Pouco tempo depois da deflagração da heroica Operação Dilúvio de Al-Aqsa, o Diário Causa Operária (DCO) iniciou uma série chamada História da Palestina. Desde então, como parte do Especial Palestina, este Diário publicou em todas as suas edições um artigo contando uma parte da história da Palestina, do povo palestino, da resistência palestina, a ocupação sionista, da participação dos países da região na luta da Palestina e mais.
Neste artigo, em comemoração ao aniversário da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, reunimos alguns dos artigos que contam a história do Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, e de sua fundação. Confira, abaixo, os artigos na íntegra:
A Irmandade Muçulmana na Palestina
Publicado originalmente em 8 de janeiro de 2024
Fundada no Egito pelo professor islâmico Hassan al-Banna em 1928, a Sociedade dos Irmãos Muçulmanos, também conhecida como Irmandade Muçulmana (al-Ikhwan al-Muslimun), é hoje uma das principais organizações políticas do oriente-médio.
Inicialmente, o movimento caracterizado como Pan-islâmico, tinha como característica a pregação do Islã no Egito em paralelo com uma atividade de movimento social, alfabetizando pessoas e ajudando no estabelecimento de hospitais e ramos empresariais. No entanto, a irmandade evoluiu e se tornou um agrupamento político com o avanço da luta árabe contra o colonialismo britânico, em especial nos anos que seguiram a Segunda Guerra Mundial.
O agrupamento se espalhou para outros países muçulmanos e sofreu duras repressões, em especial no Egito, desde 1948. O grupo continuou a ser marginal na política árabe até 1967, onde na Guerra dos Seis Dias, quando o nacionalismo árabe foi derrotado por “Israel” e entrou em profunda decadência, dando lugar aos movimentos religiosos na política local, sendo na Primavera Árabe o ponto alto da organização da Irmandade em todo Oriente Médio, em especial na sua legalização no Egito em 2012.
Na Palestina, tanto no território hoje ocupado por “Israel” quanto na Faixa de Gaza e Cisjordânia a Irmandade Muçulmana possui um papel de destaque na organização da resistência palestina.
Abdu al-Rahman al-Banna, irmão do fundador da Irmandade Muçulmana, Hasan al-Banna, foi para Palestina ainda sob mandato britânico e estabeleceu a Irmandade Muçulmana em 1935. Outro importante líder associado à Irmandade Muçulmana na Palestina foi Izz al-Din al-Qassam, principal liderança popular palestina, martirizado durante a revolução de 1936.
Os membros da Irmandade lutaram ao lado dos exércitos árabes em 1948, durante a guerra entre os países árabes e “Israel”.
Nas décadas de 1950 e 1960, o objetivo da Irmandade era “a educação de uma geração islâmica” através da reestruturação da sociedade e da educação religiosa, em vez de oposição a “Israel”, e assim perdeu popularidade para os movimentos insurgentes. Tal fator viria a ser alterado com a mudança no panorama político, em especial com a revolução iraniana que possibilitou a Irmandade aumentar sua estrutura na Palestina, e em meio a crise dos grupos de resistência preencher o vazio político deixado.
Ativa tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia, na forma de islã e política, foi a única organização com seguidores significativos nos campos na década de 1960, onde construiu uma rede sobre as orientações tradicionais do camponês e da classe média baixa. Estes últimos foram pouco atraídos pela questão religiosa, o que fizeram que não se tornassem ativistas religiosos, mas sim, combatentes nacionalistas que usaram intensamente a organização da Irmandade como modelo para a luta contra “Israel”.
A comunidade de refugiados rapidamente se tornou politizada a um nível nunca visto antes na Palestina, impulsionando a luta e a organização do povo palestino contra o Estado sionista de “Israel”.
O foco da atividade da Irmandade na década de 1960 era nas mesquitas. Constituindo mesquitas nos territórios ocupados, o dobro do que existiam antes, as mesquitas serviram para atrair os trabalhadores, desempregados, refugiados, estudantes, camponeses e outros setores de camadas mais baixas da sociedade, fornecendo ajuda econômica, instrução e ensinamentos religiosos, enquanto a liderança oficial palestina entrava em descrença diante da população.
“Os sentidos políticos da Irmandade eram suficientemente aguçados para ligar as mesquitas numa única rede, reforçando e legitimando o estatuto do movimento face à OLP. Este estado de alerta foi justificado no primeiro dia da intifada. Naquele dia, os líderes do movimento fundaram o movimento de resistência islâmica Hamas. A nova organização formou imediatamente uma ala militar cujo objectivo principal era uma estratégia de combate à ocupação, desequilibrando-se e ofuscando a OLP.
Pouco depois, surgiu um grupo dissidente da Irmandade, tentando distinguir-se através de tácticas extremas, ao mesmo tempo que aderia ao mesmo tipo de Islão político que outros movimentos palestinianos semelhantes. Este grupo tornou-se um movimento organizado, autodenominando-se Jihad Islâmica. No início foi fácil provar o seu extremismo na luta contra a ocupação, em comparação com a cautelosa Irmandade. Mas foi mais difícil competir com a nova Irmandade, o movimento Hamas.”(Ilan Pappe, Uma história da Palestina moderna)
Durante o período dos anos 70 até a fundação do Hamas, a Irmandade estabeleceu uma fase de “construção de instituições sociais.” Assim, em 1987, após a Primeira Intifada, o Hamas foi estabelecido a partir de instituições de caridade e instituições sociais afiliadas à Irmandade que ganharam uma forte posição entre a população local.
