No sábado, 1º de março, na Romênia, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram pacificamente nas ruas de Bucareste em apoio a Calin Georgescu, o candidato presidencial, preso por algumas horas, enquanto ia ao tribunal para apresentar sua candidatura. A correspondente da RT Charlotte Dubensky mostrou a situação em Bucareste, onde protestos em massa contra as autoridades ocorreram. Os manifestantes também estavam pedindo eleições livres e contra a corrupção na Romênia sob o primeiro-ministro Marcel Ciolacu. Algumas pessoas vieram com retratos do candidato presidencial Calin Georgescu

A eleição fraudada
Călin Georgescu, que se juntou às eleições presidenciais como candidato independente, e obteve inesperadamente uma vitória no primeiro turno, teria que enfrentar a líder reformista Elena Lasconi (USR) no segundo turno, uma candidata fraca, que seria certamente derrotada por Georgescu. Os partidos tradicionais PSD (Social-Democratas) e PNL (Liberais) não conseguiram passar no primeiro turno, numa verdadeira reviravolta eleitoral.
De acordo com os resultados oficiais, mais de 9,46 milhões de romenos votaram no primeiro turno das eleições presidenciais em 24 de novembro, representando 52,55% do total. Isso ficou um pouco acima dos 51,2% registrados na eleição presidencial de 2019.
O candidato independente Călin Georgescu obteve uma vitória chocante, reunindo cerca de 2,12 milhões de votos, ou 22,94%. Isso foi principalmente uma surpresa porque a maioria das pesquisas de opinião indicava o líder social-democrata e primeiro-ministro Marcel Ciolacu como o favorito, enquanto Georgescu raramente era coberto pelas pesquisas ou pesquisado com pontuações baixas. A reformista Elena Lasconi, candidata do partido União Salve a Romênia (USR), também conseguiu superar Marcel Ciolacu e reivindicar uma vaga no segundo turno com 19,18% (ou cerca de 1,77 milhão de votos).
De acordo com os resultados, Lasconi teve apenas 2.740 votos a mais que Marcel Ciolacu. Assim, o líder do PSD caiu para terceiro com 19,15%, marcando um importante revés para o PSD, pois é a primeira vez que os social-democratas não conseguem eleger seu candidato na final. Marcel Ciolacu deixou o comando dos social-democratas na segunda-feira após a confirmação do resultado, mas continua como primeiro-ministro até depois das eleições parlamentares marcadas agora para maio. Outro candidato de extrema-direita, George Simion (AUR), ficou em quarto lugar com 13,86%, de acordo com os resultados finais.
Enquanto isso, Nicolae Ciucă, o candidato do Partido Nacional Liberal nas eleições presidenciais, obteve apenas 8,79% dos votos – um recorde de baixa para a história pós-comunista dos liberais romenos. Ele também renunciou ao cargo de líder do PNL após os resultados. O ex-vice-secretário-geral da OTAN, Mircea Geoană, ficou em sexto lugar, com 6,32%.
No geral, a votação de 24 de novembro mostra uma grave crise do regime político, pois puniu os dois principais partidos governistas da Romênia, PSD e PNL, por seu desempenho, preferindo um candidato contra a guerra da Ucrania e menos conhecido como Călin Georgescu e a prefeita de uma pequena cidade Elena Lasconi. Enquanto isso, a corrente ultranacionalista, representada por George Simion, da AUR, e pelo independente Călin Georgescu, atingiu uma pontuação de cerca de 36%.
A mão pesada e ditatorial do imperialismo ocidental
Logo após as eleições houve um movimento conjunto do imperialismo norte-americano e europeu para cancelar o 1º turno e impedir o 2º turno. O Tribunal Constitucional da Romênia se reuniu e ouviu o depoimento de um enviado do Governo dos EUA sobre um relatório secreto sobre a interferência russa nas eleições. Em 6 de dezembro, o Tribunal Constitucional Romeno anulou os resultados das eleições por suspeita de interferência russa na campanha eleitoral por meio das mídias sociais, especialmente no TikTok, apesar de não haver evidências disso.
