César Chaigneu

César Chaigneau Jr. é formado em Letras pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara – Unesp. É professor de Português e Espanhol da rede estadual de ensino de São Paulo. Foi redator e editor do Caderno de Cultura do Jornal Causa Operária entre 2020 e 2021 e é redator do Diário Causa Operária. Apresentou o podcast O Mundo em Uma Hora e participa do Corresponde Internacional às sextas.

Coluna

Golpe no Corinthians?

Na última segunda-feira, foi aberto um processo de impeachment contra o atual presidente do Corinthians, Augusto Melo. Torcida protesta e se mobiliza

Na noite de 20 de janeiro, iniciou-se o processo de impeachment do presidente do Corinthians, Augusto Melo, que está em seu segundo ano de mandato. O procedimento foi aprovado após uma votação no Conselho Deliberativo do clube, realizada no Parque São Jorge. Na ocasião, 126 conselheiros votaram a favor da abertura do processo, enquanto 114 foram contrários.

O pedido de impeachment foi motivado por suspeitas de desvio de dinheiro relacionado ao contrato do Corinthians com a casa de apostas VaideBet. Contudo, até o momento, o presidente do clube, Augusto Melo, não foi indiciado no caso, e nenhuma prova concreta contra ele foi apresentada.

Augusto Melo enfrenta forte oposição desde que venceu as eleições do Corinthians no final de 2023. Após sua posse, diversos empresários de jogadores, que anteriormente não cobravam judicialmente as dívidas do clube, passaram a exigir o pagamento de forma imediata. Além disso, uma parcela significativa dos membros que integraram a nova gestão a abandonou ainda em 2024.

A imprensa tem exercido forte pressão sobre o clube para que sua gestão seja conduzida por um CEO ou para que o Corinthians seja transformado em uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Essa pressão aumentou após a divulgação de uma auditoria realizada pela empresa inglesa Ernst & Young, contratada por Augusto Melo, que recomendou, entre outras medidas, que o clube evitasse contratar jogadores em determinadas janelas de transferências para equilibrar as finanças.

Apesar do enfraquecimento político de Augusto Melo dentro do Parque São Jorge, a torcida do Corinthians não apoia sua destituição. Uma enquete realizada pelo portal Meu Timão, principal canal de notícias do clube na Internet, revelou que aproximadamente 96,5% dos torcedores são contrários à sua saída.

A principal torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel, também se manifestou contra o impeachment. O grupo convocou uma manifestação em frente ao Parque São Jorge durante o momento da votação.

Apesar das dívidas acumuladas pelo Corinthians antes de sua gestão, especialmente com empresários de jogadores, Augusto Melo atendeu a algumas demandas antigas da torcida. Para este ano, por exemplo, a Neo Química Arena terá sua capacidade ampliada com a retirada de cadeiras em alguns setores, e o presidente já anunciou planos de expandir ainda mais o estádio.

Foi durante a gestão de Augusto Melo que teve início a campanha de arrecadação organizada principalmente pela Gaviões da Fiel para quitar a dívida do estádio do Corinthians. Lançada em novembro do ano passado, a iniciativa já arrecadou mais de 35,5 milhões de reais.

Além dos empresários de jogadores, que foram contrariados por Augusto Melo ao anunciar que buscaria alternativas para negociações, o presidente do Corinthians também desagradou outros setores empresariais. Entre eles estão alguns donos de camarotes da Neo Química Arena, que, segundo relatos, estariam inadimplentes ou operando com contratos desatualizados e desfavoráveis ao clube.

Além disso, Augusto Melo retirou o Corinthians da Libra, que negociava os direitos de transmissão com a Rede Globo, e integrou o clube à Liga Forte União (LFU), que já havia firmado contratos com Record, CazéTV e Amazon. Após a saída do clube paulista da Libra, a LFU passou a negociar também uma parte dos jogos com a Rede Globo.

É importante ressaltar que a situação envolve acusações contra o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., de impedir que o presidente do Corinthians se defendesse das acusações.

Fica evidente, portanto, que o processo de impeachment, que não se baseia em provas concretas, mas em uma investigação que sequer apontou indiciados por crimes, é motivado por uma mudança na política interna do clube. Esse movimento se configura como um golpe contra a torcida do Corinthians, que apoia o presidente atual e deseja a continuidade de seu trabalho, especialmente devido ao bom time montado pela gestão após anos de dificuldades. O processo, portanto, pode ser visto como um golpe ao Corinthians e a sua torcida.

É fundamental que a torcida do Corinthians — especialmente as torcidas organizadas — promova uma ampla campanha nas redes sociais e nas ruas, convocando a participação na manifestação que ocorrerá no dia da votação, que decidirá pelo afastamento ou não de Augusto Melo, ainda sem data definida.

É igualmente necessário denunciar a falta de democracia dentro do Corinthians. Neste processo, apenas 240 pessoas têm o poder de decidir pela permanência ou não de um presidente que conta com o apoio da grande maioria da torcida. Isso não se baseia apenas nos resultados da enquete mencionada acima, mas também na movimentação observada nas redes sociais e na própria mobilização no dia da abertura do processo, assim como na tentativa de votação no final do ano passado, quando a sessão foi adiada.

Abaixo, deixo a nota oficial da Gaviões da Fiel sobre o processo:

Na noite desta segunda-feira (20), o Gaviões da Fiel esteve presente no Parque São Jorge para acompanhar a reunião do Conselho Deliberativo que tinha como pauta a votação do impeachment do presidente Augusto Melo.

Gostaríamos de expressar nosso descontentamento com a forma de condução da reunião do conselho, marcada por despreparo e desorganização, o que é inaceitável considerando o tamanho do SCCP e a importância da pauta em debate. É lamentável a exposição negativa que os “representantes” do clube estão trazendo diariamente para o nosso Corinthians e exigimos que sejam penalizados, conforme o estatuto do clube, artigo 28, alínea E, que destaca que é passível de pena de desligamento o associado que difamar a imagem do Clube.

Reforçamos o nosso pedido ao Conselho Deliberativo para que apresentem as provas à Fiel Torcida ou aguardem a conclusão final do inquérito policial para seguir com a tomada de decisão baseada em dados e não em interesses políticos.

Lembramos que até o momento não se tem notícia de abertura de processos para punição para membros de gestões anteriores que causaram um rombo nas contas do clube da ordem de mais de 2 bilhões de reais, para os quais não faltam suspeitas de má gestão, ou mesmo indícios de ilícitos, causando estranheza a seletividade de critérios. Reafirmamos: se bastarem suspeitas, é necessário expulsar todos os dirigentes que comandaram o clube nos últimos 20 anos, evitando-se que retornem ao poder. E também fica o questionamento: onde estavam os conselheiros nesse tempo todo que nada fizeram?

Nossa posição não significa apoio à gestão atual, mas sim de tornar o processo justo. Seguiremos atentos e cobrando essa diretoria por uma gestão responsável e transparente.

Queremos, acima de tudo, que o clube tenha paz para seguir em frente nessa temporada, honrando sua grandeza e história. É urgente que essa briga interna por poder seja cessada, em respeito ao Corinthians e à sua torcida.

Com a Fiel Torcida não se brinca. O Corinthians é do povo!

VOCÊ CORINTHIANO, JUNTE-SE A NÓS, ESSA LUTA É DE TODOS.

Gaviões da Fiel Torcida

Site oficial onde a nota foi postada pode ser acessado aqui.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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