Dessa maneira, hoje, com o Hamas, a Irmandade Muçulmana é a principal referência política da resistência palestina, organizando um laço político e ideológico entre organizações no Egito, Palestina, Iraque, Síria, Jordânia, formando um importante bloco político contra “Israel” e o imperialismo em todo Oriente Médio.
Quem foi Ahmed Yassin, imã que fundou o Hamas
Publicado originalmente em 4 de novembro de 2023
Oxeque Ahmed Ismail Hassan Yassin é uma figura central da história do Movimento Resistência Islâmica (HAMAS, na sigla em árabe). O imã, quadriplégico desde o 12 anos, quando sofreu um acidente, foi o principal líder espiritual da organização política islâmica que atualmente lidera a resistência palestina contra o Estado de Israel.
Nasceu em al-Jura, um pequeno povoado perto da cidade de Ashkelon, durante o Mandato Britânico na Palestina, então dominada pelo imperialismo inglês. O ano de seu nascimento é contestado; seu passaporte palestino indicava 1º de janeiro de 1929, enquanto ele alegava ter nascido no verão de 1936, quando explodiu a Revolta Árabe (1936-1939) no país contra o domínio britânico e a expansão do sionismo.
Durante a Naqba, em 1948, sua família foi forçada a se refugiar na Faixa de Gaza, se estabelecendo no acampamento al-Shati. A Naqba (a “catástrofe”, em árabe) é como os palestinos chamam a expulsão forçada dos árabes pelas forças sionistas, iniciada após a Organização das Nações Unidas (ONU) definir, vergonhosamente, a partição da palestina em dois Estados, oficializando o Estado Judeu prometido anos antes pelo imperialismo britânico.
Após a resolução da ONU, milícias sionistas e as recém formadas Forças de Defesa de Israel iniciaram um processo de limpeza étnica na Palestina, tomando à força os territórios definidos pela entidade e expandindo seus domínios ainda mais, após se saírem vitoriosos da Primeira Guerra Árabe-Israelense. Os palestinos foram obrigados a fugir e se refugiar na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Assim, a família Yassin foi uma das inúmeras que tiveram de se estabelecer na Faixa de Gaza. Mais velho, Ahmed Yassin estudou na Universidade Al-Azhar, em Cairo (Egito), mas não conseguiu concluir os estudos por causa de sua saúde deteriorada, tendo que ser educado em casa, onde se dedicou à filosofia, religião, política, sociologia e economia.
Com alto nível cultural, se tornou um dos melhores oradores da Faixa de Gaza, e começou a proferir sermões semanais após as orações de sexta-feira, atraindo multidões. Trabalhou como professor de língua árabe numa escola elementar em Rimal, estimulando seus alunos a se dedicaram aos islamismo.
Na década de 1970, atuou ativamente na Irmandade Muçulmana, uma das maiores organizações islâmicas do mundo, fundada no Egito em 1928. Ahmed Yassin atuou ativamente para montar a filial palestina da entidade. Em 1973, o Mujama al-Islamiya (Centro Islâmico) foi estabelecido em Gaza pelo xeque. Essa organização é a base fundamental do Hamas, que até a Primeira Intifada (em 1987), não atuava como organização política, mas apenas como entidade religiosa e de caridade.
Mujama al-Islamiya foi reconhecido pelo Estado de Israel em 1979. Inicialmente, a organização, que já era grande, foi estimulada pelos sionistas e pelo imperialismo para se contrapor a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), que liderava a resistência palestina contra Israel.
Em 1987, quando explodem as manifestações populares que ficaram conhecidas como Primeira Intifada, o grupo islâmico decide montar uma organização política, o Movimento Resistência Islâmica (HAMAS), após reuniões dos principais dirigentes na casa de Ahmed Yassin. O Hamas, conforme destacou Yassin, seria a “ala paramilitar” da Irmandade Muçulmana Palestina, o imã seria o principal líder espiritual da organização.
Em 1989, ainda durante a Intifada, Yassin foi preso pelo Estado sionista e sentenciado a prisão perpétua por supostamente ordenar a morte de “colaboradores” (como chamam aqueles palestinos que colaboram com Israel).
Na década de 1990, o Hamas forma sua organização armada, as Brigadas Izzedine al-Qassam – em homenagem ao imã homônimo. Com o fim da Primeira Intifada, em 1993, nos Acordos de Oslo, o Hamas rompe definitivamente com a OLP, que aceita a resolução de dois Estados, com a promessa de formação de um Estado palestino através da Autoridade Palestina – o que, naturalmente, até hoje, ainda não ocorreu. O Hamas, por outro lado, não aceitou o acordo, decidindo lutar contra o Estado sionista, em defesa de um Estado palestino único.
Em 1997, em condições de saúde extremamente deterioradas, Yassin foi libertado das prisões israelenses em troca de dois agentes do Mossad (a CIA de Israel), capturados pela Jordânia após uma tentativa fracassada de assassinar o líder do Hamas, Khaled Mashal. O acordo também destacava que o Hamas parasse seus atentados com homens-bomba em Israel – o que não ocorreu.
Apesar de apelar por uma conciliação do Hamas com a Autoridade Palestina, buscando unificar a resistência contra o sionismo, a entidade que governava os guetos árabes já estava profundamente corrompida pelo imperialismo, atuando em conciliação com o Estado de Israel na opressão ao país. Ele, no entanto, foi colocado inúmeras vezes sob prisão domiciliar pela AP, sendo solto todas as vezes após manifestações massivas de seus apoiadores.
Em setembro de 2003, as Forças Aéreas de Israel dispararam mísseis contra um prédio em Gaza, buscando matar Ahmed Yassin. No entanto, ele conseguiu sobreviver, sendo tratado no Hospital Shifa. À imprensa, ele respondeu que “os dias provarão que a política de assassinatos não acabará com o Hamas. Os líderes do Hamas desejam ser mártires e não têm medo da morte. A jihad [guerra santa] continuará e a resistência persistirá até alcançarmos a vitória, ou até que sejamos mártires.”
