A repressão covarde contra o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), protagonizada nesta terça-feira (9) pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escancara o avanço da política de arbítrio e censura contra qualquer oposição mínima ao regime político vigente. A cena grotesca – parlamentares sendo agredidos, jornalistas empurrados, TV Câmara fora do ar – é expressão da ditadura que se aprofunda no País.
Glauber, ao ocupar por mais de duas horas a Mesa Diretora da Câmara em protesto contra sua própria cassação, cometeu um ato político legítimo. Motta, por seu turno, respondeu com medidas próprias de um regime de exceção: expulsou a imprensa, acionou a polícia legislativa e agiu com tremenda truculência contra o deputado.
A cassação de Braga está sendo imposta por uma farsa jurídica baseada no episódio em que ele teria chutado um provocador do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais braços da extrema direita golpista no País. Transformar isso em “quebra de decoro” é ridículo. A própria existência de um dispositivo tão subjetivo para a revogação de um mandato já é, em si, antidemocrática. Afinal, Glauber Braga, assim como os demais 512 deputados, foram eleitos pelo povo, e caberia apenas ao povo destituí-los.
O caso também chama particularmente a atenção porque Motta, ainda que seja um reacionário, não representa o setor mais poderoso da burguesia, assim como Glauber é uma figura absolutamente secundária na esquerda brasileira. Isso mostra que, a partir do momento em que se estabelece a política de censura a partir dos poderosos, qualquer autoridade pública se torna capaz de reprimir alguém, pelos motivos mais banais.
O mandato de Glauber Braga deve ser defendido incondicionalmente. Trata-se, sem dúvidas, de um avanço da ditadura que avança no Brasil. No entanto, é preciso destacar que a esquerda que hoje sofre a perseguição institucional colhe os frutos da política oportunista que semeou. O próprio Glauber Braga foi autor do pedido de cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), que hoje também está sendo cassada. Glauber também estimulou a repressão a deputados que ocuparam a Mesa da Câmara em protesto contra a prisão de Jair Bolsonaro (PL). Nessas ocasiões, defenderam que a repressão era “justa”, pois os adversários eram “golpistas”.
A política de cassação de mandatos, repressão de manifestações e ataque contra adversários políticos é sempre um instrumento da direita e da burguesia. Pode parecer conveniente à esquerda quando usada contra a extrema direita, mas a engrenagem repressiva do Estado sempre acaba voltando-se contra os que lutam de verdade contra o regime. Apoiar essas medidas contra inimigos políticos abre o caminho para que elas sejam utilizadas contra qualquer forma de oposição.
A experiência de Glauber Braga, portanto, deve servir de lição à esquerda. A defesa dos direitos democráticos, da liberdade de expressão e do direito à manifestação deve ser incondicional, inclusive para os inimigos.





