A candidatura do PT ao governo do Distrito Federal teve 60.592 votos no primeiro turno das eleições realizado no domingo (7), com 4% dos votos válidos, correspondendo a aproximadamente 60,5 mil eleitores. Seria o pior desempenho eleitoral do Partido dos Trabalhadores no DF, que conta hoje com mais de 24 mil filiados. Superar a votação obtida dependeria, teoricamente, apenas de cada filiado agregar dois votos além do seu próprio. A população do DF teria virado “coxinha”? É claro que não. O mau desempenho eleitoral se deve justamente à hesitação do PT em empreender uma ampla mobilização de luta contra o golpe de Estado em curso. O Partido acabou por jogar passivamente o jogo dos golpistas, recebendo em troca uma ostensiva fraude na contagem dos votos.
Ano | Candidato | Votos | % |
---|---|---|---|
1990 | Carlos Saraiva | 133.704 votos | 20,27% |
1994 | Cristovam Buarque | 285.841 votos | 37,18% |
1998 | Cristovam Buarque | 426.312 votos | 42,66% |
2002 | Geraldo Magela | 495.498 votos | 40,9% |
2006 | Arlete Sampaio | 275.660 votos | 20,93% |
2010 | Agnelo Queiroz | 676.394 votos | 48,41% |
2014 | Agnelo Queiroz | 307.500 votos | 20,07% |
2018 | Júlio Miragaya | 60.492 Votos | 4,01% |
Aparentemente, a intenção da cúpula do Partido dos Trabalhadores na Capital Federal era de apresentar uma candidatura laranja. A única sindicalista a postular o cargo, a presidente do Sindicato dos Professores, Rosilene Corrêa, retirara sua pré-candidatura antes mesmo da convenção do Partido, à qual chegaram o bancário aposentado Afonso Magalhães e o economista Júlio Miragaya. Embora Magalhães seja coordenador da Central de Movimentos Populares, e certamente Miragaya seja um quadro admirável, nenhum dos dois estava à frente de sindicatos ou organizações mais decididamente combativas. Escolhido o nome de Miragaya em 28 de julho, o PT passaria a contar com o apoio do Partido Republicano da Ordem Social (Pros) em nível nacional em 4 de agosto.
O acordo parecia claro: em função da negociação nacional, o nome pouco competitivo de Miragaya era um apoio tácito à candidata do Pros ao GDF, Eliana Pedrosa – ex-secretária de Desenvolvimento Social do governo de José Roberto Arruda (PR): nada menos que um dos grupos dominantes da burguesia local. Embora tenha liderado as pesquisas em vários momentos, porém, Pedrosa não chegou ao segundo turno do pleito, que será disputado entre Ibaneis (MDB) e do atual governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
Toda a campanha eleitoral do PT no DF foi tímida do ponto de vista de mobilização. O Partido concentrou recursos nos parlamentares que já possuíam mandato, deixando as candidaturas ligadas às bases populares à míngua – em alguns casos sem um centavo sequer. As bandeiras e materiais de propaganda de muitos dos candidatos – feitos justamente com os recursos concentrados – praticamente escondiam sua filiação partidária. Os atos eram carreatas, distantes do diálogo com a população, e mal se viam panfletos, santinhos etc. Palavras-de-ordem identitárias e quase psolistas ganharam protagonismo, em detrimento do atendimento de necessidades concretas da população.
Em suma: o PT entrou na defensiva na campanha eleitoral, como que tentando se passar por um partido burguês, e acabou por capitular completamente à burguesia. Acima de tudo, o PT não denunciou o golpe em sua campanha, participando da disputa como se fossem eleições normais. É a velha tática fracassada de “priorizar a pauta positiva, evitando palavras negativas”, como se não houvesse um brutal ataque do imperialismo sobre o país, como se a burguesia local não estivesse toda comprometida com o golpe, como se a presidente deposta em 2016 não fosse do próprio PT, como se a base desse mesmo processo eleitoral de 2018 não fosse justamente o encarceramento ilegal de Luiz Inácio Lula da Silva numa masmorra em Curitiba. Enfim: como se aqui se tratasse de mera “disputa de narrativa” e não de um embate real entre forças políticas.
De fato, diante de uma tática tão recuada, em que se evitava mesmo falar em golpe, não ocorreu na cidade uma intensificação das mobilizações reais de luta contra o golpe. Os comitês pela liberdade de Lula se tornaram comitês eleitorais e as mobilizações foram praticamente a zero – como no acanhado Grito dos excluídos de 7 de setembro, que de milhares de pessoas em 2016 e 2017 foi reduzido a pouco mais de 200 manifestantes perdidos na Esplanada.Um evidente sinal de desmobilização: os votos do PT foram minados justamente no alto índice de não comparecimento, que chegou a 18,73% dos eleitores. Somam-se a isso 3,94% de votos em branco e 6,76% de votos nulos, chegando a um índice de abstenção de 24,72% nas eleições para o GDF.
Combalido, desmobilizado, o PT-DF tornou-se por fim vítima fácil de uma das manipulações eleitorais mais descaradas das muitas que ocorreram nessa semana Brasil afora. É evidente que 24 mil filiados conseguem aglutinar muito mais votos que aqueles computados pelas urnas golpistas. É evidente que Ibaneis não possui qualquer base popular real que justifique sua ida ao segundo turno, e menos ainda ao Palácio do Buriti. É evidente que houve uma grosseira fraude nesse processo eleitoral, uma fraude da qual o PT participou cabisbaixo e pouco combativo, concentrando suas energias numa ilusória promessa de vitória em eleições presidenciais conduzidas pelos golpistas.
A experiência prática mostrou o desacerto dessa estratégia. Para mudar a relação real de forças, não cabem ilusões eleitorais. É preciso organizar e mobilizar as bases populares de todos os partidos de esquerda na luta contra o golpe.