Criado nas universidades dos países imperialistas, em particular os Estados Unidos, o identitarismo tem sido impulsionado em todos os países, entre outros objetivos, para servir como uma barreira ao desenvolvimento de uma organização de luta da classe operária e de todos os oprimidos.
No Brasil, o incêndio da estátua de Borba Gato colocou em destaque novamente na imprensa burguesa – pró-imperialista – a chamada “pauta identitária”. Sob a cobertura de que a ação teria sido feita por “ativistas da periferia”, a burguesia, por meio de seus órgãos de imprensa, está fazendo muita propaganda dos identitários.
O objetivo é muito claro. Em meio a uma enorme crise do regime político golpista, com mobilizações de rua levantando reivindicações populares, é preciso desviar o foco da revolta para questões inócuas e até mesmo reacionárias.
No Brasil, a principal figura política que pode se beneficiar dessa mobilização nas ruas é o ex-presidente Lula. De maneira distorcida ou não, Lula é a expressão eleitoral da mobilização que se forma nas ruas do País. As ações identitárias impulsionadas direta e intencionalmente pelo imperialismo logicamente tem como principal alvo, o líder petista.
Uma manobra contra a esquerda nacionalista
O exemplo internacional não deixa dúvidas. Para citar apenas um caso recente, no Equador, Yaku Pérez, apresentado como líder indígena, foi candidato apoiado pelo imperialismo para tirar votos do candidato do nacionalismo, apoiado por Rafael Correia, Andrés Arauz. Pérez ficou em terceiro lugar e ajudou na eleição do candidato pró-imperialista Guillermo Lasso. Além de indígena, durante toda a eleição, Pérez foi também apresentado na imprensa como um “ecossocialista” e “ativista”, ou seja, como uma candidatura esquerdista, usando o identitarismo como cobertura ideológica. A manobra foi bem sucedida e elegeu o candidato golpista.
Mas não é só isso. A manobra imperialista contou com o apoio de parte da esquerda pequeno-burguesa brasileira. Alas do PSOL e a UP, por exemplo, defenderam a candidatura de Pérez. Essa posição não é um simples equívoco. Esses dois partidos são justamente os que no Brasil se colocaram a favor da prisão de Lula e do golpe e que nesse momento são contra a candidatura de Lula. PSOL e UP são os partidos que nesse momento representam o identitarismo, ou seja, são uma esquerda pró-imperialista.
Em mais de uma oportunidade, Lula foi apresentado como “homem branco”. No caso do ex-operário metalúrgico que veio do Nordeste os identitários não se empolgam em defendê-lo. Como toda política demagógica, o identitarismo serve apenas aos interesses políticos daqueles que querem se beneficiar com ela. A demagogia comum da esquerda com o Nordeste não vale se for Lula, já que essa esquerda está preocupada em lançar seus próprios candidatos.
O identitarismo está sendo impulsionado pelo imperialismo contra os partidos nacionalistas que foram derrubados pelos golpes de Estado na década passada e isso também foi visto na Bolívia, na Venezuela ou na Nicarágua.
Identitarismo: “nem esquerda, nem direita”
É comum, também, setores identitários aparecerem em público criticando a esquerda por não “dar espaço para negros e mulheres”. Eis aí outro aspecto reacionário do identitarismo. Não que seja proibido criticar os partidos da esquerda, o problema é que não se trata de mera crítica, mas uma ideia cujo conteúdo político é bem claro. Segundo os identitários, o problema não é a esquerda ou a direita, ou seja, a luta política em defesa dos interesses de todos os explorados. Bastaria que a pessoa fosse negra, mulher, LGBT, indígena etc.
Mas quem defende o direito dos negros, das mulheres, dos indígenas e dos oprimidos em geral? A direita? O PSDB? O bolsonarismo? Trata-se da versão identitária da ideia dos coxinhas de que “não há esquerda, nem direita, mas o certo”.
Se é assim, portanto, não caberia aos negros, mulheres, indígenas e LGBTs serem de esquerda, votarem na esquerda, lutar por um programa de luta, mas defender o interesse individual. Foi a partir dessa ideia, por exemplo, que Wesley Teixeira foi candidato a vereador em Duque de Caxias (RJ) com dinheiro de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC, e outros representantes dos banqueiros.
Teixeira, que foi candidato pelo PSOL, contou com o apoio de Douglas Belchior, que também foi do PSOL e que agora se apresenta como um dos líderes da recém-criada “Coalizão negra por direitos”, um grupo identitário que vem se colocando como pretenso organizador dos atos contra Bolsonaro. Belchior afirmou na época que “Se fosse um lourinho Zona Sul teria o mesmo tratamento? Seria alvo da mesma desconfiança?”. A típica declaração oportunista para justificar um fato incontestável: negro ou branco, Wesley é um homem de confiança dos banqueiros.
A “coalizão negra por direitos”, assim como o PSOL, a UP e outros partidos adeptos da frente ampla, é frontalmente contra a presença de Lula nas manifestações e, obviamente, contra a candidatura de Lula.
No Rio de Janeiro, os atos são comandados por Wesley Teixeira e em São Paulo, pela “Coalização negra”.
Mais ligações com o imperialismo
A “Coalizão negra por direitos” é ligada a uma ONG fundada pelo imperialismo britânico em plena II Guerra Mundial, a Oxfam, e tem parceria com órgãos empresariais como o Instituto Ethos. Não se trata, portanto, de um movimento popular, mas de um grupo que vem sendo impulsionado por capitalistas, a maioria ligados a grandes monopólios imperialistas.
Não há dúvida que está em jogo uma manobra contra Lula e a esquerda, usando a cobertura ideológica do identitarismo. Politicamente, o PSOL tem aparecido como o partido que agrupa a maior parte desses identitários. Vale lembrar que o PSOL tem um histórico contrário a Lula e a favor do golpe. Os dirigentes do partido foram favoráveis à Lava Jato, alguns foram a favor do golpe e da prisão de Lula.
Como fica claro, por trás do incêndio do Borba Gato tem muito coisa, menos revolta popular.