Após o atentado suicida de Reem Riyashi, que matou quatro israelenses na passagem de Erez em 14 de janeiro de 2004, Ahmed Yassin foi “marcado para a morte”. Ele foi assassinado em 22 de março de 2004, quando estava sendo levado para fora de uma sessão de oração matinal em Gaza. Um helicóptero de combate israelense disparou mísseis contra Yassin e seus dois guarda-costas. Todas as manhãs, ele usava o mesmo caminho para ir até a mesma mesquita no distrito de Sabra, que ficava a 100 metros de sua casa.
Com a morte de Yassin, Abdel Aziz al-Rantissi tornou-se lider do Hamas, sendo assassinado um mês depois, em 17 de abril de 2004.
O assassinato obrigou a Autoridade Palestina a declarar três dias de luto e fechou escolas palestinas. O Hamas prometeu vingança contra Israel, e cerca de 200.000 pessoas participaram do funeral de Yassin na Faixa de Gaza. Muitos líderes árabes condenaram o ato, enquanto o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, defendeu o ataque israelense.
O chefe militar do Hamas que sobreviveu a atentados do Mossad
Publicado originalmente em 7 de janeiro de 2024
Desde o dia 7 de outubro, intensificou-se a crise da ocupação da Palestina por “Israel”, devido à ação da Resistência Armada da Palestina, o que gerou um conflito aberto na região, especialmente em Gaza. Pelo lado palestino, as brigadas Al-Qassam, braço armado do Movimento de Resistência Islâmica – ou simplesmente, Hamas, lideram a luta. Quem busca acompanhar a situação do front já deve ter se deparado com informes dados por Abu Obaida, porta-voz das brigadas Al-Qassam, que para proteger-se não usa seu nome verdadeiro e tampouco expõe seu rosto, sempre coberto pelo tradicional lenço do mundo árabe, o keffiyeh. Poucos, porém, já viram ou ouviram falar do líder militar por trás da Operação Dilúvio de Al Aqsa, aquele que lidera de forma muito bem-sucedida as brigadas Al-Qassam contra a incursão sionista por terra em Gaza que, até o momento, vem sofrendo uma dura derrota.
O misterioso chefe militar do Hamas é Mohammed Diab Ibrahim Al-Masri, mais conhecido por seu nome de guerra, Mohammaed Deif. A palavra deif, em árabe, significa “convidado”, apelido atribuído ao guerrilheiro por seu hábito de passar todas as noites numa casa diferente, como precaução contra possíveis atentados à sua vida, algo com que Deif, infelizmente, tem familiaridade. Ao contrário de Obaida, Deif não aparece publicamente e, raramente, teve sua voz gravada, mas entre os palestinos sua popularidade é sem igual.
Há apenas duas fotos suas disponíveis publicamente, sendo a mais recente delas do ano 2000. Sua aparência hoje deve ser muito diferente da imagem reproduzida nesta matéria. O mentor das brigadas Al-Qassam tem hoje 58 anos e, segundo reportagem da emissora britânica BBC, durante a primeira década do século foi alvo de quatro tentativas de assassinato israelense que supostamente lhe custaram um olho e o deixaram alejado, possivelmente dependente de uma cadeira de rodas. Há relatos ainda do jornalista israelense Shlomi Eldar, que entrevistou muitos membros do Hamas, de que desde 2006 Deif tem estilhaços alojados em seu crânio, frutos de um dos atentados contra sua vida, e que desde então precisaria de tranquilizantes para lidar com as enxaquecas provenientes do ferimento.
Deif é um fantasma e as descrições de seus feitos, de sua insistente sobrevivência contra a perseguição israelense, deram-no um caráter mitológico que, naturalmente, é aproveitado pelas lideranças políticas do Hamas. Após ataque contra o “convidado” em 2014, em bombardeio que acabou por vitimar sua esposa e seu filho mais novo, as autoridades do Hamas simplesmente declararam que Deif “ainda estava vivo e liderando a operação militar”.
Mesmo os serviços de inteligência israelenses têm dificuldade para obter mais detalhes não apenas sobre o paradeiro do líder das brigadas Al-Qassam, mas sobre sua vida. Os poucos detalhes disponíveis o colocam como um palestino comum, nascido após a Nakba, em 1948.
Em 1965, Deif, então Mohammed Al-Masri, nasceu no campo de refugiados Khan Yunis, estabelecido desde a Nakba, quando palestinos foram expulsos de suas terras pelos sionistas. À época, Gaza estava sob domínio egípcio. Sua família era muito pobre, o que levou o jovem Al-Masri a largar os estudos para ajudar o pai no trabalho. Ainda assim, conseguiu graduar-se como bacharel em Química pela Universidade Islâmica de Gaza em 1988.
Um ano antes de graduar-se, havia integrado as fileiras do Hamas, surgido quase que com o início da Primeira Intifada, como uma oposição às sucessivas capitulações da Organização pela Libertação da Palestina. Al-Masri participou da rebelião palestina e foi preso em 1989 pelas autoridades israelenses, por seu envolvimento com o Hamas. Após 16 meses de reclusão, foi libertado numa troca de prisioneiros e, logo após esse período, ajudou a fundar as brigadas Al-Qassam.
Nos anos 1990, com um papel secundário, ajudou a organizar atentados contra “Israel”. Muitos de seus companheiros foram capturados ou mortos e ele próprio foi preso pela Autoridade Palestina em maio de 2000, a pedido de “Israel”. Já como Mohammed Deif, o militante palestino estava na lista dos mais procurados pelas forças sionistas desde 1995.
