Um dos aspectos mais preocupantes da política econômica do Governo Lula é o culto ao mercado. Estabelecem-se medidas impopulares, como a taxa de juros extremamente alta, para agradar ao mercado. Cancelam-se planos quase certos de sucesso de desenvolvimento econômico, para não desagradar ao mercado. O mercado aparece, ao mesmo tempo, como um agrupamento de empresas do setor financeiro ávidas de lucro e irracionais, e como uma característica da economia capitalista dotada de uma racionalidade incontestável.
Desconhece-se o fato de que no capitalismo atual, o que dá uma certa racionalidade à economia é exatamente a supressão do mercado onde a concorrência é livre pela existência de grandes monopólios, nacionais e internacionais e que utilizam técnicas de coordenação e planejamento que aparentemente produzem alguma racionalidade econômica. Na verdade, essa racionalidade é somente aparente, porque por mais concentrada que seja uma empresa, seu objetivo vai ser sempre submeter a produção às suas necessidades de altos lucros. Isto leva estas empresas a atuarem conscientemente contra qualquer vestígio de racionalidade: elas não hesitam em produzir remédios que não curam, alimentos que matam e destruir a natureza da forma mais predatória possível para produzir o sangrento e reluzente lucro.
Alguém descreveu com grandes detalhes como funciona a economia capitalista hoje, falando sobre os Estados Unidos:” Quero alertar o país sobre algumas coisas que me preocupam profundamente. Refiro-me à perigosa concentração de poder nas mãos de algumas pessoas ultra ricas… Hoje, uma oligarquia de extrema riqueza, poder e influência está surgindo nos Estados Unidos que literalmente ameaça nossa democracia, nossos direitos e liberdades básicos, bem como a capacidade de todos nós prosperarmos”. O autor da frase é ninguém menos que Joe Biden. Embora o conceito correto seja burguesia, o uso da palavra oligarquia nos remete exatamente à forma como age esta classe no mundo capitalista hoje, como sua avidez por lucros e a sua total despreocupação com a carnificina que tem produzido, seja na guerra, seja na “paz”.
O grande tônico desta nova oligarquia não é, no entanto, o mercado. É o Estado, que muitos economistas liberais consideram o oposto do mercado. Para as grandes e monopolistas empresas que hoje dominam o mercado mundial é o Estado que hoje lhes garante a manutenção de altíssimas taxas de lucro. Um exemplo claro dessa relação é o caso de Elon Musk e suas empresas, que receberam uma chuva de subsídios, incentivos fiscais e incentivos desde pelo menos o primeiro mandato de Obama. Em 2009, a Tesla garantiu um empréstimo de US $ 465 milhões do Departamento de Energia como parte do pacote de estímulo econômico.
Além disso, sob Obama, a Federal Trade Commission (FTC) se absteve de investigar se o Google violou as leis antitruste, e empresas como a Uber, que operam sob modelos anti-trabalhadores, foram aceitas e incentivadas. Mais recentemente, sob Biden, o Tesouro resgatou o Silicon Valley Bank após seu colapso, provocado por práticas irresponsáveis de gerenciamento de risco, porque o governo aceitou agir como queriam os capitalistas financeiros.
O novo governo dos EUA não vacilou em doar terras federais para a construção de novos data centers, destinados a empresas de tecnologia que necessitam expandir suas capacidades de inteligência artificial. A oligarquia tecnológica não é um fenômeno novo. Figuras como Jeff Bezos e Elon Musk, dois dos homens mais ricos do mundo, exerceram seu poder de maneira semelhante aos oligarcas do passado, exigindo condições favoráveis para suas empresas, sonegando impostos, burlando regulamentações e fazendo lobby para influenciar as leis. No entanto, a oligarquia tecnológica deve ser entendida em seus próprios termos, pois representa uma evolução do conceito tradicional.
A infraestrutura tecnológica da qual a sociedade moderna depende é controlada pelo que é essencialmente uma oligarquia. Plataformas cruciais para comunicação, busca de informações e outros aspectos da vida digital já estão nas mãos desses monopólios. Por exemplo, o Google controla 90% do mercado de buscas, o Facebook é usado por sete em cada dez americanos, Amazon, Microsoft e Google dominam dois terços da arquitetura de nuvem da Internet. Esse imenso poderio acabou de ser questionado por uma pequena empresa chinesa de Inteligência Artificial, a DeepSeek, que com menos funcionários, equipamentos e capital produziu software melhor que o popular ChatGPT dos EUA.
