Sob a presidência russa, os BRICS fizeram progressos impressionantes. Em 2024, Moscou consolidou o bloco como uma alternativa política, econômica e cultural ao bloco imperialista e seus aliados, que abdicam de sua soberania em benefício dos Estados Unidos. O BRICS criou condições para evoluir, adquirindo o caráter de uma verdadeira organização internacional também no aspecto financeiro, com a criação de um sistema de pagamentos próprio. Esse sistema visa facilitar as trocas intrabloco e com países imperialistas, utilizando cada vez mais as moedas nacionais e diminuindo a dependência do dólar, tratado como moeda, e não como arma dos EUA.
Em resumo, a Rússia fez todo o possível para fortalecer e unificar os BRICS em 2024, preparando a organização para futuros desafios. Os eventos realizados durante a cúpula destacaram-se na geopolítica global. Essa gestão russa dos BRICS mostrou que, ao contrário do que afirmaram os líderes do G7, a Rússia nunca esteve tão bem situada no cenário internacional, atraindo a atenção dos países participantes e da mídia global. Nesse contexto, a coletiva de imprensa do presidente Putin foi um grande evento, com ampla cobertura, inclusive de veículos de países imperialistas.
O fim da era Bretton Woods
Após a Segunda Guerra Mundial, o FMI e o Banco Mundial tornaram-se as principais agências de cooperação econômica mundial, nascidas do Acordo de Bretton Woods em 1944. Essa ordem econômica vigorou até 1971, quando o presidente Nixon encerrou unilateralmente a conversibilidade do dólar em ouro. Apesar da transformação do dólar em uma moeda como qualquer outra, seu valor foi sustentado pelo poder imperialista. Desde a crise de 2008, FMI e Banco Mundial tornaram-se instrumentos para extrair enormes recursos do “Sul Global” e financiar gastos crescentes do imperialismo norte-americano.
As intervenções no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria revelam esse caráter destrutivo do capitalismo atual. O imperialismo atacou esses países por desafiarem seu poder, algo que os BRICS, como bloco, ensaiam praticar ao diminuir a dependência do dólar. Essa destrutividade também está presente no resgate de bancos como em 2008 e mais recentemente com o Silicon Valley Bank, onde quantias massivas são destruídas pela especulação, em uma socialização de prejuízos e capitalização privada de lucros.
O FMI é talvez mais conhecido pela imposição de “Programas de Ajuste Estrutural”, onde seus empréstimos condicionam países a eliminar déficits, reduzir gastos públicos e privatizar setores-chave da economia em favor das multinacionais. O FMI, ao invés de promover o desenvolvimento, força esses países a liquidar suas estruturas produtivas, condenando suas populações à miséria e fome. Em 2024, 54 países enfrentam crise de dívida, gastando mais em juros exorbitantes do que em educação ou saúde.
Os empréstimos do Banco Mundial, por sua vez, funcionam como um “motosserra” para abrir mercados lucrativos aos capitalistas, que, em crise de superprodução e queda na taxa de lucro, veem no setor público dos países emergentes uma fonte de lucro. O setor de saúde, educação e segurança pública tornam-se mercados monopolizados e altamente lucrativos, até mesmo as prisões são exploradas para investimentos protegidos pelo Estado.
Uma análise da Oxfam de programas recentes do FMI revelou que, para cada dólar incentivado em proteção social, o FMI impôs cortes de US$ 4 em austeridade. A análise concluiu que os gastos mínimos eram “profundamente inadequados, inconsistentes e fracassados.”
Enquanto isso, a China avança com o projeto “Um cinturão, uma rota”, oferecendo empréstimos a juros baixos e sem exigir sacrifícios. A China também tem perdoado dívidas e renegociado condições. Cresce o número de países que buscam o “crescimento compartilhado” com os chineses, fora das amarras do imperialismo.
Isso não impediu que EUA e demais potências tentassem destruir esses países. A Rússia enfrentou sanções extorsivas após se proteger da agressividade ucraniana, e a China sofre pressões militares sobre Taiwan.
Hoje, os BRICS possuem um PIB combinado superior ao G7 em termos de paridade de poder de compra. No bloco, a China é a maior economia (17,6% do PIB global), seguida pela Índia (7%), enquanto Rússia, Brasil e África do Sul juntos representam 6,1%. Não é uma potência uniformemente distribuída, e o PIB per capita dos EUA ainda é mais de três vezes o da China.
O grupo BRICS+ não é composto por países imperialistas, e não se compara diretamente ao G7. A cúpula de Kazan destacou o avanço da unidade política, com um acordo histórico entre China e Índia e uma maior proximidade entre Irã e Arábia Saudita. A integração da Arábia Saudita é um ponto ainda incerto, mas o bloco se unificou na visão de uma estrutura econômica e financeira alternativa ao imperialismo.
No meio do caminho, há uma pedra: o Brasil
Se depender do Brasil, liderado por Lula, os BRICS podem enfrentar dificuldades em 2025. A preferência de Lula por presidir o G20 e a COP-30 sugere que os BRICS não são uma prioridade. A delegação diplomática brasileira enviada à cúpula de Kazan carecia de peso e conhecimento do cenário mundial atual.
Recentemente, Lula aproximou-se do Ocidente, cortou laços com a Nicarágua, não reconheceu a vitória de Maduro e condenou a operação russa na Ucrânia. A postura ambígua do governo brasileiro em relação ao genocídio em ‘Israel’ ilustra isso, com o governo brasileiro não expulsando o embaixador de ‘Israel’ e se limitando a lamentar as mortes de israelenses. Em uma nota oficial, o governo caracterizou a resistência palestina como “terroristas fanáticos religiosos.”
No discurso por teleconferência em Kazan, Lula iniciou agradecendo pelo apoio no G20 e rapidamente abordou a emergência climática e a questão da multipolaridade sob uma ótica de “redução de assimetrias.” Defendeu cautela na criação de um sistema de pagamentos dos BRICS, com um lema para 2025: “fortalecendo a cooperação do Sul global para uma governança mais inclusiva e sustentável,” evitando antagonismos com os imperialistas.
O veto de Lula à entrada da Venezuela nos BRICS, mesmo como país parceiro, reforça sua submissão ao imperialismo. A política econômica do governo brasileiro é neoliberal, e o ministro Fernando Haddad nem sequer compareceu ao encontro dos ministros da Fazenda em Kazan. Haddad tem recomendado que o Brasil não participe do projeto “Um cinturão, uma rota” da China.
Com a pressão imperialista aumentando, 2025 trará desafios para os BRICS, mas o bloco, com um eixo formado por China, Rússia e Irã e a adição de parceiros como a Turquia, deve continuar avançando. Para os países emergentes, a alternativa é clara: a submissão ao imperialismo em plena decadência.