A partir de 2002, Deif tornou-se de fato o líder das brigadas e transformou-as, de um grupo difuso de organizações amadoras e semi-independentes, num verdadeiro exército bem organizado. O resultado de sua ação é visível nas ofensivas de 2014, 2021 e agora, em 2023, a mais bem-sucedida de todas.
Os fragmentos de informação que juntamos para construir a história de Deif transformam-no, de certa forma, no representante perfeito da resistência palestina do último período. Nascido em Gaza, o menino que viu sua família viver com as mazelas de ter sido expulsa de suas terras juntou-se ao Hamas para resistir às forças ocupantes, participou ativamente das duas Intifadas e hoje comanda a guerrilha armada contra o sionismo. Deif expressa o direito sagrado do povo palestino à sua independência. É difícil saber se o guerrilheiro revolucionário está vivo ou se morreu e alguém tomou seu lugar, mas sua força vive, impõe medo nos sionistas e enche os palestinos de vontade de lutar.
Iahia Aiash, o fundador das Brigadas al-Qassam
Publicado originalmente em 5 de janeiro de 2024
Neste dia 05 de janeiro, há quase três décadas, no ano de 1996, o Estado nazista de “Israel” assassinou o fundador das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Movimento de Resistência Islâmica, comumente conhecido como Hamas, partido político que atualmente lidera a resistência palestina à ditadura sionista.
Iahia Abd-al-Latif Aiash nasceu em 6 de março de 1966, na cidade de Rafá, região nordeste da Cisjordânia ocupada. O mais velho de três irmãos, ao que se relata, desde criança Ayyash já se mostrava uma pessoa de grande capacidade, tendo inclusive chegado a memorizar o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica.
Apesar disto, seu real talento não se manifestou no âmbito do islamismo, mas sim da engenharia. Vindo de uma família de boa situação financeira, as possibilidades de que seu talento fosse estimulado eram maiores. Assim, ainda criança, já mostrava apto na resolução de problemas de ordem mecânica e elétrica, tais como o conserto de aparelhos de televisão, rádios, dentre outros.
Fazendo jus a esse talento, que havia colocado em prática desde cedo, ingressou na Universidade de Birzeite (universidade pública na Cisjordânia) em 1987, obtendo o bacharelado em engenharia elétrica no ano de 1991. Inicialmente, seu objetivo era seguir a carreira acadêmica. Assim, tentou adentrar no curso de mestrado, na Jordânia.
Ocorre que Aiash era um palestino, vivendo na Cisjordânia. E a região estava, e ainda está sob o jugo ditatorial de “Israel”. De forma que, para poder realizar sua especialização na Jordânia, Aiash precisaria de autorização dos burocratas do Estado sionista. O que não lhe foi concedido. Ao que se sabe, esta foi a primeira grande manifestação de repressão por parte dos sionistas contra Aiash. Foi quando ele decidiu entrar no Hamas. De forma que a perda dessa chance, de poder seguir a carreira acadêmica, graças às arbitrariedades de “Israel”, possivelmente foi o evento catalisador de sua decisão. Naturalmente, toda a repressão ao povo palestino (algo que fazia parte de sua realidade) certamente contribuiu para isto também.
Mal se tornara membro do Movimento de Resistência Islâmico, Hamas, e Iahia Aiash desempenhou um papel fundamental em reorganizar o partido, no sentido de aprimorar sua capacidade de combate ao sionismo. E como isto foi feito? De duas formas, principalmente.
Primeiramente, conforme já dito no início deste artigo, Aiash foi ninguém menos que o fundador das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, justamente o principal agrupamento militar palestinos que vem liderando a luta armada atual contra o Estado de “Israel”, e que capitaneou a ação revolucionária do 7 de outubro.
A fundação das brigadas ocorreu através de uma reorganização interna realizada pelo Hamas. O partido já possuía unidades armadas, quais sejam, a al-Majd e al-Mujahidun al-Filastiniun. Elas foram reorganizadas e centralizadas em uma única, quais sejam as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
Conforme já exposto por este Diário, as brigadas foram nomeadas em homenagem ao revolucionário nacionalista palestino, o Sheikh Izz ad-Din al-Qassam, cujo assassinato em 1935 pela polícia do Mandato Britânico foi o estopim para a Revolução de 1936.
Para além de seu papel essencial na reorganização interna da ala armada do Hamas, que resultou na fundação das Brigadas Al-Qassam, Aiash também foi fundamental em elevar o poderio militar do Hamas, em especial no que diz respeito à produção de artefatos explosivos. Para isto, utilizou seus conhecimentos em engenharia aprendidos durante toda sua vida e, em especial, na Universidade de Birzeite.
O Hamas surgiu em 1987, na conjuntura política da Primeira Intifada, sublevação de natureza revolucionária em que o povo palestino enfrentou as forças sionistas apenas com paus, pedras e, no máximo, coquetéis molotov. Hoje em dia, o Hamas tem milhares de combatentes, contando com foguetes, que, apesar de artesanais, são extremamente eficientes em atingir o território israelense, inclusive rompendo o “Domo de Ferro”.
Nesse intermédio, o Movimento de Resistência Islâmica utilizou-se como método de resistência os atentados suicidas. Era uma questão de necessidade, haja visto que a feroz ditadura imposta por “Israel” sobre os palestinos não lhes permitia, ainda, travar uma luta armada ampla, generalizada. Nisto, o trabalho de engenharia de Aiash, na fabricação de explosivos foi fundamental. Novamente, apesar de serem artesanais, seu conhecimento especializado foi fundamental para que os explosivos fossem eficazes, eficientes e de fácil manuseio.
