O Instituto Tomie Ohtake abriu suas portas para a exposição AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar, que ocorre entre os dias 04 de setembro a 04 de novembro.
Fruto de uma pesquisa, segundo relata o curador Paulo Miyada, tem como centro a produção de artes visuais do período da ditadura militar no Brasil (1964-1985). Tratada como uma exposição-ensaio, nos faz seguir um percurso de vários estágios de restrição dos direitos democráticos. Serviu de motivação para a pesquisa e a formulação da exposição reflexão que é ressaltada pelo Instituto:
Para que pode servir uma instituição de arte em um país como o Brasil, hoje, em 2018? Embora isso não chegue diretamente ao olhar dos visitantes, essa é uma pergunta que as equipes do Instituto Tomie Ohtake enfrentam cotidianamente, no trato com as responsabilidades intrínsecas aos trabalhos desenvolvidos. As respostas para isso são muitas e uma delas passa pela revisão contínua da história da arte dentro da história mais ampla da sociedade, acreditando que tanto uma quanto a outra podem aparecer de forma renovada quando colocadas em tensão.
O Ato Institucional nº 5, AI-5, que foi baixado em 13 de dezembro de 1968, por Costa e Silva, general que presidia o país naquele momento, ficou marcado pela expressão “o ano que não terminou”, título do livro de Zuenir Ventura, de onde sai a inspiração para o nome da exposição. O AI-5, sem dúvida, é o que mais fortemente marcou o sentido da ditadura civil-militar do Brasil, sendo sinônimo de arbitrariedade, violência, censura, perseguição e morte. Ele vigorou por 10 (dez) anos, até dezembro de 1978, mas seus efeitos permanecem até hoje.
Colocar essa reflexão na mesa, ou na forma de uma exposição, é fundamental para encararmos os perigos da instalação de um regime de exceção. O poder de exceção, o fato de governantes e outros, se verem autorizados a punir como bem lhes aprouver seus inimigos, ou os inimigos do regime (que seriam sempre classificados desse modo segundo os interesses do poderoso de plantão), cria na sociedade uma permissividade com a violência, com o abuso de poder, com a desqualificação da cidadania segundo a classe social, crenças, cor, ideologia, que, em momentos de crise, se manifestam violentamente.
Temos visto o ressurgimento do uso do discurso moral, de cunho conservador – que apresenta feições fascistas e ditatoriais, que levaram à proibição de exposições, retirada de quadros de galerias, protestos violentos contra artistas, curadores e instituições. Ou seja, não apenas censura ou a exigência dela, mas a criminalização e a demonização da arte e de artistas, a expressão aberta do desejo do banimento e da violência, até da morte, dos que, por meio da arte, da cultura, ousem provocar reflexões e criticar o status quo, a ordem, a moral vigente, a visão de mundo dos que dominam a opinião pública.
Muito oportuna, portanto a exposição que, espera-se, estenda-se para outros lugares do país.