e que fomentam não só o “discurso de ódio” como a aplicação irrestrita deste ódio a seus opositores, se apresentam como defensores “da moral e dos bons costumes”, quando se trata de inibir a expressão e a cultura que não lhes agrade.
Premiado duas vezes e finalista em diversos concursos nacionais, o livro Capivaras, de Luísa Geisler, foi censurado na Feira do Livro de Nova Hartz (RS), do prefeito Flavio Jost (PP), por conter “linguagem inadequada”. O livro é classificado no gênero “jovem adulto”. Mas seus personagens são adolescentes que falam como os jovens reais, xingam, bebem, não pedem por favor, e isso parece ter incomodado as “pessoas de bem” da interiorana prefeitura gaúcha. A censura foi também foi elogiada pelo vereador local, Andrei Bertuol (PSC).
Outro alvo da fiscalização fascista é a “apologia ao comunismo.” E nesta categoria pode entrar qualquer coisa que desagrade as cabeças paranóicas da extrema-direita. Uma obra de Luiz Puntel, que já está na 23a edição e teve mais de 1 milhão de exemplares vendidos – Meninos Sem Pátria – teve a infelicidade de cair na malha fina do Colégio Santo Agostinho. Um grupo de pais surtou diante da diretoria, que resolveu tirar o livro da lista de leituras daquele ano.
Outros pais seguiram a mesma onda em Brasília, e obrigaram a escola Le Petit Galois de retirar o livro A Semente do Nicolau de sua biblioteca e da lista de leitura. O livro é um inocente conto de Natal, que procura refletir sobre a solidariedade e a relação entre crianças e idosos. Foi escrito há mais de 20 anos e até adaptado para séries de televisão. Mas alguns pais surtaram ao perceber que o autor do livro era, atualmente, um deputado do PSOL – Chico Alencar. Com medo de represálias, a escola se ofereceu, inclusive, a reembolsar os pais que já tinham comprado o livro.
No primeiro semestre, um grupo de bolsonaristas se revoltou ao descobrir que um livro de poesias – Beirage – de Jorge Furlan, criticava a ditadura e mandava um bom “pau no cu do Bolsonaro”. Com a pressão, a fundação que o financiava retirou o apoio. Algumas bibliotecas retiraram o livro dos acervos.
Poucos meses depois, o texto de Geraldo Carneiro foi censurado. Ele seria apresentado numa peça teatral do SESC Copacabana, mas a direção informou que “não poderia falar de política”. A peça Iago era inspirada em Otelo, de Shakespeare, mas fazia paródias com a família Bolsonaro. A direção propôs que Carneiro escrevesse algo “diferente”.
Da política para o sofrimento psicológico, o livro de Ricardo Lísias, O Céu dos Suicidas (2012), foi retirado da lista de leitura do Ensino Médio do SESI-SP. O professor que fez a indicação da leitura foi demitido da escola. Os malucos da extrema-direita acharam que o livro fazia “apologia ao suicídio”. O mesmo preconceito sofreu Ana Maria Machado, autora de O Menino que Espiava para Dentro (1983), sendo incomodada pelas hordas fascistas depois de ter número de telefone distribuído em grupos de extrema-direita.
Todos os envolvidos com a produção cultural, autores, curadores, patrocinadores, escolas, pais e professores, devem se opor frontalmente à pressão fascista. Recuar só beneficia a censura e a extrema-direita. Cada tentativa de censura deve ser respondida com uma divulgação e promoção massiva das obras atacadas. Até que os fascistas desistam de atacar à cultura brasileira e voltem para os esgotos de onde vieram.