O revolucionário palestino teria construído as bombas utilizado em vários atos de resistência praticados pelo Hamas na década de 1990, nomeadamente: o atentado à bomba em Mehola Junction; o atentado ao ônibus Afula, a explosão da estação central de Hadera, o atentando ao ônibus 5 de Telavive; o atentado ao ônibus Egged 3; o realizado contra o ônibus Ramat Gan 20 bombardeio e o atentado ao ônibus 26, em Jerusalém. Ademais disto, vale frisar que prestou importante serviço à Jiade Islâmica, outro grupo que conforma a resistência palestina. Isto se deu 1995, como parte de uma aliança entre o grupo e o Hamas. Na ocasião, Aiash fabricou os explosivos que foram utilizados no ataque suicida que resultou na aniquilação de 20 soldados israelenses, na Junção de Beit Leid.
Em razão de sua militância revolucionária em prol do povo palestino, e sua luta por libertar-se da ditadura de “Israel”, tornou-se um dos principais alvos do Estado sionista.
Assim, em 1995, com o assassinato de do primeiro-ministro de “Israel”, Isaque Rabin, por um sionista de extrema-direita, a ditadura aproveitou-se da oportunidade para aprofundar seu cerco contra os mais aguerridos militantes do Hamas e da resistência palestina. Utilizou-se, para isto, da recém criada Autoridade Palestina (resultado da capitulação da OLP e da Fatá nos Acordos de Olso), que, cooperando com o Shin Bet (umas das agências de espionagens do sionismo) desatou uma perseguição contra Aiash.
Então, às 8h do dia 5 de janeiro de 1996, o fundador das Brigadas Al-Qassam foi assassinado pelo Shin Bet, através de um explosivo colocado em um telefone que havia sido lhe dado por seu primo Osama Hamad. Segundo historiadores, o telefone chegara as mãos de Hamad através de seu pai, Kamil, quem era informante do Shin Bet, em troca de cidadania israelense.
Assim, como se deu com o recente assassinato de Salé al-Arouri, “Israel” assassinou Iahia Abd-al-Latif Aiash de maneira traiçoeira e covarde.
Contudo, isto não foi suficiente para barrar o avanço da resistência palestina. Muito menos para fazê-los esquecerem do fundador das Brigadas Al-Qassam. O legado de Aiash continua vivo, afinal, os membros da brigadas frequentemente referem-se a si como “estudantes de Aiash”, “estudantes do engenheiro”, “Unidades de Iahia Aiash”, ou mesmo “Discípulos de Iahia Aiash”.
Crise de 2006: Hamas derrota o Fatá nas eleições
Publicado originalmente em 25 de outubro de 2023
Desde o início do mais recente conflito entre Israel e Palestina, que cada vez mais se configura em um genocídio perpetrado pelos sionistas, o imperialismo, sua imprensa, seus lacaios e ingênuos seguem a afirmar que o Hamas não é um representante do povo palestino, que é mais um grupo terrorista, e que a guerra seria contra ele, por causa do ataque “terrorista” do dia 7.
Trata-se de mais uma falsificação da máquina de propaganda sionista, segundo a qual, o representante real dos palestinos seria a Autoridade Palestina, encabeçada pelo Fatah, este parte da OLP. Os três são presididos por Mahmoud Abbas. O próprio fato de os jornais imperialistas e sionistas sustentarem ser a AP e o Fatah os representantes do povo palestino, e não o Hamas, é um indicativo que pode muito bem ser o Hamas o verdadeiro representante. Mas é necessário ir além da lógica.
Para isto, deve-se voltar um pouco no tempo. A 2006, ano das últimas eleições na Palestina, para o Conselho Legislativo da Palestina. Sim, as últimas. Desde então a realização de novas eleições não foram permitidas. Logo ficará claro a razão disto.
O que ocorreu em 2006? No que diz respeito a partidos, os principais concorrentes foram o Fatah (como parte da OLP) e o Hamas.
O resultado? Hamas saiu vencedor. Dos 132 assentos, conquistou 74, enquanto que o Fatah conquistou apenas 45.
Ou seja, o Hamas se tornou o principal representante parlamentar do povo palestino, tanto em Gaza, quanto na Cisjordânia.
Isto foi uma formalização da realidade que o Hamas já representava os palestinos fora do parlamento.
Por muitos anos o Fatah e a OLP foram as principais lideranças da luta pela libertação nacional palestina. Não dizendo que outras organizações como o próprio Hamas, a Jihad Islâmica, a PFLP e a DFLP não tivessem importância. Tiveram, afinal, participaram da Primeira Intifada. Mas o Fatah e a OLP encabeçavam a luta. E sua figura mais conhecida era Yasser Arafat.
Contudo, em razão da política capituladora das organizações e de suas lideranças nos anos 1990, em especial nos Acordos de Paz de Oslo, segundo os quais a OLP e o Fatah aceitaram o direito do Estado de Israel à existência como uma das primeiras obrigações do acordo, o apoio dos palestinos a elas declinou.
Já o Hamas (e a Jihad Islâmica, a título de curiosidade), possuem a posição política de que o Estado de Israel não deve existir. Rejeitam os Acordos de Oslo. O que, certamente, está em mais consonância com os anseios da população palestina, que é cotidianamente esmagada pelo sionismo.
No período anterior às eleições de 2006, foi o Hamas o elemento ativo a encabeçar a Segunda Intifada, conflito que resultou da repressão do sionismo contra palestinos que protestavam pacificamente contra a afronta de Ariel Sharon, líder da oposição israelense, pelo puro oportunismo de ter visitado a mesquita de al-Aqsa na ocasião do fracasso dos acordos de paz de Camp David, quando Ehud Barak era primeiro-ministro.
