Na noite desta segunda-feira (3), veio a óbito Richard Bruce “Dick” Cheney, uma das figuras mais criminosas do imperialismo norte-americano. Cheney tinha 84 anos e faleceu vítima de complicações de uma pneumonia agravada por problemas cardiovasculares crônicos. O anúncio, feito por um porta-voz da família, encerra uma vida dedicada às piores atrocidades testemunhadas pela humanidade nos últimos anos. Além de vice-presidente durante o governo de George W. Bush, Cheney foi o senhor da Guerra do Iraque, o principal responsável por uma invasão que ceifou centenas de milhares de vidas e desestabilizou toda a região.
Nascido em 1941 no Nebraska, Cheney começou sua carreira como estagiário no Congresso nos anos 1960, passando a chefe de gabinete da Casa Branca sob Gerald Ford em 1974. Ele se tornou deputado por Wyoming em 1978 – um estado que mal conhecia, mas que serviu de trampolim para sua ascensão. Como líder dos republicanos na Câmara durante o governo Reagan, Cheney foi um dos mais ferrenhos defensores do regime do apartheid na África do Sul, votando contra sanções que poderiam ter acelerado o fim da opressão racial. Anos depois, como secretário de Defesa sob George H.W. Bush, ele orquestrou a Guerra do Golfo em 1991.
Mas foi entre 1995 e 2000, como diretor da Halliburton – uma das maiores corporações de serviços petrolíferos e contratos militares do planeta –, que Cheney assumiria um papel ainda mais importante no regime. Sob sua gestão, a empresa faturou bilhões em negócios globais, incluindo um escândalo na Nigéria: um fundo secreto de US$180 milhões usado para subornar autoridades locais em troca de um contrato de US$5 bilhões para uma planta de gás natural.
Eleito vice-presidente de George W. Bush em 2000 – uma escolha que foi financiada por sua própria fortuna–, Cheney pressionou as agências de inteligência como a CIA para fabricar provas de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa e laços com a Al-Qaeda. Relatórios desclassificados, como os da Comissão de Inteligência do Senado em 2004, revelaram como ele manipulou dados, ignorou dissidentes internos e incentivou a disseminação de mentiras que justificaram a invasão de março de 2003.
A Guerra do Iraque, vendida ao mundo como uma cruzada pela ‘’democracia’’ resultou na morte de pelo menos 200 mil civis iraquianos nos primeiros anos, segundo estimativas da ONU e organizações como o Iraq Body Count – números que sobem para mais de um milhão se considerarmos os impactos indiretos, como fome, doenças e colapso de serviços básicos. Cidades inteiras foram reduzidas a escombros: Bagdá, Fallujah e Mosul viraram sinônimos de carnificina, com bombardeios indiscriminados e o uso de urânio empobrecido que ainda envenena solos e populações décadas depois.
A guerra foi um banquete para as corporações que ele serviu. A Halliburton, onde Cheney manteve laços financeiros mesmo no cargo público (recebendo US$ 34 mil mensais em “adiantamentos diferidos” até 2005), e sua subsidiária KBR embolsaram pelo menos US$39,5 bilhões em contratos sem licitação para logística, reconstrução e suprimentos militares no Iraque. Documentos do Pentágono mostram que Cheney se reuniu pessoalmente com lobistas do petróleo antes da invasão, discutindo planos para explorar as reservas iraquianas – o segundo maior campo petrolífero do mundo. Sob sua influência, os EUA expandiram programas de vigilância em massa, sem mandados judiciais e endossaram torturas em prisões secretas da CIA, como Abu Ghraib, onde iraquianos foram humilhados e assassinados em nome da “segurança nacional”.
Nos anos finais, Dick Cheney, acometido por cinco infartos e um transplante de coração em 2012, apoiou sua filha Liz Cheney em suas rebeliões republicanas e, em 2024, anunciou voto em Kamala Harris, apoiando o maior partido da guerra dos dias de hoje, o Partido Democrata.