As vantagens do Planejamento em relação ao mercado
A China construiu um ecossistema tecnológico e industrial altamente interconectado, abrangendo veículos elétricos, baterias, drones, mísseis, robótica, smartphones e inteligência artificial. Essa abordagem integrada cria um ciclo de feedback que reforça mutuamente o progresso em cada setor. A interconexão entre as indústrias permite o compartilhamento de tecnologia, habilidades e recursos, fomentando a inovação e o desenvolvimento acelerado. O progresso da China em uma variedade de indústrias inter-relacionadas que se reforçam mutuamente. Os ecossistemas tecnológicos e industriais da China são caracterizados por muita interconectividade entre várias indústrias. Essa interconexão permite o compartilhamento de tecnologia, habilidades e recursos entre setores, criando um ambiente sinérgico que promove a inovação e o rápido desenvolvimento.
Seria a economia chinesa então caracterizada por milhares de pequenas empresas, que dominam a produção? Não é verdade. Hoje há uma alternativa à economia capitalista anárquica, voraz e guerreira do outro lado do mundo. As empresas estatais chinesas, no entanto, são algumas das maiores empresas do mundo, respondendo por quase um quinto das empresas da Fortune 500.
A política industrial é como um quebra-cabeça: quanto mais peças você tem em termos de tecnologia e capacidade de fabricação, mais perto você está de preencher as lacunas restantes. Se você já é forte em vários setores interconectados, isso fortalece ainda mais sua posição em todos eles.
Os Estados Unidos, com Trump, voltaram à era do protecionismo como meio de fortalecer a economia nacional e proteger as indústrias locais da concorrência estrangeira. O uso de tarifas poderia dar certo se a situação da economia norte-americana fosse estruturada como a chinesa. Mas não é: nos EUA predomina a anarquia, a falta de integração e lógica no desenvolvimento, a captura do Estado por interesses corporativos e burguesias financeiras. Nesse caso, as tarifas significam apenas ganhar tempo em uma confusão generalizada de desenvolvimento sem a menor estratégia nacional.
As mudanças históricas em escala global, claramente expressas pelo presidente Xi Jinping, estão presentes na visão, estratégia e programa do último congresso do PC chinês. Eles são baseados em uma avaliação rigorosa do passado e do presente da China, bem como de suas realizações futuras. As propostas ponderadas, as projeções futuras e a presença do presidente chinês oferecem um forte contraste com o caos, a demagogia e a calúnia que caracterizaram a campanha presidencial multibilionária de Trump e seus terríveis resultados.
A clareza e a coerência de um profundo pensador estratégico como o presidente Xi Jinping contrastam com as declarações improvisadas, contraditórias e incoerentes do presidente e do Congresso dos EUA. Não é apenas uma questão de estilo, mas da substância do conteúdo.
China: pensamento estratégico e resultados positivos
A China, em primeiro lugar, estabeleceu diretrizes estratégicas bem definidas que delineiam prioridades macroeconômicas, macrossociais e militares para os próximos cinco, dez e vinte anos. Está empenhada em reduzir a poluição em todas as suas manifestações, transformando uma economia baseada na indústria pesada em uma baseada em serviços de alta tecnologia, passando de indicadores quantitativos para qualitativos.
Em segundo lugar, a China quer aumentar a importância relativa do mercado interno e reduzir sua dependência das exportações. Expandirá o investimento em saúde, educação, serviços públicos, pensões e abonos de família.
Em terceiro lugar, a China planeja investir pesadamente em dez setores econômicos prioritários. Isso inclui inteligência artificial, robótica, veículos com eficiência energética, dispositivos médicos, tecnologia aeroespacial e transporte marítimo e ferroviário. Propõe-se investir 3 trilhões de dólares para melhorar a tecnologia em setores essenciais, incluindo veículos elétricos, economia de energia, controle numérico (digitalização) e várias outras áreas. Também planeja aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de 0,95% para 2% do PIB. Além de tudo isso, a China já incorpora o “petro-yuan” para acabar com o domínio financeiro global dos EUA.
A China se tornou o maior impulsionador das redes globais de infraestrutura com seu projeto da Nova Rota da Seda, que atravessa a Eurásia. Portos, aeroportos e ferrovias construídos na China já conectam vinte cidades chinesas com a Ásia Central, Ásia Oriental, Sudeste Asiático, África e Europa. A China criou um banco multilateral, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (que tem mais de 60 países membros), contribuindo com US$ 100 bilhões para seu financiamento inicial.
A China combinou sua revolução na coleta e análise de dados com o planejamento central para derrotar a corrupção e melhorar a eficiência da alocação de crédito. A economia digital de Pequim está atualmente no centro da economia digital global. De acordo com um especialista, “a China é líder mundial em pagamentos feitos por meio de dispositivos móveis” (11 vezes mais que os EUA). Uma em cada três start-ups no mundo, avaliadas em mais de US$ 100 bilhões, nasce na China. A tecnologia digital foi adaptada aos bancos estatais para avaliar os riscos de crédito e reduzir significativamente os empréstimos inadimplentes. Isso permitirá criar um modelo dinâmico e flexível de financiamento que combine planejamento racional com vigor empresarial.