Após as eleições de 2006, com a vitória do Hamas, o sionismo e o imperialismo de conjunto impuseram sanções à Palestina, inclusive à ajuda humanitária que era enviada. Condicionou o fim da suspensão a que o Hamas se comprometesse a aderir a princípios pacifistas, de não violência. Mostrando que é, de fato, um grupo a ser admirado, o Hamas não se sujeitou a isto.
As sanções não foram levantadas, mas foi criado um mecanismo para que a ajuda internacional que deveria ir para a nova Autoridade Palestina, na figura de Ismail Haniyeh, do Hamas, fosse para Mahmoud Abbas, do Fatah/OLP, quem havia perdido as eleições. Justamente as organizações conciliadoras/capituladores perante o sionismo.
Em suma, o imperialismo e o sionismo não queriam que o Hamas tomasse o poder em todo o território da Palestina, Gaza e Cisjordânia. Aliás, em nenhum lugar. Assim, jogaram o Fatah contra o Hamas e deram início a um conflito, que eventualmente resultou em o Hamas ficando oficialmente com poder político na Faixa de Gaza, e o Fatah/OLP na Cisjordânia.
Contudo, na Prática, o Hamas permanece representando mais o povo palestino do que o Fatah. O partido islâmico permanece com 73 assentos no parlamento, enquanto o Fatah com 43. Não há eleições na Palestina desde o ano de 2006, o que demonstra o receio do sionismo e do imperialismo com o crescimento do Hamas e demais partidos/organizações revolucionários. Sobre a OLP/Fatah eles já estabeleceram controle. Já sobre o Hamas, a Jihad Islâmica e demais organizações que realizaram a ação do dia 7, não. E provavelmente não irão tão cedo.
Havia eleições programadas 22 de maio de 2021, mas foram adiadas indefinidamente em 29 de abril. Por quem? Por Mahmoud Abbas, o que é mais uma evidência do fato de o Hamas ser o verdadeiro representante dos palestinos.
A evolução do Hamas, da Intifada à Operação Al-Aqsa
Publicado originalmente em 17 de novembro de 2023
Em 1987, uma verdadeira rebelião popular explode no extremo norte da Faixa de Gaza contra a ocupação de tropas sionistas. O processo desencadeado é um marco que promoveu uma mudança importante nos rumos da luta do povo palestino. Por um lado, termina com a degeneração total e completa da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), expressa pelos “Acordos de Oslo”. E, por outro, dá origem ao Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas (sigla em árabe), que promoveria, no último dia 7 de outubro, incursões inéditas com foguetes contra alvos militares e estratégicos de Israel, principalmente na costa banhada pelo Mar Mediterrâneo.
Antecedentes à fundação do Hamas
Antes da Primeira Intifada (termo em árabe que se refere a esse tipo de revolta popular), também conhecida como Guerra das Pedras, todo território palestino estava sob o domínio do regime de Israel como resultado da Guerra dos Seis Dias ou Terceira Guerra Árabe-Israelense, iniciada em 5 de junho de 1967. Neste conflito, que envolveu países árabes, o Egito não perdeu somente o controle sobre a Faixa de Gaza, como também da Península do Sinai. Da mesma forma, a Jordânia perdeu controle sobre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. E a Síria, que buscara se unificar ao Egito para formar a República Árabe Unida, terminou sem as Colinas de Golã.
Nascido em 1936, Ahmed Ismail Hassan Yassin, o futuro fundador do Hamas, foi obrigado a se refugiar junto com seus familiares, em virtude da limpeza étnica que atingiu seu povoado como resultado da Primeira Guerra Árabe-Israelense em 1948, para o campo de al-Shati em Gaza. O líder espiritual começou a influenciar e ganhar seguidores depois que se tornou professor de língua árabe numa escola primária. Em 1973, o líder espiritual fundara o Centro Islâmico (Mujama al-Islamiya), que era ligado à Irmandade Mulçumana, uma instituição de orientação sunita dedicada a realização de obras de caridade. Esta organização foi constituída no Egito em 1928 e se estabeleceu em mais de 70 países com o objetivo retomar os ensinamentos do Alcorão rejeitando qualquer influência do imperialismo.
Em 1984, o xeique Ahmed Yassin planejaria organizar com os futuros líderes do Hamas, com destaque para Ibrahim Makadmeh e o xeique Salah Mustafa Muhammad Shehade, uma resistência armada para combater o regime sionista. Yassin foi condenado a 13 anos de prisão por armazenar armas secretamente, outros membros do grupo também terminariam presos. No ano seguinte, a libertação de Yassin e também cerca de outros 1.150 prisioneiros do regime sionista aconteceu através do Acordo de Jibril, o qual somente se tornou possível a partir do sequestro realizado pela Frente Popular para a Libertação Palestina – organização nacionalista sediada na Síria – de três agentes do Instituto de Inteligência e Operações Especiais do Estado de Israel – análogo à CIA e conhecido como Mossad -, durante a Primeira Guerra do Líbano.
No ano de 1986, Shehade formaria uma rede células de resistência denominadas al-Mujahidun al-Filastiniun (Combatentes Palestinos), que funcionaria até 1989 tendo como operação mais conhecida o sequestro e morte de dois soldados sionistas.
