Jair Bolsonaro e Fernando Collor de Mello têm mais em comum do que o fato de ambos terem sido eleitos mediante fraude e contra a vontade do povo. Em Abril de 1990, o então recém-eleito carioca playboy fundiu os Ministérios das Minas e Energia, das Comunicações e dos Transportes em uma única pasta: o Ministério da Infraestrutura, extinto dois anos depois de sua criação. Agora, reeditando a falaciosa ladainha de “enxugamento do Estado” que aos neoliberais tanto agrada, Bolsonaro prometeu ressuscitar esse defunto.
O que chama mais atenção, entretanto, é o sujeito escolhido para chefiar a pasta. O engenheiro Tarcísio Gomes de Freitas foi anunciado por Bolsonaro na manhã de terça-feira (27) nas tradicionais e infantes publicações de Twitter do falsário presidente. Além da direção do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) – único cargo executivo de sua trajetória – Tarcísio é um milico bastante ordinário. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e graduado pelo Instituto Militar de Engenharia, o futuro ministro ( a depender da concretização da posse Bolsonaro) não apresentaria qualquer característica digna de nota, não fosse sua truculência.
A breve carreira como consultor legislativo não impediu Tarcísio de “brilhar” ao propor o aumento da opressão ao povo. Por ocasião de uma audiência da CPI da Funai e do Incra, criticou a demarcação de terras indígenas e as exigências feitas pelo órgão indigenista para a execução de projetos de estradas. Bolsonaro, que já deixou claro diversas vezes a intenção de não demarcar mais terras para indígenas e quilombolas, (além de ser avesso aos movimentos campesinos que lutam por terra) certamente se sentiu atraído pelo discurso agressivo de Tarcísio. Mesmo antes deste cargo, Gomes de Freitas já demonstrava sua subserviência ao imperialismo quando chefiou a seção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil no ataque da ONU à soberania do Haiti.
A ameaça que se desenha cada vez mais nítida para o ano de 2019 é gravíssima. O parlamentar folclórico, de sofrível comunicação e inegável incompetência, foi aparelhado pela direita para aprofundar o golpe deflagrado em 2016. Os mesmos anônimos poderosos que arrancaram a presidenta Dilma do poder e, mais recentemente, tiraram Lula do processo que o reconduziria à presidência, direcionam o governo “eleito” para a formação mais neoliberal de toda a história.
Tarcísio, como Bolsonaro, é mais um obscurantista no poder e sua função não é outra senão apoiar a entrega das riquezas nacionais, a criminalização das lutas dos oprimidos e – o mais afeto à sua função – passar o trator literalmente sobre o país na abertura da trilha dos gafanhotos. Por isso, todos os operários, trabalhadores, negros, indígenas e demais grupos ameaçados diretamente pela ascensão da extrema direita (isto é, quase a totalidade da população brasileira) deve se unir em torno da luta contra o golpe, materializada pela exigência da liberdade do preso político Lula, pelo desmantelamento desta matilha de estúpidos do governo Bolsonaro e pela convocação de uma nova assembléia constituinte pautada e conduzida pelo povo.