A decisão foi baseada em relatórios de inteligência fornecidos pelos órgãos de espionagem norte americanos, desclassificados por ordem do presidente Klaus Iohannis, que apontavam para um “ataque híbrido da Rússia” – o mesmo pretexto invocado para a vitória eleitoral anterior de Trump, o Brexit ou o referendo de independência da Catalunha em 2017.
Essa estupidez foi acompanhada por outra: a Rússia espalha boatos e mentiras através das redes sociais. Naturalmente, o absurdo foi baseado em relatórios preparados pelos americanos e chancelados pelo Serviço de Inteligência Romeno (SRI), que mencionaram mais de 85.000 supostos ataques cibernéticos atribuídos à Rússia e uma rede de cerca de 25.000 contas do TikTok ativadas semanas antes da votação, juntamente com financiamento externo não declarado estimado em mais de um milhão de euros. Os espiões logo foram expostos porque os documentos não especificavam Georgescu como beneficiário da campanha, e os russos também não apareciam. O TikTok negou as acusações de manipulação. Haveria alguma proibição na legislação romena contra a utilização das redes sociais na campanha eleitoral? Certamente que não, tudo resultava de uma decisão do imperialismo de não permitir a vitória de Georgescu.
A cassação definitiva
Certamente com o apoio inestimável da União Europeia e dos Estados Unidos, a Romênia está seguindo à risca o manual do golpe eleitoral. Se você vencer uma eleição, a recontagem não será válida e se você tentar apresentar uma candidatura, você não será aceito. É isso que está acontecendo com Calin Georgescu. O Gabinete Eleitoral Central da Romênia rejeitou em 11 de março sua candidatura para as novas eleições presidenciais que serão realizadas em maio. Esse gabinete não tem votos, é uma instição burocrática jurídica. Ele é o órgão responsável por organizar e supervisionar as eleições no país. Sua composição é definida pela Lei Eleitoral e é presidido por um juiz do Tribunal Superior de Cassação e Justiça. Há outros juízes que também fazem parte da composição, garantindo a “imparcialidade e legalidade” do processo eleitoral.
Os partidos políticos com representação parlamentar têm direito a indicar representantes para o Gabinete. Dependendo do tipo de eleição, o Gabinete pode incluir representantes de outras instituições relevantes, como o Ministério do Interior ou a Autoridade Eleitoral Permanente.
Georgescu descreveu a decisão como um “tiro direto no coração da democracia”. Com base na decisão do Gabinete Eleitoral Central da Romênia, o Tribunal Constitucional cancelou a candidatura de Georgescu. O Tribunal é composto por juízes, mas, estranhamente, são juízes vinculados a partidos políticos. Assim, o PSD tem 4 juízes, o PNL + Administração Presidencial tem 4 juízes e a UDMR tem 1 juiz. Portanto, os 9 juízes que deram o veredicto a Călin Georgescu foram:
- Marian Enache (proposta pelo PSD) – nomeada juíza do Senado (2016)
- presidente da CCR Cristian Deliorga (proposto pelo PSD) – nomeado juiz pelo Senado romeno (2019)
- Gheorghe Stan (proposta pelo PSD) – nomeada juíza pela Câmara dos Deputados (2019)
- Bogdan Licu (proposto pelo PSD) – nomeado juiz pela Câmara dos Deputados (2022)
- Elena-Simina Tănăsescu (proposta pelo PNL) – nomeada juíza pelo Presidente da Romênia (2019)
- Laura Scântei (proposta do PNL) – nomeada juíza do Senado (2022)
- Mihaela Ciochină (proposta pelo PNL) – nomeada juíza pelo Presidente da Romênia (2022)
- Livia Stanciu (proposta pelo PNL) – nomeada juíza pelo Presidente da Romênia (2016) Attila Varga (proposto pela UDMR) – nomeado juiz pela Câmara dos Deputados (2016).
O Candidato cassado tinha ZERO representantes neste Tribunal. Seria cômico, se não fosse trágico.
O que não ficou resolvido foi como se darão as eleições em maio de 2025. Se a população resolver derrotar os partidos tradicionais do regime político novamente, o que farão os imperialistas? Invadirão o país?
Veja as manifestações contra a ditadura na Romênia: