O imperialismo é antes de mais nada um regime político baseado no estabelecimento da força. Para que essa força seja estabelecida, é preciso concentrar a produção em monopólios/oligopólios internacionais; estabelecer o capital financeiro como instrumento dominante de poder econômico; exportar capital em processo desigual de trocas; organizar uma divisão dos territórios nas mãos de poucos agentes políticos e de poucas nações, se possível, nas mãos de um único país.
Diante dessas considerações sobre o regime, quais são as estratégias para atingir essas finalidades?
É preciso ter forças armadas bem-organizadas, tecnologicamente bem-dotadas, articuladas por coalizão de Estados e capazes de estabelecer-se em um sem-número de territórios no planeta. Para isso é preciso capital e trabalho disponível, que não se insurja e não reclame dos patrões.
O campo das Relações Internacionais, um dos mais colonizados, utiliza dois termos que servem para fins meramente didáticos, o Hard Power e o Soft Power. Nós geógrafos preferimos avançar na análise da geopolítica, geoeconômica e geoestratégia, três pilares de sustentação da dominação planetária, contudo, ninguém avançou mais que a ciência marxista, que define o regime imperialista como sendo constituído por estrutura e superestrutura.
A superestrutura ou ideologia é fundamental para incutir os valores da burguesia que habilmente controla a estrutura desde a “Revolução Gloriosa”, no século XVII estabelecendo uma imprensa organizada, igrejas, universidades, escolas e o fortalecimento da filantropia, dispositivo amplamente utilizado pelas monarquias europeias, a fim de diminuir a possibilidade de revoltas e revoluções.
O liberalismo político estabelecido pela “Revolução Gloriosa” passou a ser modelo para dominação territorial em toda a Europa, e influenciou revoluções burguesas liberais pelo continente europeu, Estados Unidos e Japão, algumas ocorridas de modo mais violento, porém, com sequência de organização do regime político semelhante, onde a filantropia tem amplo protagonismo, nas sociedades “secretas” e organizações não-governamentais, “sem fins lucrativos”, a fim de “auxiliar o Estado” a realizar a obra e a tarefa de manter os trabalhadores “vivos”.
Reino Unido da Filantropia
A herdeira do Império Romano, o Reino Unido, aperfeiçoou vários mecanismos de controle social romanos, além da filantropia, o evergetismo, naquilo que é conhecido atualmente como “Pão e Circo”. Essas ideias elementares de controle social se unificaram com o liberalismo, de modo que os controladores físicos do regime, ou seja, os ricos, passaram a orientar a política a partir de instituições “externas ao Estado” para influenciar a política. No século XVI podemos mencionar uma instituição francesa, produtora de ideias, como a Club de l’Entresol .
Contudo, a ideia moderna de “think tank”, embora termo criado nos Estados Unidos, é fenômeno do século XIX, pois executaram um modelo de trabalho que mantém a mesma receita até hoje, como é o caso da mais antiga delas, a Royal United Services Institute, fundada em 1831, em Londres. A RUSI é uma instituição ultraconservadora, porém, não demoraria para a esquerda inglesa criar outra instituição, a Fabian Society, cujo lema é “O futuro da esquerda desde 1884”. Essa instituição deu origem ao Labour Party.
O mais antigo think tank americano, o Carnegie Endowment for International Peace, foi fundado em Washington, D.C., em 1910, pelo magnata Andrew Carnegie. Carnegie dizia aos ricos empresários que usassem o fundo para “apressar a abolição da guerra internacional, a mancha mais suja sobre nossa civilização”, numa das frases mais demagógicas e, ao mesmo tempo, realistas.
A fim de não repetir sobre a questão “think tank”, recomendamos novamente a leitura do artigo onde apresento uma definição de “think tank” e uma breve análise marxista sobre o tema. Mas, resumidamente, “think tanks” são instituições que publicam artigos, estudos e projetos sobre questões particulares da política ou da sociedade. Essas informações são prontamente usadas por governos, empresas, organizações de mídia, movimentos sociais ou outros grupos.
Filantropia não tem partido: a superestrutura em ação
Trotsky denuncia a filantropia a partir de uma crítica de Lênin à Wells, que escreveu um artigo “O sonhador do Kremlin”. De acordo com Trotsky, na obra “Lênin”, o primeiro líder da União Soviética retrucou o “socialista” inglês, Wells:
Trotsky menciona Lênin:
– Ah! Que filisteu! repetia, retomando a conversa. Quando me disse isto, tinha chegado o momento em que se iria abrir a sessão do bureau político; e, em suma, Lenine limitou-se a repetir várias vezes a apreciação sobre Wells que acabo de relatar. Mas ela era mais que suficiente. Na verdade, eu não tinha lido muita coisa de Wells e nunca o vira. Fazia, contudo, uma ideia bastante clara desse socialista de salão, pertencente à Fabian Society, desse literato de grande fantasia e utopia que acabava de lançar uma vista de olhos sobre a experiência comunista. A exclamação de Lênin, e sobretudo o tom em que fora proferida, completavam sem dificuldade a minha impressão.
