Neste domingo (28), ocorreu o primeiro debate entre presidenciáveis das eleições de 2022. Transmitido e organizado pela Rede Bandeirantes, o evento contou com a participação de Lula (PT), Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe D’Ávila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Acima de promover uma discussão democrática entre os candidatos, que procurasse mostrar ao eleitor quais são as propostas, vantagens e desvantagens de cada um, tais debates servem para que a burguesia fabrique o seu próprio jogo dentro das eleições. Em outras palavras, são realizados para que os capitalistas criem a imagem que vai lhes favorecer no pleito, para que emplaquem o candidato que melhor representa os seus próprios interesses.
É justamente por isso que é a própria rede quem decide quais são as regras do debate, como será o seu funcionamento. Caso contrário, o evento seria mais democrático no sentido de que os candidatos ficariam livres para apresentar as suas próprias colocações. Não seriam, portanto, obrigados a responder perguntas enviesadas por parte de representantes da imprensa burguesa que possuem a sua própria ideologia atrelada à burguesia como classe.
A imprensa confirma as pretensões da burguesia
No dia seguinte ao debate, na segunda-feira (29), isso ficou absolutamente claro. Em todos os principais jornais da imprensa burguesa, só falava-se de uma coisa: a candidata da Terceira Via, Simone Tebet. Tebet, segundo as pesquisas eleitorais anteriores ao debate, possuía cerca de 3% das intenções de voto. Ou seja, encontra-se apagada dentro do pleito em decorrência da popularidade de Bolsonaro e, sobretudo, de Lula.
Entretanto, até o momento, principalmente por meio da imprensa burguesa, a burguesia deixou claro que Tebet é a sua candidata oficial. Nesse sentido, estão em busca de aumentar a sua popularidade e, mais especificamente, aumentar a sua projeção nas pesquisas, justamente para, futuramente, conseguir justificar algum tipo de manobra que substitua ou Lula, ou Bolsonaro, por Tebet em um eventual segundo turno.
Afinal, se querem viabilizar a sua candidatura, precisam de alguma explicação mais ou menos plausível do porquê uma das figuras mais desconhecidas das eleições foi capaz de alcançar os primeiros colocados nas pesquisas. Algo que, no passado, foi feito de maneira similar com elementos como Aécio Neves, político desprezado pelo povo que, segundo as pesquisas eleitorais e o próprio resultado do pleito, em 2014, estava próximo de alcançar Dilma.
E é exatamente isso que as manchetes dos jornais capitalistas procuram fazer, criticam o desempenho de Lula e Bolsonaro no debate ao mesmo tempo em que vangloriam Tebet. Todavia, fazem isso por meio de uma ideologia já muito bem consagrada que, proveniente do imperialismo americano, infestou a política nacional: o identitarismo.
A questão da mulher
Durante o próprio debate, a questão da mulher foi um dos principais temas discutidos entre os candidatos. Os jornalistas presentes, representantes dos grandes meios de comunicação, fizeram questão de introduzir essa questão por meio de suas perguntas, algo que foi direcionado, principalmente, para Tebet e Soraya que, por sua vez, reforçaram o posicionamento identitário.
Mais para o final do debate, por exemplo, Tebet perguntou a Bolsonaro “Por que tanta raiva das mulheres?”. Mais adiante, Ciro Gomes utilizou sua cota de demagogia ao questionar, também para Bolsonaro, sobre sua polêmica colocação acerca da “fraquejada”. Chegando ao final, Ana Estela, da Folha de S. Paulo, perguntou a Lula se ele se comprometeria com 50% de participação feminina ministerial em um eventual governo seu.
Em suma, colocações absolutamente abstratas, vazias de conteúdo político, principalmente no que diz respeito a um apontamento prático que verdadeiramente impulsione a luta da mulher no Brasil.
Finalmente, a jogada da burguesia consistiu em atacar Lula e Bolsonaro, deixando claro que suas respectivas participações foram fracas, ao mesmo tempo em que exaltaram as mulheres presentes na ocasião, principalmente Tebet. Esta foi, inclusive, agraciada com uma enxurrada de artigos e reportagens que, de maneira geral, favoreciam a candidata do MDB.
Basta analisarmos algumas das manchetes dos principais jornais da imprensa burguesa desta segunda-feira. O Estadão escreveu que “Bolsonaro vira alvo por ataque a mulheres; Lula por corrupção”; o Globo, disse que “Bolsonaro ataca mulheres, e Lula foge do tema corrupção”; em uma guinada ainda mais identitária, a Isto É disse que a “Masculinidade tóxica de Bolsonaro coloca Simone Tebet na disputa”; enquanto que o Correio Braziliense afirmou que “Mulheres se impõem em debate radical e misógino”.
Fica absolutamente claro que existe uma campanha da burguesia em marcha neste momento, e a questão da mulher ocupa o principal foco desta mobilização. Não é à toa que o slogan de Tebet, nas eleições deste ano, seja exatamente “Mulher vota em mulher”. Frase que dá o tom de todo o planejamento político em torno dela.
Uma campanha demagógica
No final, deve ficar claro que as colocações tanto da imprensa burguesa, quanto das candidatas presentes no debate são uma verdadeira farsa. Tais setores são inimigos consagrados da classe trabalhadora brasileira que é composta por uma maioria de mulheres. Ou seja, representam justamente o contrário das reivindicações das mulheres no Brasil.
E mais: é para isso que serve o identitarismo. Procuram criar um véu de que a burguesia estaria preocupada com a questão da mulher, ao mesmo tempo em que advogam que a defesa de seus interesses se dá por meio de reivindicações abstratas, como o “fim do ódio à mulher”.
Na realidade, o único candidato capaz de trazer algum avanço para a mulher brasileira é Lula, pois representa, na sua forma mais acabada, a luta dos trabalhadores contra o golpe de Estado no Brasil. As candidatas do MDB e da União Brasil representam, antes de qualquer coisa, a direita tradicional. Ou seja, a burguesia mais atrelada ao imperialismo e, consequentemente, à política neoliberal. Política que, na época FHC, por exemplo, foi responsável pela incrível cifra de 300 crianças mortas por dia no Brasil ao final de seu mandato.