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Estados Unidos

Não há nada mais ‘misógino’ que as bombas do Partido Democrata

Articulista tenta justificar apoio à genocida Kamala Harris por ser uma mulher

No artigo Trump vs. Harris: A Misoginia Americana nas Urnas, publicado pela Al Jazeera, Julie Bindel apresenta Kamala Harris como uma alternativa para enfrentar o “machismo tóxico” de Trump e do movimento Make America Great Again (MAGA). Segundo a autora, a candidatura de Harris representaria uma vitória importante para as mulheres norte-americanas, principalmente devido ao caráter “sexista” da base de apoio de Trump e aos ataques pessoais que Harris teria sofrido por parte dos conservadores. Em vez de focar em questões de política externa e econômica fundamentais, Bindel escolhe transformar Harris em símbolo de resistência contra o “patriarcado”, deixando de lado os verdadeiros interesses e impactos da política representada pela atual vice-presidente.

Bindel afirma que “Trump sugere que a América só poderá ser ‘grande novamente’ se os homens americanos recuperarem o controle sobre ‘suas’ mulheres” e apresenta Trump como um perigo para os direitos das mulheres. Contudo, ao se concentrar na figura de Trump como inimigo e em Harris como solução, Bindel cai no erro comum do identitarismo: desviar a discussão das políticas reais para uma questão de identidade. As perguntas mais essenciais ficam de fora: qual é a posição de Harris sobre a Palestina, sobre a guerra na Ucrânia, sobre o golpe na Venezuela e sobre a política econômica neoliberal? Essas são questões fundamentais, que afetam não apenas as mulheres nos Estados Unidos, mas também milhões de mulheres em todo o mundo. Ao omitir essas questões, o artigo de Bindel evita encarar as contradições de Harris e do próprio imperialismo que ela representa.

Um dos temas mais importantes ignorados por Bindel é a posição do governo Biden-Harris sobre a Palestina. Em vez de questionar a política de Harris sobre o conflito, Bindel prefere focar em aspectos imaginários de sua candidatura, ignorando completamente o apoio incondicional da vice-presidente ao regime de “Israel”. Afinal, o governo Biden-Harris é o principal financiador do genocídio perpetrado por “Israel” em Gaza, resultando no assassinato de mais de 43.000 palestinos, incluindo milhares de mulheres e crianças. Desde o início da atual fase do conflito, em 7 de outubro de 2023, os bombardeios têm atingido hospitais, escolas e áreas residenciais.

A omissão de Bindel sobre essa questão é especialmente preocupante considerando que a Al Jazeera tem sido um dos mais importantes veículos de denúncia dos crimes de “Israel” contra o povo palestino. Ao não mencionar o apoio de Harris ao genocídio palestino, Bindel ignora as vítimas desse conflito e negligencia o papel dos Estados Unidos em sustentar o genocídio contra os palestinos.

Finalmente, a política de Harris e do governo Biden não oferece qualquer benefício para as mulheres e crianças palestinas que sofrem diariamente sob um regime de ocupação apoiado por Washington. Defender Harris como uma alternativa “menos misógina” é fechar os olhos para as mulheres palestinas cujas vidas são brutalmente afetadas pela política imperialista dos Estados Unidos.

Outro ponto que Bindel evita tratar é o apoio irrestrito de Harris à guerra na Ucrânia, um conflito orquestrado e financiado pelos Estados Unidos e pela expansão da OTAN. Fato é que o governo Biden-Harris continua a enviar bilhões de dólares em armamento para a Ucrânia, aprofundando o conflito e aumentando a instabilidade na região.

Bindel argumenta que o “sexismo” de Trump desqualifica sua candidatura. Que dizer, então, do fato de que Harris é a número dois do governo que é o principal financiador do genocídio perpetrado por “Israel” na Faixa de Gaza? Do governo que, em quatro anos, foi responsável por duas guerras e orquestrou diversos golpes de Estado em todo o mundo? Às custas, inclusive, da população norte-americana, que vive em condições cada vez piores.

Finalmente, o custo dessas guerras recai também sobre a classe trabalhadora dos Estados Unidos – incluindo as mulheres -, que vê seus impostos sendo usados para financiar conflitos sem fim, enquanto os problemas de saúde, educação e infraestrutura são ignorados. Ao omitir essa política, Bindel deixa de reconhecer que Harris representa o imperialismo, regime responsável pelo assassinato e pela miséria de mulheres e crianças, seja na Ucrânia, seja na Palestina, seja nos próprios EUA.

A ausência de qualquer menção à política de Harris sobre a América Latina é igualmente reveladora. Desde o golpe contra o governo de Dilma Rousseff (uma mulher!), em 2016, e a tentativa de derrubar Nicolás Maduro na Venezuela, os Estados Unidos têm interferido ativamente na política da região, apoiando figuras e governos que são aliados do imperialismo norte-americano. Sob o governo Biden-Harris, as sanções econômicas contra a Venezuela continuam a afetar diretamente a população, dificultando o acesso a alimentos, medicamentos e outros bens essenciais.

Essa política tem impactos profundos na vida das mulheres venezuelanas, que enfrentam diariamente os efeitos das sanções e da crise econômica provocada pela intervenção estrangeira. O mesmo ocorre em Cuba.

Ao ignorar o papel de Harris e de Biden em sustentar esse cerco econômico, Bindel novamente escolhe apresentar uma política que evita qualquer crítica ao imperialismo norte-americano, como se o fato de Harris ser mulher a isentasse de suas responsabilidades. Ao invés de abordar o papel de Harris no sofrimento de milhões de mulheres venezuelanas e cubanas, Bindel prefere focar em ataques imaginários de gênero, o que mostra o quão superficial é sua análise.

Por fim, Bindel evita qualquer menção à política econômica defendida por Harris, que, como parte do governo Biden, continua a promover o neoliberalismo, política de destruição dos direitos dos trabalhadores – e das trabalhadoras. Problemas como a falta de acesso à saúde de qualidade, o aumento dos custos de vida e a exploração do trabalho afetam de forma desproporcional as mulheres.

Defender Harris sem discutir sua política econômica é ignorar o impacto que ela tem sobre a vida das trabalhadoras norte-americanas. Esse tipo de política não tem nada de “feminista”, pelo contrário, ela aprofunda a exploração das mulheres em nome do regime imperialista.

Bindel finaliza seu artigo com a defesa de Harris, afirmando que, apesar de suas falhas, a vice-presidente é uma opção melhor do que Trump para os direitos das mulheres. No entanto, ao reduzir o debate ao sexo da candidata, Bindel ignora sua política genocida, um exemplo clássico do identitarismo: uma doutrina que busca mascarar as atrocidades cometidas pelos países imperialistas, especialmente pelos Estados Unidos.

No fim, não importa que Harris seja mulher; o que importa é que ela é uma das maiores defensoras da maior máquina de matar da história da humanidade e, consequentemente, do sofrimento e da exploração de milhões de mulheres e homens, tanto nos EUA, quanto fora do país. O artigo de Bindel revela o verdadeiro papel do identitarismo: fornecer uma justificativa para o apoio a verdadeiros criminosos.

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