A Primeira Intifada, o surgimento do Hamas e das Brigadas Al-Qassam
Diante de tamanha violência e humilhação impostas contra o povo palestino pelo regime sionista, em 8 de dezembro de 1987, após um caminhão militar israelense colidir propositalmente com um veículo que resultaria na morte de quatro palestinos, uma gigantesca insurreição seria iniciada no campo de refugiados de Jabalia, a Primeira Intifada. Apenas dois dias depois de irromper a fúria que arrastaria toda uma população a enfrentar balas e tanques com paus e pedras, seria fundado o Movimento de Resistência Islâmica por Ahmed Yassin e Abdel Aziz al-Rantisi – este seria o representante da ala paramilitar da Irmandade Mulçumana Palestina. A fundação do Hamas resultaria em nova prisão do xeique Yassin, afinal, tamanha afronta contra o Estado genocída de Israel não poderia ser perdoada pelos sionistas e seu “crime” mereceria nada menos que reclusão perpétua.
O desenvolvimento desse processo que marca o surgimento do partido, que se tornaria o principal inimigo do imperialismo em território palestino nos dias atuais, também seria marcado pela deterioração total que transformaria a OLP numa espécie de polícia do movimento da resistência palestina. O Movimento de Libertação Nacional da Palestina, o Fatá (sigla em árabe), que liderava essa frente constituída por uma dezena de outras organizações em 1964, abandonaria a luta pelo fim do regine sionista e de uma Palestina soberana, laica e multiétnica para reconhecer, em 1988, a legitimidade do Estado de Israel. A proposta elaborada em 1947 de criação de um Estado para os judeus, que o imperialismo impôs através da ONU (Organização da Nações Unidas), em território palestino parecia, finalmente, estar concluída.
Em outubro de 1990, no Monte do Templo, território considerado sagrado, onde se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, mulçumanos buscaram impedir uma provocação sionista e a polícia israelense assassinou dezessete palestinos. Diante desse acontecimento, o Hamas declarou uma jihad, guerra e vingança, contra todos soldados sionistas. É neste clima que, em 1991, foi criado o braço militar do Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam. O nome das brigadas se trata de uma homenagem ao xeique nacionalista e fundador da organização Mão Negra, cuja morte em 1935 pela polícia britânica provocou a Grande Revolta Árabe de 1936-1939 contra a ocupação colonial do imperialismo.
O Hamas realizaria inúmeros ataques contra alvos israelenses utilizando explosivos em grande escala e uma série de operações de guerrilha buscando estimular a continuidade da intifada e impedir um acordo da OLP com o regime sionista. Outros grupos minoritários da OLP também defenderam de maneira intransigente a resistência armada contra a criação do Estado de Israel em território palestino, a cisão dentro do movimento das forças reais da Palestina se tornara cristalina.
A traição de Yasser Arafat e o processo de ascensão do Hamas
A ação do Hamas não evitou que acordos entre o general Yitzhak Rabin, então primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina e do Fatá, fossem firmados em Oslo, capital da Noruega, sob a “mediação” do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, no dia 13 de setembro de 1993. Esse acontecimento marcaria o fim da Primeira Intifada e também a transformação da “autoridade palestina” num serviçal do regime sionista e consequentemente do imperialismo. A deposição das armas da OLP para adoção de uma política de negociação e de reconhecimento do Estado de Israel nunca teve qualquer garantia de um território e exército próprio, de Jerusalém como sua capital, comercio exterior, impostos, redes de distribuição de energia e de abastecimento de água.
A partir da traição do líder do Fatá, a OLP ficaria com o compromisso de garantir a “paz” na Palestina: sua responsabilidade passaria a ser o policiamento da resistência armada palestina, tudo para garantir uma tranquila ocupação aos sionistas. O Fatá entregaria o controle de todo o país e, em contrapartida, teria o status de “Autoridade Palestina”, algo que não garante soberania nenhuma à Palestina.
A capitulação do Fatá diante da situação facilitaria ainda mais o caminho para o Hamas conquistar a preferência de setores mais radicalizados, principalmente os envolvidos na intifada e da Faixa de Gaza, onde está presente a Irmandade Mulçumana que financia construção de escolas, hospitais, cultura e assistencialismo.
Em fevereiro de 1994, o médico israelense Baruch Goldstein, vestido com o uniforme do exército sionista, assassinou vinte e nove palestinos no Túmulo dos Patriarcas de Hebron (Cisjordânia). A mobilização dos palestinos contra a ocupação do regime sionista também seria reprimida pela polícia de Israel, que deixaria outros dezenove palestinos mortos. Enquanto Hamas buscava dar uma reposta mais contundente com uma série de atentados inclusive contra civis, rompendo com o princípio estabelecido pela própria organização de atacar somente combatentes, a suposta autoridade palestina era pressionada por Israel a busca uma solução.
Uma curiosidade sobre Goldstein: ele é um colono norte-americano que nasceu no Brooklyn (Nova Iorque) e também pertencia ao grupo Cahane e Kach, que são de orientação fascista e reconhecidos inclusive pelos Estados Unidos e União Europeia como terrorista. O atual ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Bem-Gvir, também esteve ligado a esses grupos, o que esclarece muito sobre o caráter fascista das autoridades israelenses.
Em 1996, o regime sionista adota uma política de eliminação dirigida aos militantes do Hamas. Assim como outros membros do partido, o líder das Brigadas Al-Qassam, Yahya Abd-al-Latif Ayyash, foi assassinado pela Shin Bet (o Serviço de Segurança Interna de Israel, análogo ao FBI dos Estados Unidos). No funeral de Yahya Ayyash, compareceram em torno de 100 mil palestinos, demonstrando todo apoio que o Hamas tem da população. A liderança das brigadas armadas seria transferida para Salah Shehade, que havia formado, em 1986, uma rede de células de resistência dos Combatentes Palestinos.