Como resultado, o Banco Mundial, controlado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, perdeu sua posição crucial nas finanças globais. A China já é o principal parceiro comercial da Alemanha e está prestes a se tornar o principal parceiro comercial e aliado contra as sanções da Rússia.
A China ampliou e ampliou suas missões comerciais em todo o mundo, substituindo o papel desempenhado pelos Estados Unidos no Irã, Venezuela e Rússia e onde quer que Washington tenha imposto sanções beligerantes.
Embora a China tenha modernizado seus programas de defesa militar e aumentado os gastos nesse campo, quase toda a ênfase está na “defesa interna” e na proteção das rotas comerciais marítimas. A China não participou de uma única guerra nas últimas décadas.
O que está, no entanto, no núcleo do sucesso econômico da China é o fato de grande parte de sua economia estar sob controle do Estado, e submetida a uma lógica de planejamento, evitando que a lei do valor, ou seja, o mercado, contamine e destrua sua economia.
O sistema de planejamento central da China permite que o governo aloque recursos para a economia produtiva e seus setores prioritários. Também é significativo que o controle central sobre os fluxos de capital (para fora e para dentro) permita a alocação de recursos financeiros para setores produtivos de alta tecnologia, limitando a fuga de capitais ou seu desvio para a economia especulativa. Como resultado, o PIB da China tem crescido quatro vezes maior do que a taxa de crescimento da UE e três vezes maior que a dos EUA.
Em termos de demanda, a China é o maior mercado do mundo (e está crescendo). Existem periódicos aumentos da renda dos trabalhadores, especialmente para trabalhadores assalariados. O presidente Xi Jinping afirmou que o capítulo sobre desigualdades sociais é o principal objetivo a ser melhorado nos próximos cinco anos. Recentemente a China declarou que não existe mais no país a pobreza extrema. A burguesia chinesa não deveria existir, se considerarmos que o país de identifica como socialista. É realmente uma excrescência a existência de bilionários e de uma cultura burguesa discriminatória e fútil como em qualquer país capitalista. O governo assegura que esta burguesia é rigidamente controlada pelo Estado, e que ela não detém qualquer poder político real. É, no entanto, uma permanente ameaça interna contra o país.
O avanço da China na produção automotiva é evidente quando se considera seu progresso em dominar o mercado de veículos elétricos. Todos os principais fabricantes europeus e americanos ignoraram as advertências dos ideólogos da mídia ocidental e se apressaram em criar joint ventures com a China.
A China tem uma política industrial ativa e planejada. A China planeja ultrapassar os Estados Unidos e a Alemanha em inteligência artificial, robótica, semicondutores e veículos elétricos até 2025. E será bem sucedida, porque essas são as suas prioridades científicas e econômicas, claramente especificadas.
Na China, cientistas e inovadores desempenham um papel fundamental na produção e aumento da disponibilidade de bens e serviços para as crescentes classes média e trabalhadora. Nos Estados Unidos, a elite econômica desempenha um papel fundamental no aprofundamento das desigualdades, no aumento dos lucros por meio da redução da carga tributária e na transformação do trabalhador americano em uma força de trabalho temporária e mal remunerada, destinada a morrer prematuramente devido a condições precárias de trabalho e vida.
Enquanto o presidente Xi Jinping trabalha lado a lado com os melhores cientistas do país para subordinar os militares a objetivos civis, o presidente Trump e seu governo subordinam suas decisões econômicas ao complexo militar-industrial-financeiro pró-Israel. Pequim, por outro lado, investe em redes globais de cientistas, pesquisadores e acadêmicos.
China: caminhos para o futuro
A China demite e persegue funcionários corruptos e apoia os inovadores. Sua economia está crescendo por meio de investimentos, empreendimentos e uma grande capacidade de aprender com a experiência e a esplêndida coleta de dados. Os Estados Unidos desperdiçam seus recursos domésticos em várias guerras, especulação financeira e corrupção desenfreada em Wall Street.
A China direciona sua economia planejada para atender às suas prioridades domésticas. Ela usa seus recursos financeiros para criar projetos históricos de infraestrutura global, que servirão para aprimorar suas parcerias internacionais mutuamente benéficas. Não surpreendentemente, a China é vista como caminhando para o futuro com um passo determinado, enquanto os Estados Unidos são vistos como uma ameaça aterrorizante e caótica à paz mundial e seus propagandistas como cúmplices voluntários. Nunca um império com poder tão ilimitado entrou em declínio e pode sofrer um colapso com tão poucas conquistas.