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Editorial

As lágrimas de crocodilo dos genocidas para os alemães

O que esperar daqueles que comem “o pão que o diabo amassou” por causa do imperialismo?

A imprensa burguesa está emocionada. Ou, pelo menos, assim parece. Claro, isso se formos acreditar realmente que os sócios do imperialismo mundial têm sentimento por alguma coisa que não seja o lucro dos banqueiros. Soltam lágrimas de crocodilos para os cinco mortos e os feridos do atentado em Magdeburgo, na Alemanha.

A Folha de S.Paulo, por exemplo, que chegou a publicar matérias falando que a Naqba (genocídio dos palestinos em 1948, durante a fundação de “Israel”) sequer aconteceu, deu grande repercussão para as homenagens às vítimas, dizendo que a cidade no centro da Alemanha “via a consternação pelas vítimas, homenageadas com velas, flores e bichos de pelúcia”.

Que bela homenagem! Enquanto defendem o maior genocídio que ocorre no século XXI, possivelmente o maior desde o extermínio promovido pela Alemanha Nazista, “lamentam” a morte de alemães atacados (supostamente) por um médico saudita que invadiu um mercado de Natal.

Afinal, é aquela coisa: a vida dos europeus e norte-americanos valem mais do que as do resto do mundo. Comoção mesmo só existe quando o povo desse país morre. Mas se são os árabes, tendo principalmente mulheres, crianças e idosos assassinados pelo Estado racista, genocida e terrorista de “Israel”, trata-se apenas de uma “guerra”.

Pior ainda: essa mesma imprensa hipócrita que “chora” os mortos da Alemanha, faz uma campanha intensa de calúnias contra a resistência palestina, que resiste contra o Estado opressor, e é partidária da ideia de que “os palestinos começaram a guerra”, porque resistiram, após 100 anos de opressão, contra os abusos sionistas na região.

O médico Taleb, o saudita que arrastou “centenas de pessoas por 400 metros de vielas formadas por barracas em um dos quarteirões mais movimentados da região central”, como diz a Folha, é apenas um cidadão que, vendo os absurdos que ocorrem contra o povo árabe ao redor do mundo, não aguentou e tomou alguma medida.

Tanto é que, segundo a própria imprensa burguesa, ele teria trabalhado para ajudar os sauditas, especialmente as mulheres, a fugir da Arábia Saudita. Tratando-se de um dos países mais pró-imperialistas e sionistas do Oriente Médio, Taleb teria, no mínimo, uma tendência a ir contra a opressão imposta pelo imperialismo contra seu povo.

Fato é que, diante da barbárie promovida pelo imperialismo, não podemos exigir nenhum tipo de “moralidade” daqueles que, deixando os sentimentos tomarem o lugar da razão, agem desta forma contra cidadãos de um país imperialista. Não que o povo alemão tenha culpa, longe disso: a culpa é integralmente do governo imperialista deste país, que promove o genocídio dos palestinos no Oriente Médio.

Da mesma forma, as vítimas de Taleb também devem ser colocadas na culpa do governo, que promove o pior tipo de atrocidade nos países árabes, a Palestina especificamente.

Um partido revolucionário entende que o “terrorismo individual”, como se dizia no passado, não resolve. A única solução é a luta contra o imperialismo. Mas não pode, ao mesmo tempo, condenar esse ataque; deve dizer que os alemães de Magdeburgo são vítimas da própria política genocida de seu governo imperialista — inimigo dos povos oprimidos, inclusive, dos próprios trabalhadores alemães.

Em um de seus artigos para o New York Daily Tribune, Engels, um dos pais do marxismo, argumentou o seguinte acerca da resistência popular chinesa durante a Segunda Guerra do Ópio:

“Evidentemente, existe um espírito diferente entre os chineses agora, em comparação com o que mostraram na guerra de 1840 a 1842. Naquela época, o povo estava calmo; deixou os soldados do imperador lutarem contra os invasores, e se submeteram, após uma derrota, com o fatalismo oriental, ao poder do inimigo. Mas agora, pelo menos nas províncias do sul, onde o conflito tem se concentrado até agora, a maioria do povo toma uma parte ativa, senão fanática, na luta contra os estrangeiros. Eles envenenam o pão da comunidade europeia em Hong Kong em grande escala, e com a mais fria premeditação (alguns pães foram enviados para Liebig para exame. Ele encontrou grandes quantidades de arsênico em todas as partes deles, mostrando que já havia sido misturado à massa. A dose, no entanto, era tão forte que deve ter agido como um emético, contrariando assim os efeitos do veneno). Eles embarcam com armas escondidas em vapores de comércio e, durante a viagem, massacram a tripulação e os passageiros europeus, e tomam o barco.

Eles sequestram e matam qualquer estrangeiro ao seu alcance. Até os trabalhadores emigrantes para países estrangeiros se levantam em motim, como se fosse por concerto, a bordo de todos os navios de emigrantes, e lutam pela posse do navio, e, em vez de se render, afundam com ele ou morrem em suas chamas. Mesmo fora da China, os colonos chineses, os mais submissos e dóceis até então, conspiram e se levantam repentinamente em insurreição noturna, como em Sarauaque; ou, como em Singapura, são mantidos à força e com vigilância. A política pirata do governo britânico causou essa revolta universal de todos os chineses contra todos os estrangeiros, marcando-a como uma guerra de extermínio” [grifos nossos].

As lágrimas de crocodilo da imprensa burguesa não nos comovem. Pelo contrário, servem apenas para continuar a campanha contra o povo árabe e justificar o massacre que cometem no Oriente Médio. Do nosso lado, dizemos: é um método de reação. Não é o melhor, nem o mais apropriado, mas o que esperar daqueles que comem “o pão que o diabo amassou” por causa do imperialismo?

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