Em 18 de setembro ano de 2000, eclode a Segunda Intifada, ou Intifada Al-Aqsa. O estopim, dessa vez, foi a visita do então deputado Ariel Sharon ao Monte do Templo, território sagrado onde ocorreu a chacina de dezessete palestinos pela polícia sionista em 1990. O Hamas e os demais grupos armados inclusive ligados ao Fatá promoveram inúmeros atentados contra alvos israelenses, a novidade foi a utilização de foguetes, o que indica a relação do Hamas com Hesbolá – partido que também possui brigadas armadas e que acabava de derrotar Israel no sul do Líbano.
Em 22 de março de 2004, o xeique Ahmed Yassin, que foi libertado pela segunda vez por meio da troca de dois agentes do Mossad capturados em tentativa frustrada de assassinar um líder do Hamas por autoridades da Jordânia em 1997, seria assassinado pelo regime sionista depois de fazer uma proposta de cessar-fogo por 10 anos. O líder espiritual do Hamas buscou negociar um governo palestino na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental – sem exigir o direito dos refugiados de retornar à Palestina, deixando para as gerações futuras. O assassinato de Yassin resultou do disparo de um míssil por um helicóptero no momento de realizar a oração do Farj, a primeira de cinco obrigatórias a partir do amanhecer. O ataque também deixaria seus guarda-costas mortos e transeuntes, 200 mil palestinos compareceram ao seu cortejo fúnebre em Gaza expressando, mais uma vez, o apoio do povo ao Hamas.
No mesmo ano, em 11 de novembro, Yasser Arafat, que foi colocado numa solitária em Ramallah por dois anos até sua morte pelo regime sionista. Depois do início da Segunda Intifada, Israel havia paralisado os fundos para o Fatá e também sabotado os Acordos de Oslo. Arafat faleceu após um coma e não se sabe ao certo as causas da morte.
A revolta dos palestinos perdurou até 8 de fevereiro de 2005, quando ocorreu a Conferência da paz de Sharm el-Sheikh, realizada na Província do Sinai do Sul (Egito). O saldo de mortos no conflito foi de aproximadamente 5 mil palestinos e cerca de mil israelenses. Além disso, Israel prendeu em torno de 7.366 palestinos e destruiu cerca de 3.700 residências de famílias palestinas.
Um semestre antes das eleições para o legislativo em 2006, Ariel Sharon, neste momento primeiro-ministro de Israel, retira as tropas sionistas de Gaza. Depois de boicotar as eleições presidenciais de 1996 e de 2005, o Hamas decide disputar vagas para o Congresso. O imperialismo e Israel buscam de todas as formas impedir a vitória do Hamas e, apesar de todo financiamento ao Fatá, o objetivo fracassa. O Hamas se torna o partido majoritário no parlamento conquistando 76 de um total de 132 cadeiras, contra 43 ocupadas pelo Fatá.
A vitória acachapante do povo palestino sobre imperialismo sofre um revés, os Estados Unidos e União Europeia não aceitam o resultado e Israel. Além de banir as eleições para evitar que o Hamas conquiste também a presidência, indica de maneira ditatorial o Fatá como autoridade palestina. Após as eleições, o Hamas havia proposto novamente uma trégua de 10 anos e reconhecimento do território palestino. Mesmo em rota de colisão com Fatá, o Hamas havia chegado a um acordo sobre as eleições, mas o imperialismo não permitiu o pacto. Os partidos voltam a se chocar e o Fatá termina expulso da Faixa de Gaza e sua autoridade ficaria restrita à Cisjordânia. Evidentemente esse fato obriga o regime sionista a suspender os repasses financeiro para os palestinos na Faixa de Gaza, isso porque o Hamas se tornar autoridade legítima dos palestinos.
A inédita operação Dilúvio de Al-Aqsa
É neste contexto que ocorre a vitoriosa operação Dilúvio Al-Aqsa, na qual a coalizão de organizações armadas liderada pelo Hamas, pela primeira vez na história, faz com que cerca de 3 mil foguetes furem a defesa de Israel. Os ataques contra alvos militares e estratégicos do Israel se deram principalmente em cidades no entorno da Faixa de Gaza, como Ashkelon, e ao logo da costa com Mar Mediterrâneo principalmente na região do Sharon, que compreende a capital Tel Aviv, mas também Herzliyya, ao norte do Distrito de Tel Aviv, e Gedera, no Distrito Central, ao sul de Tel Aviv.
A operação executada no dia 7 de outubro deste ano expôs a fragilidade da defesa de Israel. Diante da derrota, o governo de Benjamin Netanyahu decidiu lançar bombas deliberadamente sobre os civis palestino desde então. O regime sionista cometeu vários crimes de guerra como a utilização de fósforo branco, também emboscadas a refugiados, além de corte do fornecimento de energia elétrica e água, bombardeou armazéns de alimentos. Mais de 12 mil palestinos foram assassinados, dos quais mais de 5 mil eram crianças, que junto com as mulher correspondem a mais de 70% deste total.
Apesar dessa toda essa destruição principalmente na região norte da Faixa de Gaza, em terra, os números são muito favoráveis para o Hamas, tendo abatido dezenas de tanques – somente na última quarta-feira foram 20. Quanto mais tempo o Hamas resistir, mais perto estará a sua vitória e de toda população oprimida do mundo. É preciso que os países árabes apoiem militarmente os palestinos para acabar de uma vez com a ocupação sionista, as organizações populares de todo mundo devem sair às ruas em solidariedade à Palestina e apoio ao Hamas. Os setores oprimidos devem exigir de seus governos a ruptura imediata das relações com o estado sionista, além da expulsão de todas os representantes de Israel.