Trotsky endossa e amplifica a análise de Lênin sobre Wells, intitulando-o como “coletivista, evolucionista”: “Por coletivismo evolucionista devemos entender uma mistura ao gosto da Fabian Society, onde entram o liberalismo, a filantropia, uma Legislação social utilizando meios tão econômicos quanto possíveis e as meditações dominicais sobre um futuro melhor. O próprio Wells formula da seguinte maneira a essência do seu coletivismo evolucionista: ‘Creio que, através de um sistema regularmente estabelecido de educação da sociedade, o capitalismo atual pode civilizar-se e transformar-se num regime coletivo.’”
Portanto, para Trotsky, o inglês Wells:
Omite dizer-nos quem se encarregará de aplicar “um sistema de educação” e a quem esse sistema deverá ser aplicado: deveremos pensar que os lordes de crânio alongado estabelecerão o seu sistema para o proletariado inglês, ou que, ao contrário, o proletariado passará por sobre os crânios dos lordes? Oh! não, tudo menos esta última solução! (Para que serviriam os membros instruídos da Fabian Society, os homens de pensamento, de imaginação desinteressada, os gentlemen e as ladies, o Snr. Wells e a Snr.ª Snowden, senão para civilizar a sociedade capitalista produzindo de forma regular e sistemática o que se esconde nos seus crânios; para que serviriam senão para transformar esta sociedade num Estado colectivo, dum modo progressivo, tão razoável e tão feliz que até a dinastia real da Grã-Bretanha se não apercebe disso?
Lênin também critica as “acrobacias da filantropia burguesa” no célebre “A Contribuição da Mulher na Construção do Socialismo”, de 1919, quando Lênin faz uma analise global do sistema de opressão capitalista e seus mecanismos de dominação via superestrutura.
A esquerda filantrópica e seus objetivos
A partir das considerações realizadas, podemos afirmar que o único objetivo da filantropia e das organizações não-governamentais, é controlar o regime político via “soft power” ou por uma “geopolítica” em favor do imperialismo, condicionando a esquerda à superestrutura burguesa. Como o capitalismo é um sistema produtor de mercadorias, onde a desigualdade é inerente ao modo de produção, a esquerda pequeno-burguesa que fica à reboque da filantropia, apenas quer manter seus privilégios a partir do sangue do trabalhador e da indústria da pobreza.
Os casos mais notórios de filantropia a todo custo parece estar no sistema solar PSOL, PCB e UP, que mantém um conjunto de organizações a partir de financiamento do imperialismo, como é o caso do National Endowment for Democracy (NED), Fundação Ford, Open Society entre outras fundações que servem apenas para manter a miséria e constituir uma indústria. As denúncias feitas por este Diário sobre um dos líderes desse movimento caça níquel, Guilherme Boulos, demonstram que a única função dessa esquerda é, como disse Lênin, fazer acrobacias.
Com isso, temos organizações desvinculadas da população pobre, mas utilizando-a para suas manobras políticas e manutenção do regime político, daí o estabelecimento de frases infantis, estética vinculada à publicidade de cada período, milimetricamente organizada, e atos artísticos como no império Romano “Panis et Circences“, numa forma clara de humilhar o povo pobre e trabalhador.
Como combater a filantropia
A união de trabalhadores para a tomada dos meios de produção proverá a sociedade da igualdade necessária para uma organização que se liberte da opressão, que também vem dos partidos políticos da esquerda imperialista, que cumprem a função ongueira como faz Guilherme Boulos e seus sócios do IREE. A maquinação desses atores políticos imperialistas é a manutenção do regime político, que no Brasil tem a fachada e verniz de “direita” (como os Institutos Fernando Henrique Cardoso, Fundação Getúlio Vargas e Vem pra Rua) e à esquerda (como os Institutos Lauro Franco e Marielle Franco e Instituto Marielle Franco). O IREE faz a antropofagia bipartidária, confundindo propositalmente a população, especialmente a esquerda.
A esquerda precisa denunciar o que os trabalhadores já perceberam, mas não têm como se libertar imediatamente, pois passam fome. O Estado e o Imperialismo produzem a fome, a miséria e a destruição, além de produzir oportunistas, que entram em cena para se apropriar da alma e da carne em putrefação dos miseráveis, que se multiplicam em governos como Bolsonaro e abrutres do PSDB e derivados. políticos como o sistema solar PSOL, com seus satélites UP e PCB.
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