Nas camadas de fragilização da vida, as mulheres negras ocupam a base da vulnerabilidade. No trabalho, na escolarização, no acesso à saúde, na proteção de direitos básicos e, inclusive, nas representações culturais. Assim é no audiovisual: uma pesquisa feita pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), do IESP/UERJ, analisando “a cara do cinema nacional”, entre 2002 e 2012, identificou que apenas 20% dos atores e atrizes eram negros e negras, e desse total, apenas 4% eram mulheres [1].
Essa dupla sub-representação, de raça e gênero, faz com que a ideologia dominante na cultura seja a perpetuação de um ideal masculino, eurocêntrico e capitalista, a cara da elite brasileira.
Pensando neste impasse, o de um país majoritariamente negro e extremamente mal representado socialmente, o livro organizado por Bárbara Cazé, intitulado “Mulheres negras na tela do cinema”, procura colocar em debate a produção cinematográfica brasileira, desde a atuação até a estruturação, feita por negros e negras. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, analisadas por acadêmicas negras de diferentes áreas, das obras Braços Vazios, de Daiana Rocha (ES), Casca de Baobá, de Mariana Luiza (RJ), Deus, de Vinícius Silva (SP), Mulheres de Barro, de Edileuza Penha de Souza (ES), Nada, de Gabriel Martins (MG), Tia Ciata, de Mariana Campos e Raquel Beatriz (RJ) e Travessia, de Safira Moreira (RJ) [2].
Diz respeito, portanto, da ampliação das vozes que estão direta ou indiretamente envolvidas na produção do audiovisual no Brasil; uma produção no engajamento da luta antirracista que esbarra em políticas públicas de acesso à educação, como a política de cotas, já que são negros e negras jovens e universitários que mais tem produzido esse determinado conteúdo.
Historicamente, o capitalismo não apenas desumanizou a população negra, como permanentemente procurou apagá-la, muitas vezes, literalmente, da história.
O patrocínio direto à escravidão que perdura até hoje é a marca racista das burguesias brasileira e estrangeira que deve ser confrontada com iniciativas que buscam a visibilidade dessas lutas anti-imperialistas hollywoodiana no cinema, já que essa indústria americana também carrega a marca da supremacia branca – a título de exemplo, basta citarmos um dos símbolos de Hollywood “O Nascimento de uma Nação”, de 1915, que exalta a Ku Klux Klan e promove a depreciação os negros [3]